A irritação do ex-presidente Lula com o cerco da Lava- Jato chegou ao auge e se tornou a gota d’água para a saída do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que será substituído pelo ex- procurador de Justiça da Bahia Wellington César. A presidente Dilma fez o gesto, segundo assessores, para acalmar Lula, que vê a máquina do governo trabalhando contra ele.
Sob pressão de Lula e do PT, Dilma tira de Cardozo o comando da PF
• Para o Ministério da Justiça vai procurador da Bahia ligado a Wagner
Simone Iglesias, Catarina Alencastro, Eduardo Barretto - O Globo
- BRASÍLIA- Desgastado com as pressões do PT e do ex- presidente Lula, que exigia maior controle sobre as investigações da Polícia Federal na Operação Lava- Jato, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deixou o cargo. Pessoas ligadas a Lula no governo admitem que a saída de Cardozo foi um gesto que a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a fazer para acalmar o ex-presidente e o PT. No lugar de Cardozo, assumirá Wellington César de Lima e Silva, ex-procurador de Justiça da Bahia, indicado pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, a quem é ligado. A presidente aceitou o pedido de demissão de Cardozo.
Segundo um auxiliar de Dilma no Planalto, esgotou- se a paciência de Lula, que considera existir uma máquina trabalhando contra ele. Diante do esgarçamento da relação, o ex-presidente espera agora que Dilma faça demonstrações em favor dele, sob pena dele “soltar as rédeas do PT” para ataca-la. Exonerar Cardozo foi o primeiro passo. O próximo, segundo esperam os petistas, é que ela faça uma mudança de rota na política econômica.
No lugar de Adams
Cardozo vai para a Advocacia-Geral da União, em substituição a Luís Inácio Adams, que deixou o cargo ontem. Cardozo vinha ameaçando entregar a pasta desde o ano passado, mas não queria abandonar o governo. Uma pessoa próxima a ele conta que, longe da Lava- Jato e da ira do PT e de Lula, Cardozo tentará construir uma indicação ao Supremo.
No entanto, o próximo ministro a se aposentar compulsoriamente será Celso de Mello, e só em 2020.
As críticas que Cardozo sofreu no diretório nacional do PT, na sexta-feira e no sábado, tornaram-se o estopim para a saída. A pessoas próximas, o ministro disse que não tinha mais condições de ficar no cargo pelas pressões que vinha sofrendo. Ele fez críticas ao PT, partido ao qual é filiado, por “exigir” interferências na Lava- Jato. Por outro lado, o discurso que Dilma adotou para responder aos questionamento sobre as investigações é o de que a PF tem autonomia para trabalhar, o que, segundo ela, não acontecia em governos anteriores ao do PT.
Ontem, depois das duas reuniões com Dilma, Wagner e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), Cardozo foi para casa e voltou no meio da tarde para nova conversa com a presidente, no Palácio do Planalto. Sua posse na AGU ocorrerá quinta-feira, assim como a de Wellington na Justiça. Dilma também aproveitou para nomear o novo ministro da Controladoria-Geral da União, Luiz Navarro. A pasta estava sem titular desde que Valdir Simão foi para o Planejamento.
Wagner sai em defesa de Lula
Depois de oficializadas as mudanças pela presidente, numa nota oficial, Wagner fez a defesa de Lula nas redes sociais. Utilizando a festa de aniversário de 36 anos do PT como contexto, afirmou que o ex-presidente continua “forte e resiliente” e “jamais se intimidará”. O ministro publicou foto que mostra Lula discursando, de punho erguido, com a frase: “Se quiserem me derrubar, vão ter que me enfrentar na rua. Se for necessário, em 2018 eu volto a disputar a eleição”.
O diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, não sairá automaticamente. Segundo pessoas próximas, ele ficará no cargo, pelo menos, até agosto.
Desde o ano passado envolvido com a defesa de Dilma no Tribunal de Contas da União no caso das “pedaladas fiscais”, Adams deixou para Cardozo e para a coordenação jurídica da campanha de Dilma a defesa contra o impeachment e do julgamento de suas contas de 2014 no Tribunal Superior Eleitoral.
Na semana passada, quando o PSDB aditou à ação contra Dilma o material referente à prisão do marqueteiro João Santana, ninguém no governo quis contestar a medida. Cardozo divulgou nota oficial repudiando o aditamento. No entanto, após a nota passar pelos gabinetes palacianos, acabou assinada pelo advogado de Dilma, Flávio Caetano, porque o Planalto não quis associar um ministro de Estado diretamente ao caso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário