'Já está fichado, mesmo preso? Quem pode, pode, não é?', questiona um funcionário
Fernanda Odilla
BRASÍLIA - Nem mesmo funcionários do hotel onde José Dirceu foi contratado para trabalhar enquanto cumpre pena acham que o petista vai de fato gerenciar o Saint Peter, que tem 427 quartos, vista privilegiada da Esplanada e está a apenas 450 metros da sede do PT.
Orientados a tratar do caso com discrição, os poucos funcionários que se arriscam a falar sobre o futuro gerente abaixam a voz. E classificam a contratação de "maracutaia", "disfarce", "esquema".
Muitos não escondem a indignação sobre o salário de R$ 20 mil na carteira de trabalho já assinada, apesar de Dirceu ainda esperar autorização da Justiça para começar como gerente. "Já está fichado, mesmo preso? Quem pode, pode, não é?", questiona um futuro subordinado.
Na quinta, o pedido de trabalho que permitirá a Dirceu ficar fora da cadeia das 8h às 17h foi enviado para análise da Vara de Execuções Penais para subsidiar a decisão do juiz, que deve sair em 2014.
As piadas sobre Dirceu, condenado a 7 anos e 11 meses por corrupção, são inevitáveis entre os que estarão subordinados ao novo gerente. "Só não mandar ele para o financeiro...", diz um funcionário que aposta que ele ficará numa sala no subsolo.
Se Dirceu assumir a função de gerente do hotel, não vai faltar trabalho no Saint Peter. No restaurante, o vinho oferecido pelo garçom como a estrela da casa é o brasileiro Faces, uma seleção de 11 uvas, por R$ 59. No quarto, um misto quente custa R$ 18, o mesmo preço de um pudim.
Da modesta carta de vinhos ao tapete manchado dos corredores escuros, o hotel não oferece estrutura compatível com o preço de quatro estrelas que cobra: a diária mais barata é R$ 345,45 na quinta.
Com uma equipe meio atabalhoada, instalações modestas e uma reforma que se arrasta há dois anos, o Saint Peter tem como ponto forte a localização. Políticos costumam se hospedar no hotel --o próprio Dirceu já ficou lá.
Caso a Justiça o autorize a trabalhar, o hotel deverá atrair outros políticos e empresários dispostos a dar pelo menos um aperto de mão no petista.
Fonte: Folha de S. Paulo
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