Folha d S. Paulo
Presidente volta a seu ninho, moristas de
elite fundam bolsonarismo sem Bolsonaro
Jair Bolsonaro está
onde sempre esteve. Na terça-feira, filiou-se
ao PL. Na plateia, estavam também o PP ("Progressistas") e o PR
("Republicanos"), ali na fila do gargarejo, passando pano sujo e
batendo palmas para a dança dos infames. Bolsonaro foi procurar sua turma, os
partidos campeões do mensalão, do petrolão e, agora, do bolsolão, o puro creme
do milho do centrão.
Por estes mesmos dias, o Congresso está
dando um jeito de descumprir
uma determinação do Supremo sobre emendas parlamentares. São aquelas que
pagam o aluguel do centrão e ajudaram a evitar o impeachment de Bolsonaro. São
as tais emendas de relator (na prática, a cúpula do centrão distribui dinheiros
do Orçamento para obras na região dos amigos).
Não se vai saber quem levou as emendas pagas no ano passado e vai ser possível dar um jeitinho de abafar as do ano que vem. Tais como as despesas gordas do cartão corporativo de Bolsonaro, as despesas para adquirir apoio no Congresso também serão secretas. É o bolsolão. Apenas ainda não vimos direito o que tem dentro desse bolso.
Toda aquela gente que fazia chacrinha
histérica, lacerdista, janista e collorista contra a corrupção está quietinha,
aquela gente que votou ou vota em Bolsonaro. O Congresso tenta sair de fininho,
tenta abafar o caso.
Parte dessa gente de espírito lacerdista,
janista, collorista e bolsonarista, quando não apenas dinheirista, está onde
sempre esteve, embora alguns tentem disfarçar. Donos do dinheiro grosso e militares
em particular tentam promover a candidatura de Sergio Moro a
fim de que esse ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro faça pontos nas
pesquisas bastantes para desanimar os demais candidatos a "terceira
via".
Saíram do hotel da extrema direita para a
pousada da direita extrema, que é o bolsonarismo sem Bolsonaro. Saíram sem
pagar a conta, que deixaram para o país que estrebuchou de Covid, passa fome e
por muito tempo vai ter de lidar com uma administração pública em ruínas em
muitas partes (educação, ciência, tecnologia, saúde, ambiente, cultura etc.).
São dias de ômicron,
a variante nova do coronavírus. Não se sabe quão perigoso é o bicho, mas o
governo, claro, nem tenta passar a impressão de urgência, de que discute ou
toma providências para conter o risco de eventual nova desgraça. Como em tudo
mais, afora por esforços da burocracia profissional, não há governo. Os dias da
ômicron são dias de festa do centrão, da fundação do nacional-mensalismo, o
casamento teratológico de Bolsonaro com próceres do mensalão, e do novo truque
populista da elite.
O bolsonarismo sem Bolsonaro,
endinheirados, milicos e outros companheiros de viagem, é em grande parte um
antipetismo. Mais importante, encaixa-se na tradição antipolítica, que sempre
foi autoritária, ainda mais nesta sua encarnação. Eles estavam todos lá
quietinhos no governo enquanto Bolsonaro pregava golpe ou defendia tortura e a
ditadura militar, entre outros horrores.
Com nas suas outras encarnações, janismo,
collorismo, bolsonarismo, jamais tiveram o que dizer ao povo miúdo, fora
demagogias santarronas e moralistas. Sim, moralistas, pois de um modo ou de
outro sempre se beneficiaram deste arranjo brasileirinho que é uma economia de
mercado de favores regulados por um Estado capturado, em um ambiente de
incivilidade econômica e social geral. Ainda pior, do ponto de vista deles
mesmos, jamais conseguiram mesmo tocar um projeto econômico que fizesse
sentido.
Do jeito que está, o bolsonarismo sem
Bolsonaro, o morismo, é apenas mais uma versão desse truque. Na eleição de
2018, deu em morticínio, ruína e bolsolão.
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