Datafolha traz boas notícias em série para a oposição
Folha de S. Paulo
Lula perde vantagem de pesquisa anterior e se
vê empatado no 2º turno com possíveis adversários, como Michelle e Tarcísio
Por qualquer ângulo que se olhe, a mais
recente pesquisa do Datafolha traz
notícias boas
para quem joga no campo da oposição e ruins para o governo e seus
apoiadores.
Para começar, o levantamento retirou qualquer
aura de invencibilidade que ainda pudesse haver em torno do presidente Luiz
Inácio Lula da
Silva (PT), ao
mostrá-lo, nas simulações de segundo turno, em pé de igualdade com vários de
seus potenciais adversários na disputa de 2026.
O petista, é claro, pode se agarrar ao tempo que falta para a eleição. Com mais de um ano pela frente, nada impede que o cenário mude de forma significativa, sobretudo porque, até lá, o Supremo Tribunal Federal (STF) terá terminado de julgar Jair Bolsonaro (PL) pela trama golpista de 2022.
A fragilidade eleitoral de Lula, contudo,
está aí para quem quiser ver; seu capital político diminuiu, e o governo que
comanda tem-se revelado incapaz de dar uma resposta convincente aos inúmeros
anseios da população.
É verdade que, nos cenários hipotéticos de
primeiro turno, o único oponente que parece lhe dar dor de cabeça é Bolsonaro,
que chega a 35% das intenções de voto contra 36% de Lula. Mas o ex-presidente,
como se sabe, foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Nas demais situações, o petista ainda tem
certa folga. Somando sempre 37% ou 38% das intenções de voto, ele sobrepuja
Eduardo e Flávio
Bolsonaro, ambos do PL e com 20%; o governador Tarcísio
de Freitas (Republicanos),
com 21%; e Michelle
Bolsonaro (PL), que se sai melhor, com 26%.
É no segundo turno, contudo, que a
dificuldade de Lula se revela por inteiro. Se a eleição fosse hoje, dentre os
cenários testados, ele venceria apenas contra Flávio (47% a 38%) e Eduardo (46%
a 38%) —e, nesse último caso, vendo apertar uma vantagem que, em abril, era de
51% a 34%.
Essa mesma queda de desempenho eleitoral se
repetiu contra Michelle. Se antes o Datafolha apontava para o que parecia uma
vitória tranquila por 50% a 38%, agora o presidente se vê em situação de
empate, no limite da margem de erro, com a ex-primeira-dama: 46% a 42%.
Pior ainda para Lula é o cenário de segundo
turno contra Tarcísio. Em abril, o governador de São Paulo perdia
por 39% a 48% das intenções de voto; passados dois meses, ele chegou a 42% e
encostou no petista, com 43%.
E, de um ponto de vista apenas simbólico
—dado o obstáculo jurídico de Bolsonaro—, é digno de nota que o mandatário, com
44%, esteja numericamente atrás de seu antecessor, que registrou 45%. Em abril,
Lula tinha aberto nove pontos de frente.
Se o governo demonstrava não entender a
necessidade de corrigir rumos, talvez agora o alarme soe no Palácio do
Planalto. O medo da derrota nas urnas tende a ser mais forte que qualquer outro
impulso —e essa não deixa de ser uma das belezas da competição eleitoral,
proporcionada apenas pelas verdadeiras democracias.
Negacionismo econômico-climático
Folha de S. Paulo
Debate diplomático sobre aquecimento global,
como o da COP30, só avançará quando se calcular o custo dos desastres
A cinco meses da COP30,
conferência global sobre emergência climática em Belém,
estreitam-se as perspectivas de sucesso do governo brasileiro na ingrata tarefa
de mobilizar um mutirão internacional para mitigar o aquecimento do planeta e
adaptar populações vulneráveis a impactos já perceptíveis.
A figura do mutirão pelo clima foi cunhada
pelo embaixador André Corrêa do Lago, na esperança de motivar negociadores da
reunião que presidirá. Como que a intuir o risco de estagnação nas tratativas
entre duas centenas de países, lançou á mesa outro conceito: negacionismo
econômico.
