domingo, 10 de julho de 2022

Bruno Boghossian: Quem (não) vai votar em outubro?

Folha de S. Paulo

Abstenção e voto nulo podem ser desafios para campanhas dos dois candidatos ao Planalto

Nenhuma campanha corre atrás de votos sem se preocupar com o eleitor que pode preferir não votar em ninguém. Aliados de Jair Bolsonaro veem o risco de uma abstenção alta entre potenciais apoiadores do presidente caso ele chegue a outubro em desvantagem nas pesquisas. Já o PT busca um plano para evitar uma participação eleitoral baixa demais em grupos simpáticos a Lula.

Num país com voto obrigatório e punição branda para o descumprimento da regra, a abstenção ficou na casa dos 20% no último segundo turno presidencial. Outros 10% tiveram disposição de ir até uma seção para votar nulo ou em branco. Uma variação expressiva desses números pode determinar o resultado de uma eleição apertada.

Bolsonaro seria prejudicado, por exemplo, se uma fatia de seus eleitores ficar em casa por entender que ele tem poucas chances de vencer. É por isso que a equipe do presidente trabalha para manter os apoiadores agitados, com alertas sobre o perigo de uma vitória da esquerda.

A mesma tática deve ser usada para reconquistar bolsonaristas arrependidos. Segundo o Datafolha, 7% dos eleitores que estiveram com Bolsonaro no segundo turno de 2018 dizem que não pretendem votar em ninguém na corrida deste ano. Essa deserção tiraria do presidente três pontos que podem ser preciosos num segundo turno contra Lula.

É difícil prever quantos eleitores estarão propensos à abstenção ou ao voto nulo, somando o que os estudiosos classificam como alienação. Sabe-se que os números tendem a ser menores em disputas polarizadas e maiores em grupos de baixa renda.

Pesquisas de intenção de voto dão só algumas pistas sobre os efeitos desse fenômeno. Se apenas os eleitores que votaram em algum candidato no segundo turno de 2018 forem às urnas agora, Lula terá mais dificuldade para liquidar a fatura no primeiro turno. A vantagem de 19 pontos sobre Bolsonaro cairia para algo próximo de 11. O petista venceria no segundo turno, mas com margem de 15 pontos —e não 23.

 

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