Dilma Rousseff tem se empenhado para fazer do início de seu mandato uma vitrine de valorização da mulher. A despeito do cálculo de marketing implicado no esforço, o resultado é positivo e joga a favor de uma sociedade mais emancipada. Ainda na sexta, a presidente recebeu no Alvorada mais de 30 cineastas e artistas, além de jornalistas, todas mulheres.
Nesse mesmo espírito, a edição de 20 anos da revista "Marie Claire" reuniu as nove ministras mulheres do governo. Fez com cada uma delas pequenas entrevistas, entre as quais há apenas uma pergunta comum: "A senhora é a favor da legalização do aborto?".
É surpreendente que apenas duas delas -Miriam Belchior (Planejamento) e Ana de Hollanda (Cultura)- tenham respondido, sem eufemismos: "Sou". Há matizes nas demais respostas. Mas mesmo aquelas que se inclinam pela legalização tergiversam, procuram meios de atenuar sua posição, como se pisassem em ovos.
Há também respostas francamente escapistas, como a de Ideli Salvatti (Pesca): "Sou a favor da vida.
Não só dos fetos, mas também das mulheres que correm risco ao fazer abortos em clínicas clandestinas". Esqueceu de dizer que também é a favor das ovas de peixes...
Luiza Bairros (Igualdade Racial) vai mais longe ao explicitar seu constrangimento: "Essa coisa de opinião pessoal de ministro causa problema. A forma como isso foi tratado nas eleições é um problema!". De fato. É um problema que respostas como essa não enfrentam, ajudando a reforçar o tabu.
José Serra explorou o tema na campanha da forma mais obscurantista. Apelou à convicção religiosa do eleitorado, apesar de saber que se trata de um grave problema de saúde pública. Dilma, que já havia defendido a legalização, recuou e aceitou o debate nesses termos. Essa é uma discussão que regrediu no país.
Basta ver o comportamento das ministras do governo da primeira presidente mulher do Brasil.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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