Em entrevista à Folha, a
diretora-executiva da COP30, Ana Toni, interpretou a expressão
corretamente: "Está
todo mundo ignorando o custo da inação". Vale dizer, sai cara a
recalcitrância dos governos em financiar no montante necessário a transição
energética, o fim das emissões de carbono na geração de energia, nos
transportes ou no desmatamento e a resiliência da infraestrutura.
Eventos atmosféricos extremos, previstos há
décadas pela ciência, já se fazem presentes. A realidade se encarregou de
educar o ceticismo climático —tendência ideológica que nega projeções de
especialistas, semeando dúvidas pontuais sobre estudos, considerados
alarmistas.
Desastres se repetem: inundações no Rio
Grande do Sul, incêndios florestais na Califórnia,
secas na amazônia e
no pantanal e
ondas de calor na Europa. Outros
virão, e ainda mais danosos, se o planeta não transitar para a renúncia a
combustíveis fósseis até meados deste século, como se acordou na COP28.
Só a conta da reconstrução gaúcha chegou a R$
100 bilhões, assinalou Toni, montante que saiu quase todo dos cofres do poder
público —ou seja, do bolso dos contribuintes, não dos setores econômicos que
mais poluem a atmosfera e bagunçam o clima. Ademais, quanto valem as 3.000
vidas perdidas em 2024? As quebras de safra? E as doenças zoonóticas turbinadas
nos habitats deslocados de seus vetores?
Desconhecem-se tais cifras porque os atores
envolvidos estão mais empenhados em calcular subsídios para fomentar setores
tradicionais, como o do petróleo. No
Brasil, observa-se discordância entre o Palácio do Planalto e Marina Silva,
ministra do Meio Ambiente,
em relação à exploração
de petróleo em área costeira da mesma amazônia para onde levou a
COP30.
Corrêa do Lago e Toni não têm boas respostas
diante dessa contradição, nem poderiam ter. É ao governo Luiz Inácio Lula da Silva
que irá a cobrança em Belém.
Congresso não pode esquecer a reforma
administrativa
O Globo
Grupo de trabalho na Câmara abre caminho para
Estado mais eficiente, mais barato e mais competente
Em meio aos embates em torno da crise fiscal,
uma medida positiva foi tomada pelo presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB):
a criação de um grupo de trabalho para elaborar um projeto de reforma
administrativa. Sob a coordenação do deputado Pedro Paulo (PSD-RJ),
o grupo terá 45 dias para concluir o texto. A Proposta de Emenda à Constituição
32/2020 sobre o tema, atualmente na Câmara, tem pontos positivos, mas seu
escopo é muito reduzido e, acima de tudo, não conta com apoio da maioria dos
parlamentares. O desafio do grupo de trabalho será enfrentar resistências a
mudanças e corrigir as principais falhas da máquina pública, responsáveis pelo
alto custo, pela baixa eficiência e pela insatisfação popular com os serviços
prestados.
Três pontos deveriam ser prioritários. O
primeiro é prever uma gestão de desempenho robusta. Em geral, os avanços de
carreira são baseados em diplomas e tempo de serviço. Quando existem,
avaliações de desempenho são recheadas de subjetividade e pobres em critérios
objetivos. Abnegados trabalham de forma exemplar, enquanto outros, protegidos
pela estabilidade, empurram o serviço com a barriga até o dia da aposentadoria.
“O cidadão é o cliente do Estado. Por isso precisamos pensar na ideia de uma
lei de responsabilidade da entrega de resultados, mas com avaliações de
equipes, sem demonizar os servidores”, diz o deputado Pedro Paulo.
