- O Estado de S. Paulo
É de todo sabido que Dilma entrou tardiamente para o PT, quase que às vésperas da vitória de Lula na eleição de 2002. No seu DNA político encontra-se a marca, muito mais do PDT Brizolista do que a do PT de Lula. Por outro lado, se não fosse o PT e Lula, jamais teria sido eleita em 2010 e muito menos teria alçado ao Planalto para um segundo mandato em 2014. De fato, Lula apostou em uma candidata sem nenhuma experiência política e, pior que isso, sem a capacidade de dialogar com os setores oposicionistas.
Ela não pode responsabilizar o PT e muito menos ainda Lula pelo desastre da política econômica que sustentou durante os quatro anos do seu segundo mandato.
Como consequência dessa mesma política, resolve, no segundo mandato, enveredar pelo caminho de um reajuste fiscal, que joga nas costas dos trabalhadores e da população em geral o preço a ser pago pelos erros do primeiro mandato.
Evidente que a base social que sustenta o Partido dos Trabalhadores jamais concordaria com tal política que, além de não resgatar a credibilidade do País no meio das finanças internacionais, provoca arrocho salarial, inflação e desemprego.
No campo político, perdeu toda a base de sustentação que tinha no Congresso Nacional, por ocasião do primeiro mandato.
Se esperava que com os juros na estratosfera fosse angariar o apoio dos setores que se beneficiam com essa política de juros altos, se enganou. O apoio não veio, e, em contrapartida a dívida interna explodiu ao ponto de várias instituições retiraram do Brasil o título de bom pagador. Há receio generalizado de que a situação do País possa se deteriorar mais ainda. A crise combina falta de apoio na área política com a perda de credibilidade por parte daqueles que poderiam alavancar os investimentos, tão necessários para o emprego volte.
Na crise, quem perde mais são os trabalhadores que não têm como proteger os seus recursos em aplicações financeiras, e nesses setores que o PT e Lula ainda detêm apoio.
Se Dilma romper com o PT/Lula, como vem sendo anunciado pelos meios de comunicação, estará liquidada e, com certeza enfrentará o processo que pretende cassar o seu mandato, conquistado legitimamente no pleito de 2014, apesar da oposição não se conformar, sem quem a defenda nas ruas e no parlamento.
Em resumo, Dilma tem muito a perder se afastando do PT e de Lula, mas se não mudar a sua política econômica, eles é que se afastarão dela, uma vez que o PT e Lula não podem abandonar suas bases de sustentação, ou seja, os movimentos sociais.
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João Cardoso Palma Filho, professor titular de Política Educacional do Instituto de Artes da Unesp
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