Folha de S. Paulo
Fiscalização da CGU puxou só um fiapo miúdo
da distribuição descontrolada do dinheiro
A Controladoria-Geral da
União puxou um fiapo miúdo da farra das emendas parlamentares.
Em três auditorias, o órgão colheu amostras de desperdício de dinheiro,
direcionamento de verba pública, descontrole de gastos e suspeitas de desvios.
Uma parte dos recursos foi para a conta de ONGs
sem estrutura ou obras que não começam nunca.
A fiscalização nem começa a arranhar a superfície do problema. Por ordem do Supremo, a CGU analisou uma amostra de repasses de emendas para 30 municípios (R$ 787 milhões) e 20 ONGs (R$ 515 milhões) em anos recentes. É um rio de dinheiro, mas o valor representa menos de 0,8% da fortuna de R$ 167 bilhões empenhados de 2020 a 2024.
Os relatórios servem para oferecer alguns
exemplos de como uma parte do dinheiro vai parar onde não devia ou escorre pelo
ralo. Há casos de ONGs que usam a verba para outros fins, compram equipamentos
que não são usados ou subcontratam empresas de seus próprios controladores.
Algumas prefeituras recebem os recursos, mas não têm condições de começar as
obras.
Há vários motivos para acreditar que o
descalabro é muito maior do que isso. A CGU fez um sobrevoo e analisou fluxos
de gastos sem um mergulho profundo nas suspeitas de irregularidades ou quebras
de sigilo que poderiam revelar casos de corrupção, por exemplo. O descontrole é
tão grande que só será resolvido quando alguém reduzir o tamanho da festa e
chamar a polícia.
Em suas investigações, a PF já afirmou que o
deputado Josimar
Maranhãozinho (PL-MA) participou de uma fraude de obras de
pavimentação bancadas por emendas, que Juscelino
Filho (União-MA) usou a verba para construir estradas que
chegam à sua fazenda e que um assessor de Arthur Lira (PP-AL)
recebeu dinheiro de um esquema envolvendo a compra de kits de robótica.
A indicação de verba para bases políticas
poderia ser um mecanismo saudável, mas o modelo brasileiro é uma anomalia que
os parlamentares conseguiram agravar. Além de aumentar o volume, deputados e
senadores fizeram questão de autorizar o fluxo desenfreado de dinheiro,
dificultar a fiscalização e deixar as portas abertas para a corrupção.
Um comentário:
É um descalabro!
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