Folha de S. Paulo
Abstenção e voto nulo podem ser desafios
para campanhas dos dois candidatos ao Planalto
Nenhuma campanha corre atrás de votos sem
se preocupar com o eleitor que pode preferir não votar em ninguém. Aliados de
Jair Bolsonaro veem o risco de uma
abstenção alta entre potenciais apoiadores do presidente caso
ele chegue a outubro em desvantagem nas pesquisas. Já o PT busca um plano para
evitar uma participação eleitoral baixa demais em grupos simpáticos a Lula.
Num país com voto obrigatório e punição branda para o descumprimento da regra, a abstenção ficou na casa dos 20% no último segundo turno presidencial. Outros 10% tiveram disposição de ir até uma seção para votar nulo ou em branco. Uma variação expressiva desses números pode determinar o resultado de uma eleição apertada.
Bolsonaro seria prejudicado, por exemplo,
se uma fatia de seus eleitores ficar em casa por entender que ele tem poucas
chances de vencer. É por isso que a equipe do presidente trabalha para manter
os apoiadores agitados, com alertas sobre o perigo de uma vitória da esquerda.
A mesma tática deve ser usada para reconquistar
bolsonaristas arrependidos. Segundo o Datafolha, 7% dos eleitores
que estiveram com Bolsonaro no segundo turno de 2018 dizem que não pretendem
votar em ninguém na corrida deste ano. Essa deserção tiraria do presidente três
pontos que podem ser preciosos num segundo turno contra Lula.
É difícil prever quantos eleitores estarão
propensos à abstenção ou ao voto nulo, somando o que os estudiosos classificam
como alienação. Sabe-se que os números tendem a ser menores em disputas
polarizadas e maiores em grupos de baixa renda.
Pesquisas de intenção de voto dão só
algumas pistas sobre os efeitos desse fenômeno. Se apenas os eleitores que
votaram em algum candidato no segundo turno de 2018 forem às urnas agora, Lula
terá mais dificuldade para liquidar a fatura no primeiro turno. A vantagem de
19 pontos sobre Bolsonaro cairia para algo próximo de 11. O petista venceria no
segundo turno, mas com margem de 15 pontos —e não 23.
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