O Estado de S. Paulo
A deterioração da qualidade dos títulos do
Tesouro dos Estados Unidos (treasuries) atestada pelas três maiores agências
de avaliação de risco (Moody’s, Fitch e S&P), e pelo perigoso aumento da
dívida dos Estados Unidos, que ultrapassou os US$ 36 trilhões, começa a
produzir mudanças na estratégia dos investimentos por parte dos bancos
centrais, e dos administradores de fundos e de carteiras individuais.
Nem o dólar nem os treasuries oferecem a mesma segurança de antes, quando se tornaram porto seguro nas situações de crise e de fuga de capitais. O mercado financeiro internacional já recorre à diversificação de suas posições.
Antes de prosseguir, uma questão preliminar.
Consultores de investimento, bancos e administradores de carteiras costumam
classificar os investidores em três categorias: conservadores, moderados e
arrojados ou agressivos. Essa divisão pode lá ter ajudado a definir uma
estratégia inicial de opção, mas não serve mais para estes tempos de transição
e alta volatilidade. Se o cavaleiro se põe a dançar um samba, quando a
orquestra toca um bolero, acaba por pisar no pé da dama. Não pode se apegar
definitivamente a posições rígidas do passado. Tem de ser conservador quando é
hora de fugir do risco e partir para o risco quando for hora para isso.
Portanto, tem de acompanhar de perto a dança dos ativos e ter flexibilidade e
agilidade para definir sua posição. É a passarinhada atenta a qualquer ruído
suspeito no meio da mata.
A partir do momento em que o dólar e os
treasuries deixam de ser a referência em segurança, passou a ser inevitável
diversificar as aplicações de poupança por parte dos grandes bancos centrais,
dos administradores de fundos e de carteiras e também do investidor comum.
Aquele que acumula patrimônio para sua aposentadoria, por exemplo, já deveria
ter percebido que tem de dançar conforme a música. Não se trata de revogar os
conceitos de investimentos conservadores ou arriscados, mas de estar pronto a
redefinir os ativos que devam ser considerados investimentos conservadores ou
arriscados.
Ainda não está clara a direção dos ajustes
monetários e financeiros, aparentemente profundos, por que passará a economia
mundial. A menos que os Estados Unidos se decidam por uma reviravolta em sua
política fiscal – o que parece improvável –, é praticamente certo que volumes
cada vez mais relevantes da enorme de poupança global se deslocarão à procura
de novas opções.
O mercado imobiliário poderia ser uma delas,
mas tem histórico vulnerável, como mostrou a crise das subprime (crise das
hipotecas) em 2007 e 2008, e a do mercado interno da China, que continua
periclitante. Ouro e outras moedas fortes são escolhas limitadas pelo baixo
volume disponível. E as criptomoedas são ativos de credibilidade ainda em
construção. E o que mais? Ora, quem sobreviver, verá.
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