domingo, 15 de junho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Datafolha traz boas notícias em série para a oposição

Folha de S. Paulo

Lula perde vantagem de pesquisa anterior e se vê empatado no 2º turno com possíveis adversários, como Michelle e Tarcísio

Por qualquer ângulo que se olhe, a mais recente pesquisa do Datafolha traz notícias boas para quem joga no campo da oposição e ruins para o governo e seus apoiadores.

Para começar, o levantamento retirou qualquer aura de invencibilidade que ainda pudesse haver em torno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao mostrá-lo, nas simulações de segundo turno, em pé de igualdade com vários de seus potenciais adversários na disputa de 2026.

O petista, é claro, pode se agarrar ao tempo que falta para a eleição. Com mais de um ano pela frente, nada impede que o cenário mude de forma significativa, sobretudo porque, até lá, o Supremo Tribunal Federal (STF) terá terminado de julgar Jair Bolsonaro (PL) pela trama golpista de 2022.

A fragilidade eleitoral de Lula, contudo, está aí para quem quiser ver; seu capital político diminuiu, e o governo que comanda tem-se revelado incapaz de dar uma resposta convincente aos inúmeros anseios da população.

É verdade que, nos cenários hipotéticos de primeiro turno, o único oponente que parece lhe dar dor de cabeça é Bolsonaro, que chega a 35% das intenções de voto contra 36% de Lula. Mas o ex-presidente, como se sabe, foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Nas demais situações, o petista ainda tem certa folga. Somando sempre 37% ou 38% das intenções de voto, ele sobrepuja Eduardo e Flávio Bolsonaro, ambos do PL e com 20%; o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), com 21%; e Michelle Bolsonaro (PL), que se sai melhor, com 26%.

É no segundo turno, contudo, que a dificuldade de Lula se revela por inteiro. Se a eleição fosse hoje, dentre os cenários testados, ele venceria apenas contra Flávio (47% a 38%) e Eduardo (46% a 38%) —e, nesse último caso, vendo apertar uma vantagem que, em abril, era de 51% a 34%.

Essa mesma queda de desempenho eleitoral se repetiu contra Michelle. Se antes o Datafolha apontava para o que parecia uma vitória tranquila por 50% a 38%, agora o presidente se vê em situação de empate, no limite da margem de erro, com a ex-primeira-dama: 46% a 42%.

Pior ainda para Lula é o cenário de segundo turno contra Tarcísio. Em abril, o governador de São Paulo perdia por 39% a 48% das intenções de voto; passados dois meses, ele chegou a 42% e encostou no petista, com 43%.

E, de um ponto de vista apenas simbólico —dado o obstáculo jurídico de Bolsonaro—, é digno de nota que o mandatário, com 44%, esteja numericamente atrás de seu antecessor, que registrou 45%. Em abril, Lula tinha aberto nove pontos de frente.

Se o governo demonstrava não entender a necessidade de corrigir rumos, talvez agora o alarme soe no Palácio do Planalto. O medo da derrota nas urnas tende a ser mais forte que qualquer outro impulso —e essa não deixa de ser uma das belezas da competição eleitoral, proporcionada apenas pelas verdadeiras democracias.

Negacionismo econômico-climático

Folha de S. Paulo

Debate diplomático sobre aquecimento global, como o da COP30, só avançará quando se calcular o custo dos desastres

A cinco meses da COP30, conferência global sobre emergência climática em Belém, estreitam-se as perspectivas de sucesso do governo brasileiro na ingrata tarefa de mobilizar um mutirão internacional para mitigar o aquecimento do planeta e adaptar populações vulneráveis a impactos já perceptíveis.

A figura do mutirão pelo clima foi cunhada pelo embaixador André Corrêa do Lago, na esperança de motivar negociadores da reunião que presidirá. Como que a intuir o risco de estagnação nas tratativas entre duas centenas de países, lançou á mesa outro conceito: negacionismo econômico.

Em entrevista à Folha, a diretora-executiva da COP30, Ana Toni, interpretou a expressão corretamente: "Está todo mundo ignorando o custo da inação". Vale dizer, sai cara a recalcitrância dos governos em financiar no montante necessário a transição energética, o fim das emissões de carbono na geração de energia, nos transportes ou no desmatamento e a resiliência da infraestrutura.