A segunda prioridade é reduzir a fragmentação
de carreiras. Servidores com capacidades e atribuições semelhantes têm
remunerações díspares. O analista de agência reguladora ganha quase o dobro do
analista do Incra. Engessadas, as carreiras impedem que servidores transitem
entre os diversos órgãos de governo para suprir necessidades. Salários iniciais
altos servem de desestímulo à progressão. Por fim, a reforma administrativa
teria de acabar com os privilégios da elite do funcionalismo encastelada no Judiciário
e no Ministério Público. Incansável em demandas por mais vencimentos, cria todo
tipo de auxílio, os infames “penduricalhos”.
Sem essas mudanças, os brasileiros
continuarão reféns da ineficiência estatal. No setor privado, quando um
consumidor recebe serviço ruim, pode procurar um concorrente. Se um produto no
supermercado aumenta de preço, dá para encontrar alternativa. É a competição
que leva as empresas a perseguir ganhos de produtividade. No setor público, a
maioria dos brasileiros não tem para onde correr. Se a espera por consultas no
SUS está longa ou se o asfaltamento da estrada se arrasta há anos, não há
alternativa. Sem competidores, o Estado continua em ritmo de pangaré. A solução
precisa passar pela política. Somente o Congresso tem poder para mudar as
regras que emperram a máquina pública.
A principal barreira tem sido o lobby do
funcionalismo público. Em campanhas eleitorais, políticos de todas as
colorações se alternam com promessas para saúde, segurança pública e educação.
Uma vez eleitos, pouca atenção dão à ideia de uma reforma administrativa, arma
mais poderosa para elevar a qualidade de todos esses serviços públicos, além de
poder representar economia de gastos para o contribuinte. É animadora a
promessa de Motta e de Pedro Paulo de trabalhar para aprovar uma reforma
administrativa digna do nome. Caso se cumpra, será a marca da atual
legislatura.
Negociação entre China e Estados Unidos põe
terras-raras em evidência
O Globo
Brasil tem segunda maior reserva mundial
desses minérios e deve saber aproveitar oportunidade que oferecem
Depois de negociações em Londres na semana
passada, as delegações de Estados Unidos e China chegaram a
um acordo preliminar para manter a trégua na guerra comercial deflagrada pelo
presidente Donald Trump. O ponto central do entendimento é o acesso americano
às terras-raras chinesas, minerais críticos de grande importância na transição
energética, usados por indústrias como defesa, aeroespacial, baterias, painéis
solares e turbinas eólicas.
As terras-raras são o caminho pelo qual
americanos e chineses tentam se reaproximar depois da escalada de retaliações
tarifárias desencadeada por Trump. Os chineses têm o trunfo de ser donos de
quase metade das reservas mundiais desses minérios críticos. Ao suspender as
exportações de terras-raras aos Estados Unidos, a China acelerou a abertura de
conversações.
Em abril, Pequim vetou a venda aos americanos
de ímãs potentes obtidos de terras-raras, usados em carros elétricos, mísseis e
radares. A China tem virtual monopólio desses ímãs. Em resposta, os Estados
Unidos cortaram a exportação aos chineses de softwares para a produção de
semicondutores, produtos químicos e equipamentos usados pela indústria
aeronáutica (já haviam suspendido a exportação de chips usados em sistemas de
inteligência artificial). Afetadas por essa guerra, as exportações chinesas aos
Estados Unidos caíram 34,5% no mês passado, o maior retrocesso desde a
pandemia.
Logo depois da posse de Trump, as
terras-raras também fizeram parte do entendimento entre Estados Unidos e
Ucrânia, país com reservas relevantes. Tais eventos ressaltam a importância
estratégica desses minerais. E devem chamar a atenção do Brasil, dono da
segunda maior reserva mundial.
O chineses já se interessam pela exploração
de minerais críticos em solo brasileiro. Em fevereiro, uma subsidiária do grupo
chinês MMG pagou US$ 500 milhões à multinacional britânica Anglo American por
minas e unidades de processamento de níquel no interior de Goiás. A montadora
de carros elétricos e híbridos BYD, também chinesa, adquiriu direitos de
exploração em Minas Gerais de lítio, usado em baterias. E o BNDES anunciou R$ 5
bilhões em financiamento a 56 projetos envolvendo minerais estratégicos, que somam
investimentos de R$ 45,8 bilhões.
