Dirigentes dos partidos de sustentação da presidente consideram que petistas ‘levam muita vantagem’; autonomia dos ministros e liberação de emendas são as principais reivindicações
João Domingos
BRASÍLIA - Rebelados com o governo, os principais dirigentes dos partidos integrantes da coalizão da presidente Dilma Rousseff querem um novo modelo de relacionamento com o Palácio do Planalto, com menos poder para o PT, mais diálogo entre os parlamentares e o cumprimento das promessas de liberação das emendas parlamentares. Insatisfeita com a articulação política e com atitudes do PT, a base aliada impôs uma derrota política a Dilma na semana passada ao rejeitar a indicação de Bernardo Figueiredo com diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Os aliados acham que o PT leva muita vantagem sobre os demais 16 partidos da coalizão na ocupação dos espaços e nos dividendos políticos de realizações do governo.
O PMDB - porta-voz do descontentamento geral - reclama que não recebe crédito por programas bem-sucedidos do governo, embora contribua para aprová-los. Gaba-se de ser mais fiel que o PT. Cita a aprovação do Fundo de Previdência dos Servidores (Funpresp) na Câmara, quando registrou só três votos contrários ao governo. O PT teve oito dissidentes.
O PMDB reivindica também maior autonomia sobre os ministérios que comanda: Agricultura, Assuntos Estratégicos, Minas e Energia, Previdência e Turismo. "Ao contrário dos ministérios do PT, como Saúde e Educação, e do PSB, como Integração Nacional, nossos ministérios não dispõem de verbas para que possamos anunciar obras nos municípios. Ficamos na dependência do PT", afirma o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).
O problema, de acordo com os peemedebistas, é que mesmo nessa situação, sem poder anunciar obras nem convênios, os ministérios ainda são tutelados. O titular da Agricultura, Mendes Ribeiro, não pode fazer nada sem consultar as ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais). O mesmo ocorre com o Ministério do Turismo. O ministro Gastão Vieira vive sob vigilância.
"São essas coisas que têm de mudar. O PT não pode fazer festa só para os petistas. Tem de compartilhar o anúncio dos convênios e obras com todos os partidos", critica Henrique Alves. Ele lembra ainda que no final do ano passado houve um acordo do qual participou a ministra Ideli Salvatti, segundo o qual as emendas dos parlamentares seriam liberadas. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou o corte de todas essas emendas.
Lacuna. Na opinião dos dirigentes de partidos aliados, falta ao governo encontrar um substituto para o ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil), obrigado a sair do governo em junho passado depois da revelação de que teria multiplicado seu patrimônio por 20 vezes em quatro anos.
Na época de Palocci, comenta um peemedebista, ele recebia a lista de reivindicações e dizia: "Vamos com calma. Não consigo tirar algo da presidente no primeiro encontro. Temos de negociar por umas três ou quatro vezes. Mas fiquem tranquilos que tudo será atendido." Com Palocci, as nomeações saíram. Depois que foi embora, suspeita-se até de que as listas de pedidos entregues a ele desapareceram.
Lá e cá. Com 37 deputados e sete senadores, o PR vive uma situação dúbia. Não sabe se é governo ou se é independente. Aguarda o pagamento da promessa de um ministério. Embora a pasta dos Transportes tenha sido entregue a Paulo Sérgio Passos, filiado ao PR, os parlamentares da legenda não se sentem obrigados a votar com o governo, porque não se consideram representados pelo ministro.
Para o líder do PR, Lincoln Portela (MG), o problema do governo é a "hermenêutica". "Ninguém do governo se entende com o Congresso. É preciso encontrar uma forma de falar que seja comum aos dois lados." Entre os exemplos da falha na "hermenêutica", Portela cita a liberação de emendas. "O governo não cumpre a lei e não libera o dinheiro das emendas para as obras."
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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