Eventos atmosféricos extremos, previstos há décadas pela ciência, já se fazem presentes. A realidade se encarregou de educar o ceticismo climático —tendência ideológica que nega projeções de especialistas, semeando dúvidas pontuais sobre estudos, considerados alarmistas.

Desastres se repetem: inundações no Rio Grande do Sul, incêndios florestais na Califórnia, secas na amazônia e no pantanal e ondas de calor na Europa. Outros virão, e ainda mais danosos, se o planeta não transitar para a renúncia a combustíveis fósseis até meados deste século, como se acordou na COP28.

Só a conta da reconstrução gaúcha chegou a R$ 100 bilhões, assinalou Toni, montante que saiu quase todo dos cofres do poder público —ou seja, do bolso dos contribuintes, não dos setores econômicos que mais poluem a atmosfera e bagunçam o clima. Ademais, quanto valem as 3.000 vidas perdidas em 2024? As quebras de safra? E as doenças zoonóticas turbinadas nos habitats deslocados de seus vetores?

Desconhecem-se tais cifras porque os atores envolvidos estão mais empenhados em calcular subsídios para fomentar setores tradicionais, como o do petróleo. No Brasil, observa-se discordância entre o Palácio do Planalto e Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, em relação à exploração de petróleo em área costeira da mesma amazônia para onde levou a COP30.

Corrêa do Lago e Toni não têm boas respostas diante dessa contradição, nem poderiam ter. É ao governo Luiz Inácio Lula da Silva que irá a cobrança em Belém.

Congresso não pode esquecer a reforma administrativa

O Globo

Grupo de trabalho na Câmara abre caminho para Estado mais eficiente, mais barato e mais competente

Em meio aos embates em torno da crise fiscal, uma medida positiva foi tomada pelo presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB): a criação de um grupo de trabalho para elaborar um projeto de reforma administrativa. Sob a coordenação do deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), o grupo terá 45 dias para concluir o texto. A Proposta de Emenda à Constituição 32/2020 sobre o tema, atualmente na Câmara, tem pontos positivos, mas seu escopo é muito reduzido e, acima de tudo, não conta com apoio da maioria dos parlamentares. O desafio do grupo de trabalho será enfrentar resistências a mudanças e corrigir as principais falhas da máquina pública, responsáveis pelo alto custo, pela baixa eficiência e pela insatisfação popular com os serviços prestados.

Três pontos deveriam ser prioritários. O primeiro é prever uma gestão de desempenho robusta. Em geral, os avanços de carreira são baseados em diplomas e tempo de serviço. Quando existem, avaliações de desempenho são recheadas de subjetividade e pobres em critérios objetivos. Abnegados trabalham de forma exemplar, enquanto outros, protegidos pela estabilidade, empurram o serviço com a barriga até o dia da aposentadoria. “O cidadão é o cliente do Estado. Por isso precisamos pensar na ideia de uma lei de responsabilidade da entrega de resultados, mas com avaliações de equipes, sem demonizar os servidores”, diz o deputado Pedro Paulo.

A segunda prioridade é reduzir a fragmentação de carreiras. Servidores com capacidades e atribuições semelhantes têm remunerações díspares. O analista de agência reguladora ganha quase o dobro do analista do Incra. Engessadas, as carreiras impedem que servidores transitem entre os diversos órgãos de governo para suprir necessidades. Salários iniciais altos servem de desestímulo à progressão. Por fim, a reforma administrativa teria de acabar com os privilégios da elite do funcionalismo encastelada no Judiciário e no Ministério Público. Incansável em demandas por mais vencimentos, cria todo tipo de auxílio, os infames “penduricalhos”.

Sem essas mudanças, os brasileiros continuarão reféns da ineficiência estatal. No setor privado, quando um consumidor recebe serviço ruim, pode procurar um concorrente. Se um produto no supermercado aumenta de preço, dá para encontrar alternativa. É a competição que leva as empresas a perseguir ganhos de produtividade. No setor público, a maioria dos brasileiros não tem para onde correr. Se a espera por consultas no SUS está longa ou se o asfaltamento da estrada se arrasta há anos, não há alternativa. Sem competidores, o Estado continua em ritmo de pangaré. A solução precisa passar pela política. Somente o Congresso tem poder para mudar as regras que emperram a máquina pública.