No ano passado, o país exportou 2 milhões de
toneladas desses minérios, com receita de US$ 6,3 bilhões, e importou 400 mil
toneladas, por US$ 4,4 bilhões. O saldo positivo nesse comércio pode crescer e
gerar novos negócios. É importante o Brasil não se limitar à posição de mero
fornecedor de matéria-prima. Precisa desenvolver tecnologia para aproveitar ao
máximo o acesso aos minerais. Para isso, o fator crítico é formar mão de obra e
desenvolver conhecimento técnico. Os acordos para exploração dos minerais trazem
oportunidades de suprir tais deficiências.
Israel exerce o direito de se defender
O Estado de S. Paulo
O programa nuclear iraniano é uma ameaça
existencial a Israel e, por isso, é um alvo legítimo. Ademais, interromper a
escalada nuclear do Irã será um alívio para o mundo
Em 1981, quando a Força Aérea de Israel
destruiu o reator nuclear de Osirak, no Iraque de Saddam Hussein, houve muitas
manifestações de indignação na comunidade internacional. Em 2007, o mesmo se
repetiu após o bombardeio às instalações nucleares secretas do regime sírio.
Mas o tempo se encarregou de mostrar quem estava certo. Por isso, o ataque
israelense contra o Irã na madrugada de 13 de junho deve ser compreendido pelo
que é: um ato preventivo de legítima defesa e um serviço à segurança regional e
global.
A operação Leão em Ascensão, que envolveu
cerca de 200 aeronaves e mais de uma centena de alvos, teve como objetivo
impedir que a teocracia xiita que governa o Irã desde 1979 alcance a capacidade
de fabricar armas nucleares. Realizada com precisão cirúrgica, a ofensiva
atingiu centros de enriquecimento de urânio em Natanz, instalações de mísseis
balísticos, depósitos militares, centros de comando e a cúpula do aparato
militar iraniano, incluindo o chefe da Guarda Revolucionária, Hossein Salami, e
o chefe do Estado-Maior, Mohammad Bagheri.
O momento foi calculado. Após quase 20 meses
de confronto aberto com os braços armados de Teerã – Hamas, Hezbollah, Houthis
–, Israel obteve superioridade tática. O Irã, isolado, exaurido, com sua defesa
aérea degradada por ataques anteriores, vivia um raro momento de
vulnerabilidade. Tel Aviv avaliou que a janela de oportunidade seria curta. E
que esperar mais significaria correr o risco de uma bomba nuclear na mão de
quem prometeu aniquilar Israel.
O histórico do regime iraniano justifica o
ceticismo em relação às vias diplomáticas. Por décadas, Teerã violou suas
obrigações no Tratado de Não Proliferação Nuclear. Há poucos dias, a Agência
Internacional de Energia Atômica confirmou que o Irã está enriquecendo urânio
em níveis próximos ao grau militar, operando instalações secretas e ocultando
informações. Ao mesmo tempo, seguia promovendo negociações com os EUA enquanto
acelerava seu programa. A confiança se esgotou.
A comunidade internacional pregava calma. Mas
a história ensina que, diante de ameaças existenciais, a passividade cobra seu
preço. A doutrina de sobrevivência israelense – expressa há décadas – é clara:
não haverá um segundo Holocausto por omissão. A ofensiva atual, como as de 1981
e 2007, é guiada por esse princípio.
As consequências são imprevisíveis. O Irã já
está retaliando com drones e mísseis, e pode promover atentados terroristas.
Mas o custo da inação seria maior. O que está em jogo não é apenas a existência
de Israel, mas a própria lógica da não proliferação nuclear. Um Irã armado com
bombas nucleares não ameaçaria apenas Israel, mas desestabilizaria todo o
Oriente Médio, empurrando outras potências regionais a buscarem seus próprios
arsenais atômicos.
