quarta-feira, 17 de junho de 2009

Conhecimento e Rejeição

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

"Se o lulismo cresceu tanto, de onde vem a rejeição que sua candidata enfrenta?"

Da recente fornada de pesquisas sobre as eleições presidenciais de 2010, alguns dos resultados que mais chamaram a atenção foram os relativos ao conhecimento e ao nível de rejeição da candidata do PT. Muita gente falou sobre eles, nem sempre considerando com atenção o que os números disseram.

Todas as pesquisas concordaram em alguns pontos. Em primeiro lugar, que Dilma continua a ser muito pouco conhecida, em um nível apenas comparado ao de Aécio Neves. Não por acaso, são os únicos que nunca disputaram eleições nacionais. Mas o fato de serem tão desconhecidos, apesar de um ser governador de Minas Gerais há quase sete anos e a outra a ministra mais visível de Lula, diz muito sobre nossa sociedade e nosso eleitorado.

Em segundo lugar, as pesquisas mostraram que Dilma tem uma rejeição que parece muito grande. Isso assustou alguns de seus possíveis aliados, em mais um sobressalto desde quando Lula os fez engolir a escolha que fez. Não bastasse a ameaça da doença, imaginaram que teriam que carregar uma candidatura pesada.

As oposições saudaram esses resultados com entusiasmo compreensível. Não que fossem números que merecessem foguetes, mas era algo que justificava, pelo menos, uma pequena comemoração, em tempos em que tudo parece sorrir para o governo (como a recuperação de sua popularidade).

Para comentar o que as pesquisas disseram, é preciso observar que, nem sempre, elas podem ser comparadas. Vejamos uma dimensão que não deveria gerar polêmicas, a do conhecimento.

Cada instituto usa uma escala própria para perguntar às pessoas como e quanto conhecem os candidatos. Nenhuma é melhor que as outras e cada uma revela algo um pouco diferente.

No Ibope, 9% dos entrevistados disseram conhecer Dilma bem, saber “muito sobre ela e o que ela já fez”, com outros 27% dizendo que “mais ou menos”. Na Vox Populi, resultados quase iguais, com 12% dos ouvidos dizendo que a “conhecem bem, têm muitas informações sobre ela” e outros 26% que a “conhecem, mas não muito”. O Datafolha divulgou que 21% das pessoas que entrevistou afirmaram que a “conheciam bem”. Na Sensus, a pergunta permitia somente dizer que 33% a “conhecem”, sem especificar se “bem” ou não.

Ou seja, é de cerca de um terço a proporção de eleitores que hoje se sentem confortáveis para dizer que conhecem algo sobre Dilma Rousseff. É muito, se considerarmos que, faz pouquíssimo tempo, essa parcela era perto da metade de agora. Segundo o Datafolha, entre março e maio, os que diziam conhecê-la bem passaram de 12% para 21% , quase dobrando. Mas é pouco, se considerarmos o volume de mídia que lhe foi dedicado nos últimos meses.

Essas proporções têm que ser consideradas na avaliação do tamanho da rejeição ao nome da ministra, sobre o qual os institutos são quase unânimes.

No Ibope, 34% dos entrevistados disseram que “não votariam nela de jeito nenhum para presidente”; na Vox, 31% dos que a conhecem afirmaram não haver “nenhuma possibilidade de votar nela”; na Sensus, o mesmo, com 32% dos que sabem quem ela é afirmando que “não votariam nela de jeito nenhum”.

O curioso desses números é que são muito parecidos com o que foi uma regra em nossas eleições recentes, de 1994 em diante. Em todas elas, um terço do eleitorado dizia que não votaria em Lula ou no PT. E, ao que tudo indica, não votou mesmo, pelo que vimos depois que as urnas foram apuradas, seja quando Lula perdeu ou ganhou.

Há, no entanto, que considerar que o perfil do atual conhecimento de Dilma não é igual ao que ela vai alcançar no fim da campanha. Hoje, ela é muito mais conhecida entre os segmentos de escolaridade e informação mais altos, onde a crítica e a partidirização costumam ser elevadas. À medida que seu conhecimento aumentar nos estratos mais pobres, sua avaliação média pode melhorar.

Mas há uma luz amarela, acesa pelas pesquisas recentes, para a candidatura de Dilma. Os que acham que sua rejeição está alta apenas pelo desgaste generalizado dos políticos, podem se enganar. De bom para ela é que, de abril para cá, sua rejeição caiu, segundo dados da Vox Populi, vindo de 39% para os 31% de agora.

É melhor, mas ainda é muito. Se o lulismo cresceu tanto, de onde vem a rejeição que sua candidata enfrenta?

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