terça-feira, 12 de novembro de 2024

Insensatez: pode vir mais um ‘voo de galinha’ - Pedro Cafardo

Valor Econômico

Pressão fiscalista interna, exagerada e quase histérica, eleva o risco de se estancar o crescimento, aumentar o desemprego

A semana passada foi angustiante. Nos EUA, contrariando as pesquisas, Donald Trump elegeu-se presidente com larga margem de votos e ganhou maioria no Parlamento. Aqui no Brasil, o Banco Central aumentou a taxa de juros enquanto o governo Lula preparava o anúncio de cortes nos gastos públicos.

Trump fez várias promessas na campanha, algumas preocupantes na área econômica. Prometeu sobretaxar as importações americanas, com óbvias repercussões no comércio global: criar imposto de 10% a 20% para produtos provenientes de todos os países e de 60% para os da China. Prometeu aplicar sanções a países que não usarem o dólar em suas transações internacionais, uma ameaça ao bloco do Brics. E, para não estender mais a lista, prometeu fechar as fronteiras do país e deportar milhões de imigrantes ilegais.

Será que Trump cumprirá essas promessas de viés protecionista e antiglobalização? Aparentemente, ele vai tentar, pois em seu discurso de vitória anunciou um novo slogan: “Promises made, promises kept” (Promessas feitas, promessas cumpridas).

Então, até prova em contrário, é preciso acreditar no que ele diz. A taxação de importações terá grande impacto inflacionário nos EUA, em seus parceiros e na economia mundial.

Enquanto o mundo digeria o efeito Trump, o Brasil brincava com fogo. Tudo o que almeja um país emergente/subdesenvolvido é o crescimento econômico e a ampliação do emprego e da renda da população. E as duas medidas - juros mais altos e corte de gastos públicos - correm na contramão desse objetivo, num momento em que o país caminha bem, com crescimento de 3% ao ano e nível recorde de emprego.

Com a elevação de 0,5 ponto percentual, a taxa básica de juros foi para 11,25% ao ano, 7% além da inflação, uma das mais altas do mundo. O efeito traumático dessa taxa é abrangente, mas vale lembrar um, óbvio e importante, que é o desestímulo a investimentos produtivos.

Com a preparação de cortes nos gastos, o governo Lula cedeu à pregação fiscalista sobre o risco do déficit público. Quantificar o impacto no crescimento do PIB tendo em vista esses cortes, alta dos juros que vai continuar e nova política americana será tarefa para os economistas, mas que haverá, haverá.

Ao observar esse cenário, é oportuno relembrar uma passagem de “A Era da Incerteza”, de John Kenneth Galbraith (1908-2006). Nos anos 1930, os EUA se recuperavam da “Grande Depressão” quando sobreveio o domínio ideológico daqueles que Galbraith chamou ironicamente de “homens da sensatez”, os radicais amantes da austeridade. Em 1937, conta Galbraith, a recuperação da economia estava morosamente a caminho: a produção e os preços subiam, embora o desemprego ainda fosse elevado. Os “homens da sensatez” começaram a agir no sentido de reduzir as despesas do governo, aumentar impostos e equilibrar o orçamento federal. “Os poucos keynesianos protestaram; nossas vozes foram abafadas no alarido do aplauso ortodoxo. À medida que o orçamento caminhava para o equilíbrio, a recuperação dava uma parada. Houve então um novo e horrível colapso, a retração dentro da depressão”, observa o economista.

Os homens da sensatez dominam o discurso no Brasil. Até a alta do dólar provocada por incertezas americanas e globais é muitas vezes atribuída principalmente à expectativa de déficits públicos locais no futuro.

É ótimo e recomendável ter contas públicas ajustadas e com criterioso controle de gastos em todos os setores. O fiscalismo quase terrorista, porém, baseado em previsões apocalípticas do mercado financeiro, muitas vezes parece insensato. Também na economia é preciso evitar a polarização na defesa de ideias. Neste momento, turbinado pelas indigestas promessas trumpistas, a pressão fiscalista interna é exagerada e quase histérica. Ela eleva o risco de se estancar o crescimento, aumentar o desemprego e dar razão aos analistas radicais que já rotularam a atual expansão do PIB de “mais um voo de galinha”.

Reflexão

Mudando de assunto, mas nem tanto, vale resumir uma reflexão feita pelo diretor de Desenvolvimento da multinacional Sew Eurodrive no país, Hiram Andreazza de Freitas: “A vitória de Trump simboliza o avanço de mentalidade individualista, na qual o lema ‘primeiro eu, depois os outros’ se sobrepõe à visão coletiva e à valorização dos princípios democráticos.

“O discurso da direita radical incentiva as pessoas a darem prioridade a seus próprios interesses em detrimento do bem comum. Defende a redução do papel do Estado e o enfraquecimento das instituições, rotulando-as como caras, ineficientes e incapazes de garantir direitos básicos de segurança, saúde e educação.

“Líderes como Trump representam uma visão de sucesso baseada no ganho individual, enquanto perdem espaço valores de solidariedade e prosperidade compartilhada. Globalmente, essa abordagem se espalha por meio de discursos populistas que priorizam interesses locais, intensificam a competição e enfraquecem a colaboração.

“Discursos polarizantes e de ódio encontram forte engajamento, criando verdadeiros exércitos de apoiadores. Assim, a democracia não é destruída com tanques nas ruas, mas sim por dentro, por líderes que a usam para chegar ao poder e depois miná-la sistematicamente.”

3 comentários:

Anônimo disse...

Que narrativa falsa que mentira discurso de ódio, Acabar com a democracia por dentro ? a esquerda usa esse argumento contra todos que conseguem vencê-lo Foi assim que o Bolsonaro mas daqui pra frente tudo será diferente

Anônimo disse...

Olha nosso país governado por um chefe da quadrilha do maior assalto aos cofres públicos brasileiros mais de 1 trilhão de reais do suado imposto do trabalhador
Brasil está ladeira abaixo , inflação sobe , dólar dispara , um bate cabeça no governo Lula agarrado ao eixo do mal , China , Rússia e Irã Falando mal dos Dólares americanos e achando com força para peitar o tio Sam
Vai se ferrar !
O pior que a gente se ferra junto e a imprensa passa pano, dia e noite , dia e noite
Agora quem está em maus lençóis é a turma do STF Estão mal alça admira do Trump

Anônimo disse...

Quando um imbecil, no exato sentido da palavra imbecil, usa a palavra "narrativa" é porque não tem argumentos reais para se contrapor ao assunto. Sem duvidas que o triunfo do Trump e todas suas ameaças, será prejudicial para os exportadores brasileiros que de entrada serão taxados em 10%