A aposta de Israel é arriscada, mas coerente
com os sinais que o próprio Irã emitiu. A operação parece mirar não apenas as
instalações nucleares, mas também desmantelar o “Eixo da Resistência” e
enfraquecer estruturalmente o regime teocrático – eventualmente oferecendo à
oposição oportunidades para uma mudança de regime. Se bem-sucedida, poderá
abrir caminho para uma nova arquitetura de segurança regional – com maior
aproximação entre Israel e os países árabes sunitas e, quem sabe, até mesmo
condições futuras mais realistas para um Estado palestino estável.
Israel agiu sozinho, mas não agiu só por si.
Agiu também por aqueles que, mesmo em silêncio ou em crítica pública,
reconhecem a natureza predatória do regime iraniano. Os líderes ocidentais que
hoje pedem “moderação” terão, como no passado, de admitir que foi Israel quem
fez o que precisava ser feito.
O dia 13 de junho de 2025 pode marcar o
início de uma nova era no Oriente Médio, menos marcada pela chantagem e mais
próxima de uma estabilidade duramente conquistada. O tempo dirá. É cedo para
prever os desdobramentos. Mas, se o ataque conseguiu de fato atrasar o programa
nuclear iraniano e enfraquecer sua capacidade de agressão, o mundo terá um
motivo concreto para agradecer – ainda que em silêncio.
A sinuca dos Correios
O Estado de S. Paulo
A esta altura, privatizar uma empresa com
patrimônio líquido negativo de R$ 6 bi, com funcionários demais, produtividade
de menos e participação pífia no mercado será muito difícil
Informa-se que, em março, o patrimônio
líquido dos Correios estava negativo em R$ 6 bilhões. Isso significa que o
passivo (dívidas totais) superava em R$ 6 bilhões os ativos (bens e dinheiro em
caixa). Esse valor é importante para dimensionar a dificuldade que o Brasil
teria caso o governo Lula da Silva resolvesse, num surto de bom senso,
privatizar a empresa: qualquer interessado em comprar os Correios, mesmo que
pagasse apenas um valor simbólico, teria de injetar esse caminhão de dinheiro
logo de saída para capitalizar a companhia. Ou seja, neste caso o barato sairia
extremamente caro, razão pela qual é difícil – quase impossível – falar em
privatização dos Correios.
A cada dia que passa, portanto, fica mais
difícil de justificar até mesmo a mera existência da estatal. As empresas
privatizadas no passado, como Vale, Embraer e Eletrobras, atraíram grande
interesse porque tinham participação relevante em seus respectivos mercados. Há
um par de décadas, os Correios tinham essa relevância, e certamente seriam
bastante disputados caso fossem a leilão. Atualmente, contudo, diante da
fortíssima concorrência de empresas extremamente bem preparadas e agressivas no
mercado de entregas, ninguém em sã consciência aceitaria assumir os Correios e
gastar bilhões para começar a saneá-los e colocá-los em condições de ao menos
disputar as migalhas deixadas pelas gigantes que dominam o setor. E isso mesmo
considerando que os Correios desfrutam de imunidade tributária e detêm o
monopólio postal no País.
O cenário é devastador, ano a ano. Em 2022, o
resultado de seu balanço foi negativo em R$ 767 milhões; em 2023, o prejuízo
foi de R$ 596 milhões; em 2024, registrou-se um recorde de R$ 2,6 bilhões
negativos; e apenas no primeiro trimestre de 2025 o prejuízo chegou a R$ 1,7
bilhão. No ano, a expectativa é de que as perdas atinjam R$ 3 bilhões. Nada
disso é fruto de qualquer despesa extraordinária.
Os Correios teriam de registrar sucessivos
lucros para reverter a situação, algo mais do que improvável, ou receber
aportes por meio de capitalização – o que se esperava que ocorresse com a
privatização, processo iniciado em 2021, mas que foi descartado pelo governo
Lula da Silva no início do atual mandato. Lula e o Partido dos Trabalhadores
(PT) obviamente jamais permitiriam a privatização.
