Crianças e adolescentes de até 14 anos representam cerca de 20% da população, mas, entre os pobres, são quase 40%
Cássia Almeida | O Globo
A parcela de pobres na população caiu de 33% em 2004 para 16% em 2015, mas a participação de crianças e adolescentes permanece a mesma, em torno de 40%. A economista Sonia Rocha, do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), no seu estudo, calculou que a participação da faixa etária de até 14 anos na população recuou de 27,4% em 2004 para 21,2% em 2015. Mesmo assim, a parcela de crianças e adolescentes entre os pobres se manteve praticamente estável: passou de 41,9% para 38,3%.
Entre os idosos, o movimento foi inverso. A população de 60 anos ou mais cresceu de 9,6% para 14,3% e, na pobreza, passou de 3,2% para 3,6%.
— Se não houvesse desigualdade, a participação na pobreza deveria ser a mesma que na população. A cada ano tem menos crianças, nem assim se consegue protegê-las adequadamente nem dar educação razoável. O ideal é que houvesse rede de creches de qualidade.
Uma das explicações para essa pobreza maior entre os mais novos está também na desigualdade na concessão de benefícios. Os idosos que ganham salário mínimo têm reajuste todo ano, enquanto o Bolsa Família não tem uma regra de reajuste. O último foi em junho do ano passado, de 12,5%, depois de dois anos sem aumento. O benefício médio é de R$ 180,49 por família.
Os números da pesquisa são de 2015. Como tivemos recessão também em 2016, a situação deve ter ficado pior, diz Sonia:
— A pobreza deve ter se agravado em 2016 e em 2017.
Na opinião do economista Sergei Soares, ex-presidente do Ipea, na crise é a hora de aumentar o benefício e o alcance do programa:
— Os idosos estão mais protegidos. Numa crise de proporções severas como a que estamos vivendo, o Bolsa Família deveria ter aumentado. Durante uma crise, por princípio, a proteção social tem que aumentar principalmente para os mais pobres. Aposentadoria de juiz pode ficar defasada, Bolsa Família, não.
O secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento Social, Alberto Beltrame, afirma que não há fila de espera para entrar no programa. Todos que estão elegíveis foram atendidos:
— Incluímos 1,5 milhão de famílias. Aperfeiçoamos o sistema. Verificamos mensalmente se há pessoas que já deveriam sair do programa. Antes, era uma vez por ano. Em outubro, descobrimos 1.100 famílias que tinham renda per-capita de um salário mínimo (o corte para entrar no programa é de R$ 170 percapita).
Atualmente, são atendidas 13,3 milhões de famílias, abaixo de 2014, quando eram 14 milhões. O programa Criança Feliz, lançado pelo presidente Michel Temer em outubro do ano passado, de visitas domiciliares para estimular crianças de até 3 anos, ainda não começou. A previsão do secretário é que comece no fim de junho:
— Capacitamos 90 multiplicadores para treinar 1.100 supervisores e teremos 11 mil visitadores. A meta é atender um milhão de crianças este ano e quatro milhões no ano que vem. Já temos 400 mil crianças identificadas.
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