A principal barreira tem sido o lobby do funcionalismo público. Em campanhas eleitorais, políticos de todas as colorações se alternam com promessas para saúde, segurança pública e educação. Uma vez eleitos, pouca atenção dão à ideia de uma reforma administrativa, arma mais poderosa para elevar a qualidade de todos esses serviços públicos, além de poder representar economia de gastos para o contribuinte. É animadora a promessa de Motta e de Pedro Paulo de trabalhar para aprovar uma reforma administrativa digna do nome. Caso se cumpra, será a marca da atual legislatura.

Negociação entre China e Estados Unidos põe terras-raras em evidência

O Globo

Brasil tem segunda maior reserva mundial desses minérios e deve saber aproveitar oportunidade que oferecem

Depois de negociações em Londres na semana passada, as delegações de Estados Unidos e China chegaram a um acordo preliminar para manter a trégua na guerra comercial deflagrada pelo presidente Donald Trump. O ponto central do entendimento é o acesso americano às terras-raras chinesas, minerais críticos de grande importância na transição energética, usados por indústrias como defesa, aeroespacial, baterias, painéis solares e turbinas eólicas.

As terras-raras são o caminho pelo qual americanos e chineses tentam se reaproximar depois da escalada de retaliações tarifárias desencadeada por Trump. Os chineses têm o trunfo de ser donos de quase metade das reservas mundiais desses minérios críticos. Ao suspender as exportações de terras-raras aos Estados Unidos, a China acelerou a abertura de conversações.

Em abril, Pequim vetou a venda aos americanos de ímãs potentes obtidos de terras-raras, usados em carros elétricos, mísseis e radares. A China tem virtual monopólio desses ímãs. Em resposta, os Estados Unidos cortaram a exportação aos chineses de softwares para a produção de semicondutores, produtos químicos e equipamentos usados pela indústria aeronáutica (já haviam suspendido a exportação de chips usados em sistemas de inteligência artificial). Afetadas por essa guerra, as exportações chinesas aos Estados Unidos caíram 34,5% no mês passado, o maior retrocesso desde a pandemia.

Logo depois da posse de Trump, as terras-raras também fizeram parte do entendimento entre Estados Unidos e Ucrânia, país com reservas relevantes. Tais eventos ressaltam a importância estratégica desses minerais. E devem chamar a atenção do Brasil, dono da segunda maior reserva mundial.

O chineses já se interessam pela exploração de minerais críticos em solo brasileiro. Em fevereiro, uma subsidiária do grupo chinês MMG pagou US$ 500 milhões à multinacional britânica Anglo American por minas e unidades de processamento de níquel no interior de Goiás. A montadora de carros elétricos e híbridos BYD, também chinesa, adquiriu direitos de exploração em Minas Gerais de lítio, usado em baterias. E o BNDES anunciou R$ 5 bilhões em financiamento a 56 projetos envolvendo minerais estratégicos, que somam investimentos de R$ 45,8 bilhões.

No ano passado, o país exportou 2 milhões de toneladas desses minérios, com receita de US$ 6,3 bilhões, e importou 400 mil toneladas, por US$ 4,4 bilhões. O saldo positivo nesse comércio pode crescer e gerar novos negócios. É importante o Brasil não se limitar à posição de mero fornecedor de matéria-prima. Precisa desenvolver tecnologia para aproveitar ao máximo o acesso aos minerais. Para isso, o fator crítico é formar mão de obra e desenvolver conhecimento técnico. Os acordos para exploração dos minerais trazem oportunidades de suprir tais deficiências.

Israel exerce o direito de se defender

O Estado de S. Paulo

O programa nuclear iraniano é uma ameaça existencial a Israel e, por isso, é um alvo legítimo. Ademais, interromper a escalada nuclear do Irã será um alívio para o mundo

Em 1981, quando a Força Aérea de Israel destruiu o reator nuclear de Osirak, no Iraque de Saddam Hussein, houve muitas manifestações de indignação na comunidade internacional. Em 2007, o mesmo se repetiu após o bombardeio às instalações nucleares secretas do regime sírio. Mas o tempo se encarregou de mostrar quem estava certo. Por isso, o ataque israelense contra o Irã na madrugada de 13 de junho deve ser compreendido pelo que é: um ato preventivo de legítima defesa e um serviço à segurança regional e global.