O argumento oficial para manter a empresa
estatal é garantir a universalização dos serviços postais, já que, com cerca de
10 mil agências (próprias, comunitárias, franqueadas e permissionárias), os
Correios atendem a praticamente todos os municípios do País, mesmo nas regiões
mais remotas. Ora, o mesmo serviço poderia ser prestado, em ambiente de ampla
concorrência, por empresas privadas, que ganhariam o direito de explorar a
concessão sob o compromisso de respeitarem uma regulação sólida e bem desenhada.
Na falta de justificativa realista para
manter os Correios mesmo diante do brutal prejuízo, o governo inventa missões
para a empresa, como atender a aposentados tungados pelas fraudes no Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS). E não se pode esquecer que, não faz muito
tempo, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que os Correios poderiam,
ora vejam, substituir o Uber se este resolvesse cumprir a ameaça de deixar o
Brasil.
Mesmo numa era em que quase ninguém mais
manda cartas, os Correios mantêm um robusto quadro de funcionários – em torno
de 83 mil, sendo 46 mil carteiros. Há planos de demissão voluntária em
andamento, para tentar reduzir despesas, mas recentemente a empresa fez
concurso para 3.500 novos cargos. O custo com pessoal somou R$ 2,77 bilhões no
primeiro trimestre de 2025, quase 10% acima do verificado no mesmo período do
ano passado.
E é uma empresa generosa: mesmo diante de todo o prejuízo, concedeu em 2024 a cada um de seus funcionários R$ 2,5 mil a título de bonificação extra de fim de ano, o chamado “vale-peru”. Nada disso condiz com uma empresa que, pelas métricas do setor privado, está falida.
Castro cumpriu sua obrigação
O Estado de S. Paulo
Governador do Rio de Janeiro tinha o dever de
afastar chefes policiais após inexplicável ação do Bope
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio
Castro (PL), rapidamente afastou todos os policiais envolvidos numa truculenta
ação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Comando de Operações
Especiais (COE) que matou um rapaz durante uma festa junina no Morro do Santo
Amaro, zona sul da capital fluminense. Mais do que isso: Castro exonerou os
comandantes do Bope, coronel Aristheu Lopes, e do COE, coronel André Luiz de
Souza Batista. Pode-se dizer que o governador não fez mais do que sua obrigação
diante de uma intervenção policial absolutamente inexplicável, mas,
considerando o padrão de leniência de muitos de seus colegas governadores
(inclusive do próprio Castro) com a brutalidade das polícias que comandam,
trata-se de uma decisão digna de registro e elogios.
Na tal intervenção policial, agentes do Bope
e do COE entraram no Morro do Santo Amaro a partir de uma denúncia de que havia
homens armados no local se preparando para atacar um grupo rival na disputa por
território para o tráfico de drogas. O Bope fica perto do morro, e dezenas de
PMs partiram para lá. O problema é que, naquele momento, realizava-se uma festa
junina no local, e as imagens da ação mostram o desespero de crianças e seus
pais em meio às rajadas de tiros disparados sem o menor cuidado. O office-boy
Herus Guimarães Mendes foi alvejado na barriga e no quadril e não resistiu.
Deixou um filho de 2 anos de idade.
Ao secretário da Polícia Militar (PM) do Rio,
coronel Marcelo de Menezes Nogueira, coube admitir que os protocolos da
corporação obviamente “não foram observados”. Em entrevista ao Bom Dia Rio,
da TV Globo, o coronel listou “alguns requisitos” para que uma ação policial
como essa fosse realizada, tais como a avaliação de risco, o princípio da
oportunidade e, “o principal”, a preservação de vidas. E nenhum deles foi
seguido.
