- O Estado de S.Paulo
No primeiro time se destacaram Sérgio Moro e Paulo Guedes, cujas falas iniciais, densas, técnicas e bem centradas, confirmam a análise de que serão os pilares e os esteios do governo
Os discursos dos ministros de Jair Bolsonaro nas cerimônias de transmissão de cargos ontem em Brasília evidenciaram a existência de dois grupos na Esplanada. De um lado aqueles dotados de superestruturas, equipes afiadas, metas ousadas e prioridades para alcançá-las. De outro, o grupo escolhido por afinidade ideológica com a agenda conservadora com toques de religião, cujas falas primaram pela retórica sem conteúdo prático.
No primeiro time se destacaram Sérgio Moro e Paulo Guedes, cujas falas iniciais, densas, técnicas e bem centradas, confirmam a análise de que serão os pilares e os esteios de um governo que tem na economia seu maior desafio e na segurança e combate à corrupção suas mais poderosas bandeiras.
Moro começou explicando por que trocou a estável carreira de juiz por uma aposta na política (sim, a missão é em última instância política, por menos que ele goste). Avaliou que poderá avançar em sua agenda primordial, a do combate à corrupção, com a estrutura que terá em mãos.
E demonstrou ter consciência de que deve priorizar também o combate ao crime organizado – o que inclui enfrentar o caos nos presídios e o estrangulamento financeiro das facções – e a segurança pública, tão presente nos discursos de Bolsonaro. Tem cacife, inclusive, para mediar os excessos dos bolsonaristas nesta última seara.
Guedes deu uma aula de liberalismo no longo e nem por isso maçante discurso que proferiu ao assumir a tentacular pasta da Economia. De forma didática e desassombrada demonstrou por que a reforma da Previdência é condição sine qua non para o sucesso do governo e o crescimento sustentável da economia.
Não fez a demonização rasa da agenda anterior, ao reconhecer que a alternância de ciclos econômicos é normal e em alguma medida desejável. E, muito importante, demonstrou ter amadurecido no período da transição ao admitir reconhecer que a tarefa pode desencorajar quem, como ele, não conhece os meandros de Brasília e enaltecer a importância da articulação política e da imprensa para o convencimento da sociedade quanto à agenda liberal.
A precisão de diagnóstico e estratégia da dupla destacou ainda mais a inconsistência do outro grupo, no qual a cereja do bolo foi o discurso confuso, cheio de citações que se pretendiam eruditas, mas eram apenas deslocadas e sem relação umas com as outras, do chanceler Ernesto Araújo. Quando a retórica ideologizada toma o lugar das propostas, o resultado é sempre constrangedor. Seja na esquerda dilmista ou na neodireita bolsonaro-olaviana.
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