A operação Leão em Ascensão, que envolveu cerca de 200 aeronaves e mais de uma centena de alvos, teve como objetivo impedir que a teocracia xiita que governa o Irã desde 1979 alcance a capacidade de fabricar armas nucleares. Realizada com precisão cirúrgica, a ofensiva atingiu centros de enriquecimento de urânio em Natanz, instalações de mísseis balísticos, depósitos militares, centros de comando e a cúpula do aparato militar iraniano, incluindo o chefe da Guarda Revolucionária, Hossein Salami, e o chefe do Estado-Maior, Mohammad Bagheri.

O momento foi calculado. Após quase 20 meses de confronto aberto com os braços armados de Teerã – Hamas, Hezbollah, Houthis –, Israel obteve superioridade tática. O Irã, isolado, exaurido, com sua defesa aérea degradada por ataques anteriores, vivia um raro momento de vulnerabilidade. Tel Aviv avaliou que a janela de oportunidade seria curta. E que esperar mais significaria correr o risco de uma bomba nuclear na mão de quem prometeu aniquilar Israel.

O histórico do regime iraniano justifica o ceticismo em relação às vias diplomáticas. Por décadas, Teerã violou suas obrigações no Tratado de Não Proliferação Nuclear. Há poucos dias, a Agência Internacional de Energia Atômica confirmou que o Irã está enriquecendo urânio em níveis próximos ao grau militar, operando instalações secretas e ocultando informações. Ao mesmo tempo, seguia promovendo negociações com os EUA enquanto acelerava seu programa. A confiança se esgotou.

A comunidade internacional pregava calma. Mas a história ensina que, diante de ameaças existenciais, a passividade cobra seu preço. A doutrina de sobrevivência israelense – expressa há décadas – é clara: não haverá um segundo Holocausto por omissão. A ofensiva atual, como as de 1981 e 2007, é guiada por esse princípio.

As consequências são imprevisíveis. O Irã já está retaliando com drones e mísseis, e pode promover atentados terroristas. Mas o custo da inação seria maior. O que está em jogo não é apenas a existência de Israel, mas a própria lógica da não proliferação nuclear. Um Irã armado com bombas nucleares não ameaçaria apenas Israel, mas desestabilizaria todo o Oriente Médio, empurrando outras potências regionais a buscarem seus próprios arsenais atômicos.

A aposta de Israel é arriscada, mas coerente com os sinais que o próprio Irã emitiu. A operação parece mirar não apenas as instalações nucleares, mas também desmantelar o “Eixo da Resistência” e enfraquecer estruturalmente o regime teocrático – eventualmente oferecendo à oposição oportunidades para uma mudança de regime. Se bem-sucedida, poderá abrir caminho para uma nova arquitetura de segurança regional – com maior aproximação entre Israel e os países árabes sunitas e, quem sabe, até mesmo condições futuras mais realistas para um Estado palestino estável.

Israel agiu sozinho, mas não agiu só por si. Agiu também por aqueles que, mesmo em silêncio ou em crítica pública, reconhecem a natureza predatória do regime iraniano. Os líderes ocidentais que hoje pedem “moderação” terão, como no passado, de admitir que foi Israel quem fez o que precisava ser feito.

O dia 13 de junho de 2025 pode marcar o início de uma nova era no Oriente Médio, menos marcada pela chantagem e mais próxima de uma estabilidade duramente conquistada. O tempo dirá. É cedo para prever os desdobramentos. Mas, se o ataque conseguiu de fato atrasar o programa nuclear iraniano e enfraquecer sua capacidade de agressão, o mundo terá um motivo concreto para agradecer – ainda que em silêncio.

A sinuca dos Correios

O Estado de S. Paulo

A esta altura, privatizar uma empresa com patrimônio líquido negativo de R$ 6 bi, com funcionários demais, produtividade de menos e participação pífia no mercado será muito difícil

Informa-se que, em março, o patrimônio líquido dos Correios estava negativo em R$ 6 bilhões. Isso significa que o passivo (dívidas totais) superava em R$ 6 bilhões os ativos (bens e dinheiro em caixa). Esse valor é importante para dimensionar a dificuldade que o Brasil teria caso o governo Lula da Silva resolvesse, num surto de bom senso, privatizar a empresa: qualquer interessado em comprar os Correios, mesmo que pagasse apenas um valor simbólico, teria de injetar esse caminhão de dinheiro logo de saída para capitalizar a companhia. Ou seja, neste caso o barato sairia extremamente caro, razão pela qual é difícil – quase impossível – falar em privatização dos Correios.