A política de segurança pública de Castro
decerto não serve de exemplo a qualquer gestor público, mas a agilidade com que
o governador exonerou os comandantes e com que o secretário reconheceu ter
ocorrido o descumprimento dos protocolos merece o registro. É sabido que, na
hierarquia militar, os comandados seguem seus comandantes – e, se não seguem, é
porque seus comandantes não têm comando de fato. Vale dizer, não basta aos
governadores reagirem somente depois que tragédias acontecem por erros ou crimes
cometidos por agentes públicos. Isso é o mínimo que a sociedade espera. É
imperioso que exerçam o comando de fato sobre as forças de segurança sob sua
responsabilidade a fim de mantê-las dentro das balizas da boa técnica policial
e, principalmente, do respeito ao Estado Democrático de Direito.
É dever constitucional dos governadores dotar as polícias de recursos humanos e materiais, inteligência e preparo técnico para prover segurança pública com eficácia, sem jamais condescender com ilegalidades ou erros fatais. Nenhuma política de segurança será bem-sucedida se for sustentada em ações arbitrárias, em violência descontrolada ou no descaso com a vida de inocentes. Pelo contrário: esse modo de agir apenas reforça a desconfiança da população em relação à capacidade do Estado de lhe proteger, alimenta o medo e perpetua um círculo vicioso que banaliza a barbárie.
Ordem mundial em momento de tensão
Correio Braziliense
As novas tensões no Oriente Médio têm relação
direta com os episódios de 7 de outubro de 2023, quando milícias do Hamas, um
dos grupos apoiados pelo regime iraniano, deflagraram ataques terroristas
contra civis israelenses
O conflito entre Israel e Irã complicou ainda
mais ordem internacional, com reflexos políticos e econômicos imprevisíveis. A
escalada de hostilidades atingiu nível tão alto, que se viu refletida na
reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, realizada na
última sexta-feira. No encontro, encerrado sem nenhuma sinalização de acordo, o
representante do governo dos Estados Unidos, McCoy Pitt, advertiu o Irã da
temeridade de lançar um contra-ataque às bases norte-americanas. Por sua vez, o
enviado do Irã ao Conselho de Segurança, Amir Saeid Iravani, afirmou que o
ataque de Israel é uma "declaração de guerra" e que os Estados Unidos
são cúmplices.
As novas tensões no Oriente Médio têm relação
direta com os episódios de 7 de outubro de 2023, quando milícias do Hamas, um
dos grupos apoiados pelo regime iraniano, deflagraram ataques terroristas
contra civis israelenses. Mais de 1,2 mil pessoas morreram na ofensiva. Desde
então, o governo de Benjamin Netanyahu iniciou uma guerra permanente aos seus
inimigos. Começou pela reação violenta em Gaza, a ponto de muitos, como o
presidente Lula, a considerarem um genocídio contra o povo palestino. Seguiu-se
com ataques ao Hezbollah, no Líbano, a fim de neutralizar outro grupo apoiado
pelo Irã. E ganhou novo capítulo na última quinta-feira, quando Tel-Aviv atacou
diretamente bases nucleares iranianas.
Há décadas as tensões no Oriente Médio têm
desafiado a comunidade internacional. Além das Nações Unidas e das potências
europeias, os Estados Unidos têm atuado ao longo dos anos para manter um
equilíbrio na região. O atual momento, entretanto, se mostra delicado em razão
das circunstâncias, por três razões.
Em primeiro lugar, a intempestividade do
presidente Donald Trump é um fator de instabilidade, na medida em que não
oferece garantia de avanços diplomáticos. Como de praxe, os Estados Unidos
mantêm a aliança histórica com Israel. Mas buscam um acordo nuclear com Irã, a
essa altura com chances remotas de sucesso. Não seria surpresa se Donald Trump,
assim como fez na guerra entre Rússia e Ucrânia, deixasse o conflito
prosseguir, sem medidas efetivas para interromper a carnificina.
O segundo ponto desfavorável são as intenções
nucleares do Irã. Por reiteradas vezes, o regime dos aiatolás se nega a dar
transparência ao seu programa nuclear, negando o acesso à Agência Internacional
de Energia Atômica (AIEA). A morte de comandantes militares e de cientistas
nucleares provocadas pelos ataques israelenses de quinta-feira impôs sérias
perdas ao programa nuclear comandado por Ali Khamenei. Mas despertou um
sentimento de vingança, que já começou a dar sinais com ataques retaliativos a
Tel-Aviv na sexta-feira.
