sexta-feira, 23 de maio de 2025

O dólar pressionado e o mega-ajuste – Celso Ming

O Estado de S. Paulo

A deterioração da qualidade dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos (treasuries) atestada pelas três maiores agências de avaliação de risco (Moody’s, Fitch e S&P), e pelo perigoso aumento da dívida dos Estados Unidos, que ultrapassou os US$ 36 trilhões, começa a produzir mudanças na estratégia dos investimentos por parte dos bancos centrais, e dos administradores de fundos e de carteiras individuais.

Nem o dólar nem os treasuries oferecem a mesma segurança de antes, quando se tornaram porto seguro nas situações de crise e de fuga de capitais. O mercado financeiro internacional já recorre à diversificação de suas posições.

Antes de prosseguir, uma questão preliminar. Consultores de investimento, bancos e administradores de carteiras costumam classificar os investidores em três categorias: conservadores, moderados e arrojados ou agressivos. Essa divisão pode lá ter ajudado a definir uma estratégia inicial de opção, mas não serve mais para estes tempos de transição e alta volatilidade. Se o cavaleiro se põe a dançar um samba, quando a orquestra toca um bolero, acaba por pisar no pé da dama. Não pode se apegar definitivamente a posições rígidas do passado. Tem de ser conservador quando é hora de fugir do risco e partir para o risco quando for hora para isso. Portanto, tem de acompanhar de perto a dança dos ativos e ter flexibilidade e agilidade para definir sua posição. É a passarinhada atenta a qualquer ruído suspeito no meio da mata.

A partir do momento em que o dólar e os treasuries deixam de ser a referência em segurança, passou a ser inevitável diversificar as aplicações de poupança por parte dos grandes bancos centrais, dos administradores de fundos e de carteiras e também do investidor comum. Aquele que acumula patrimônio para sua aposentadoria, por exemplo, já deveria ter percebido que tem de dançar conforme a música. Não se trata de revogar os conceitos de investimentos conservadores ou arriscados, mas de estar pronto a redefinir os ativos que devam ser considerados investimentos conservadores ou arriscados.

Ainda não está clara a direção dos ajustes monetários e financeiros, aparentemente profundos, por que passará a economia mundial. A menos que os Estados Unidos se decidam por uma reviravolta em sua política fiscal – o que parece improvável –, é praticamente certo que volumes cada vez mais relevantes da enorme de poupança global se deslocarão à procura de novas opções.

O mercado imobiliário poderia ser uma delas, mas tem histórico vulnerável, como mostrou a crise das subprime (crise das hipotecas) em 2007 e 2008, e a do mercado interno da China, que continua periclitante. Ouro e outras moedas fortes são escolhas limitadas pelo baixo volume disponível. E as criptomoedas são ativos de credibilidade ainda em construção. E o que mais? Ora, quem sobreviver, verá.

 

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