A cada dia que passa, portanto, fica mais difícil de justificar até mesmo a mera existência da estatal. As empresas privatizadas no passado, como Vale, Embraer e Eletrobras, atraíram grande interesse porque tinham participação relevante em seus respectivos mercados. Há um par de décadas, os Correios tinham essa relevância, e certamente seriam bastante disputados caso fossem a leilão. Atualmente, contudo, diante da fortíssima concorrência de empresas extremamente bem preparadas e agressivas no mercado de entregas, ninguém em sã consciência aceitaria assumir os Correios e gastar bilhões para começar a saneá-los e colocá-los em condições de ao menos disputar as migalhas deixadas pelas gigantes que dominam o setor. E isso mesmo considerando que os Correios desfrutam de imunidade tributária e detêm o monopólio postal no País.

O cenário é devastador, ano a ano. Em 2022, o resultado de seu balanço foi negativo em R$ 767 milhões; em 2023, o prejuízo foi de R$ 596 milhões; em 2024, registrou-se um recorde de R$ 2,6 bilhões negativos; e apenas no primeiro trimestre de 2025 o prejuízo chegou a R$ 1,7 bilhão. No ano, a expectativa é de que as perdas atinjam R$ 3 bilhões. Nada disso é fruto de qualquer despesa extraordinária.

Os Correios teriam de registrar sucessivos lucros para reverter a situação, algo mais do que improvável, ou receber aportes por meio de capitalização – o que se esperava que ocorresse com a privatização, processo iniciado em 2021, mas que foi descartado pelo governo Lula da Silva no início do atual mandato. Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT) obviamente jamais permitiriam a privatização.

O argumento oficial para manter a empresa estatal é garantir a universalização dos serviços postais, já que, com cerca de 10 mil agências (próprias, comunitárias, franqueadas e permissionárias), os Correios atendem a praticamente todos os municípios do País, mesmo nas regiões mais remotas. Ora, o mesmo serviço poderia ser prestado, em ambiente de ampla concorrência, por empresas privadas, que ganhariam o direito de explorar a concessão sob o compromisso de respeitarem uma regulação sólida e bem desenhada.

Na falta de justificativa realista para manter os Correios mesmo diante do brutal prejuízo, o governo inventa missões para a empresa, como atender a aposentados tungados pelas fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). E não se pode esquecer que, não faz muito tempo, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que os Correios poderiam, ora vejam, substituir o Uber se este resolvesse cumprir a ameaça de deixar o Brasil.

Mesmo numa era em que quase ninguém mais manda cartas, os Correios mantêm um robusto quadro de funcionários – em torno de 83 mil, sendo 46 mil carteiros. Há planos de demissão voluntária em andamento, para tentar reduzir despesas, mas recentemente a empresa fez concurso para 3.500 novos cargos. O custo com pessoal somou R$ 2,77 bilhões no primeiro trimestre de 2025, quase 10% acima do verificado no mesmo período do ano passado.

E é uma empresa generosa: mesmo diante de todo o prejuízo, concedeu em 2024 a cada um de seus funcionários R$ 2,5 mil a título de bonificação extra de fim de ano, o chamado “vale-peru”. Nada disso condiz com uma empresa que, pelas métricas do setor privado, está falida.

Castro cumpriu sua obrigação

O Estado de S. Paulo

Governador do Rio de Janeiro tinha o dever de afastar chefes policiais após inexplicável ação do Bope

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), rapidamente afastou todos os policiais envolvidos numa truculenta ação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Comando de Operações Especiais (COE) que matou um rapaz durante uma festa junina no Morro do Santo Amaro, zona sul da capital fluminense. Mais do que isso: Castro exonerou os comandantes do Bope, coronel Aristheu Lopes, e do COE, coronel André Luiz de Souza Batista. Pode-se dizer que o governador não fez mais do que sua obrigação diante de uma intervenção policial absolutamente inexplicável, mas, considerando o padrão de leniência de muitos de seus colegas governadores (inclusive do próprio Castro) com a brutalidade das polícias que comandam, trata-se de uma decisão digna de registro e elogios.