Um terceiro fator preocupante é a fragilidade
do sistema multilateral. Após o fracasso na resolução do conflito entre Ucrânia
e Rússia, em curso há mais de três anos, é improvável que tratativas no âmbito
da ONU tragam algum resultado para uma guerra no Oriente Médio. Afinal, o
confronto envolve países com poderio nuclear em uma região estratégica para a
produção de petróleo, com efeitos econômicos de potencial devastador.
O mundo entra em uma curva perigosa. É dever
das nações impedir que a tensão no Oriente Médio caminhe para o conflito aberto
e incontrolável.
Por mais zelo ao patrimônio público de
Fortaleza
O Povo (CE)
Acumulam-se queixas relacionadas à
preservação do patrimônio de Fortaleza, com exemplos repetidos de depredação.
Nos últimos dias, O POVO publicou matérias sobre alguns desses casos. É preciso
acompanhar a situação de cada bem da Cidade, em respeito e atenção ao
patrimônio que é público.
Um desses casos foi o da estátua de General
Sampaio, furtada na capital cearense e nunca recolocada. Importante combatente
das forças do Exército Brasileiro (EB), o general, por seu destaque em batalha,
foi homenageado com uma estátua em um pedestal, na praça do 23º Batalhão de
Caçadores do Exército (BC), no Bairro de Fátima.
Devido ao seu destaque em campanhas
militares, o tamborilense Antônio de Sampaio, mais conhecido como General
Sampaio, teve seu nome incluído no livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, em
2009. Daí, percebe-se o reconhecimento de seu trabalho. A estátua de cobre em
sua homenagem, material que, à época, era considerada muito valioso, foi
implantada entre os anos de 1987 e 1988. Foi furtada há cerca de 15 anos. Até
os dias atuais, nenhum monumento foi recolocado no lugar.
No bairro Presidente Kennedy, está em más
condições a pracinha do Parque Rachel de Queiroz. Os brinquedos estão
deteriorados, com o risco de causar acidentes às crianças. Carentes de reparos,
alguns estão com as correntes arrebentadas e com parte do escorregador
afundada. Na visita do O POVO ao local, havia muitas poças de lama. Usuários do
local também reclamaram que a gangorra estava solta e havia partes faltantes no
escorregador, podendo ocasionar acidente para os frequentadores.
Outro ponto de atenção é a escultura "La
Femme Bateau", danificada um ano após voltar à Praia de Iracema. A obra do
artesão cearense Sérvulo Esmeraldo está com o leme danificado e com movimento
comprometido. A escultura cinética é feita em fibra de vidro e aço inox. A
"cabeleira", a parte que simula a fumaça de um barco, não muda de
posição independentemente do ângulo em que é avistada na orla. Em 2018, a obra
foi levada pelo mar durante uma ressaca. Ficou prejudicada, mas não chegou a
quebrar. A reinstalação da escultura foi feita em 24 de junho de 2024.
Esses são alguns casos apurados recentemente
pelo O POVO que dão uma mostra, pequena, mas significativa, do quanto o
patrimônio público precisa ser respeitado. Isso significa ter uma vigilância
para evitar depredação e outras avarias. É uma situação que exige educação da
sociedade a fim de entender que as obras e os espaços são de todos e, assim,
precisam ser cuidados. Além disso, é uma obrigação dos governos -
independentemente das gestões - de zelar pelos bens.
É comum realizar grandes eventos quando há
inaugurações ou reaberturas de monumentos e demais espaços públicos. Louvam-se
os governos pela iniciativa, o que é aceitável diante da ação. Não pode, porém,
parar ali. É necessário que esses locais sejam cuidados. Senão, além do
desperdício de dinheiro público, há o desrespeito à população e aos envolvidos
- o que é imensurável.
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