quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Maduro passou um recibo para Lula – Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

O problema é que, até outro dia, Lula jurava que era possível ter uma conversa limpa com o ditador

O governo de Nicolás Maduro atualizou sua lista de inimigos do regime, lacaios da Casa Branca e operadores de uma conspiração contra a Venezuela. Agora, esse rol nada seleto inclui o brasileiro Celso Amorim. A chancelaria de Maduro emitiu uma nota em que chama o assessor de Lula de "mensageiro do imperialismo norte-americano".

Os delírios da ditadura são um recibo em papel passado da mágoa com o governo brasileiro pelo veto à entrada da Venezuela no Brics. Maduro não queria apenas a carteirinha de sócio de um clube frequentado por países influentes. Ele procurava uma credencial para romper o isolamento e lustrar a fraude que comandou para permanecer no poder.

O Brasil frustrou esse plano. Antes da cúpula do Brics, Lula teve uma longa conversa com o chanceler Mauro Vieira. Com a participação no evento cancelada por orientação médica, o presidente instruiu o ministro a seguir adiante com o veto. O martelo havia sido batido na semana anterior, mas o petista não seria mais o portador da notícia.

Maduro sabe que a ordem partiu de Lula. O regime, no entanto, preferiu direcionar suas últimas críticas a Amorim, um operador que liderou a reação do governo brasileiro à fraude na Venezuela de forma cautelosa e, em larga medida, até constrangida. O ditador ainda parece acreditar que a pressão fará Lula acordar um belo dia para ver que está cercado por ianques infiltrados.

Até aqui, o que se tem é o contrário. O episódio alinha as posições de Amorim (que passou a falar em "quebra de confiança" na relação com Maduro), do Itamaraty (que sempre defendeu uma postura menos concessiva) e do presidente (que topou a jogada do veto à Venezuela no Brics). O ataque do regime, com tintas conspiratórias, é um presente adicional para Lula.

Diplomatas enxergam a atitude do presidente e o tom usado pelo regime como uma oportunidade para Lula envergar credenciais democráticas e reduzir a humilhação imposta pelo ditador. Melhor assim. O problema é que Maduro sempre foi desse jeito, e, até outro dia, o petista e seus aliados juravam que seria possível ter uma conversa limpa com o venezuelano.

3 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

Ser criticado por ditador é uma benção!

Anônimo disse...

Como dizem, Lula queria jogar xadrez com o pombo Maduro...

Anônimo disse...

Nas eleições venezuelanas, a narrativa da extrema imprensa era classificar Maduro como extrema direita, como não colou, agora a narrativa vai ser que Maduro rompeu relações com Lula, sabemos que é mentira, mas nas próximas eleições, se não for Bolsonaro quem vai disputar com Lula, essa relação de Lula com Maduro vai tirar alguns milhões de votos do molusco, e como nas duas últimas eleições que o PT ganhou a presidência foi por poucos 1000 votos, essa perda de eleitorado vai fazer a diferença a favor do adversário de Lula, e isso já provoca desespero na extrema imprensa que não vive sem o PIX do planalto......