Em meio à crise com a base aliada, presidente fará agradecimento especial ao Congresso durante evento oficial
Vera Rosa
Depois de enfrentar um tsunami político, com motins variados na base de sustentação do governo, a presidente Dilma Rousseff fará o primeiro gesto público para contornar a crise na próxima terça-feira. Ao participar de sessão solene em homenagem ao Dia da Mulher, no plenário do Senado, Dilma adotará não só discurso de exaltação à força feminina como colocará panos quentes na brigalhada, com agradecimento especial ao Congresso.
Sem passar recibo do inferno astral que se abateu sobre o Palácio do Planalto, com rasteiras na política, derrapada no crescimento econômico e focos de incêndio na caserna, a presidente está disposta a mesclar a fama de durona com a imagem de mulher sensível. É, na prática, mais uma tentativa de soldar a fraturada base aliada e virar a página da rebelião, liderada pelo PMDB, com um afago aos deputados e senadores.
Na quarta-feira, após saber que o Senado rejeitara a recondução de Bernardo Figueiredo ao comando da ANTT, Dilma não conteve a irritação. Cientes de que Figueiredo é muito próximo da presidente, os insatisfeitos com a falta de "atenção" do governo - palavra que resume o inconformismo com a ausência de cargos - decidiram dar o troco.
Dilma estava no Palácio da Alvorada quando foi informada da derrota. Auxiliares tentaram contemporizar, sob o argumento de que se tratava de TPE (Tensão Pré-Eleitoral), mas, na mesma hora, ela pediu à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que segurasse a liberação do dinheiro destinado às emendas parlamentares.
No dia seguinte, porém, em conversa com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), Dilma se rendeu às evidências: viu que, para acalmar a base, será necessário abrir o cofre. As emendas estão congeladas por causa do corte de R$ 55 bilhões no Orçamento.
"Quando o governo passa por dificuldades e não tem dinheiro para emendas, o negócio é cafezinho, tapinha nas costas e muita conversa", ensina o líder do PR no Senado, Blairo Maggi (MT). "Lá na Câmara o PMDB fez um manifesto contra o PT e aqui fez o serviço todo", ironizou ele.
É a receita de Maggi que a presidente Dilma pretende seguir, agendando reuniões com bancadas de partidos aliados. "O PMDB foi desleal conosco e nossas relações estão estremecidas", admite o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). "É como se nós fôssemos soldados numa guerra, sem saber se a tropa que o general comanda está ajudando ou vai atirar contra a gente."
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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