Na tal intervenção policial, agentes do Bope e do COE entraram no Morro do Santo Amaro a partir de uma denúncia de que havia homens armados no local se preparando para atacar um grupo rival na disputa por território para o tráfico de drogas. O Bope fica perto do morro, e dezenas de PMs partiram para lá. O problema é que, naquele momento, realizava-se uma festa junina no local, e as imagens da ação mostram o desespero de crianças e seus pais em meio às rajadas de tiros disparados sem o menor cuidado. O office-boy Herus Guimarães Mendes foi alvejado na barriga e no quadril e não resistiu. Deixou um filho de 2 anos de idade.

Ao secretário da Polícia Militar (PM) do Rio, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, coube admitir que os protocolos da corporação obviamente “não foram observados”. Em entrevista ao Bom Dia Rio, da TV Globo, o coronel listou “alguns requisitos” para que uma ação policial como essa fosse realizada, tais como a avaliação de risco, o princípio da oportunidade e, “o principal”, a preservação de vidas. E nenhum deles foi seguido.

A política de segurança pública de Castro decerto não serve de exemplo a qualquer gestor público, mas a agilidade com que o governador exonerou os comandantes e com que o secretário reconheceu ter ocorrido o descumprimento dos protocolos merece o registro. É sabido que, na hierarquia militar, os comandados seguem seus comandantes – e, se não seguem, é porque seus comandantes não têm comando de fato. Vale dizer, não basta aos governadores reagirem somente depois que tragédias acontecem por erros ou crimes cometidos por agentes públicos. Isso é o mínimo que a sociedade espera. É imperioso que exerçam o comando de fato sobre as forças de segurança sob sua responsabilidade a fim de mantê-las dentro das balizas da boa técnica policial e, principalmente, do respeito ao Estado Democrático de Direito.

É dever constitucional dos governadores dotar as polícias de recursos humanos e materiais, inteligência e preparo técnico para prover segurança pública com eficácia, sem jamais condescender com ilegalidades ou erros fatais. Nenhuma política de segurança será bem-sucedida se for sustentada em ações arbitrárias, em violência descontrolada ou no descaso com a vida de inocentes. Pelo contrário: esse modo de agir apenas reforça a desconfiança da população em relação à capacidade do Estado de lhe proteger, alimenta o medo e perpetua um círculo vicioso que banaliza a barbárie.

Ordem mundial em momento de tensão

Correio Braziliense

As novas tensões no Oriente Médio têm relação direta com os episódios de 7 de outubro de 2023, quando milícias do Hamas, um dos grupos apoiados pelo regime iraniano, deflagraram ataques terroristas contra civis israelenses

O conflito entre Israel e Irã complicou ainda mais ordem internacional, com reflexos políticos e econômicos imprevisíveis. A escalada de hostilidades atingiu nível tão alto, que se viu refletida na reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, realizada na última sexta-feira. No encontro, encerrado sem nenhuma sinalização de acordo, o representante do governo dos Estados Unidos, McCoy Pitt, advertiu o Irã da temeridade de lançar um contra-ataque às bases norte-americanas. Por sua vez, o enviado do Irã ao Conselho de Segurança, Amir Saeid Iravani, afirmou que o ataque de Israel é uma "declaração de guerra" e que os Estados Unidos são cúmplices.

As novas tensões no Oriente Médio têm relação direta com os episódios de 7 de outubro de 2023, quando milícias do Hamas, um dos grupos apoiados pelo regime iraniano, deflagraram ataques terroristas contra civis israelenses. Mais de 1,2 mil pessoas morreram na ofensiva. Desde então, o governo de Benjamin Netanyahu iniciou uma guerra permanente aos seus inimigos. Começou pela reação violenta em Gaza, a ponto de muitos, como o presidente Lula, a considerarem um genocídio contra o povo palestino. Seguiu-se com ataques ao Hezbollah, no Líbano, a fim de neutralizar outro grupo apoiado pelo Irã. E ganhou novo capítulo na última quinta-feira, quando Tel-Aviv atacou diretamente bases nucleares iranianas.

Há décadas as tensões no Oriente Médio têm desafiado a comunidade internacional. Além das Nações Unidas e das potências europeias, os Estados Unidos têm atuado ao longo dos anos para manter um equilíbrio na região. O atual momento, entretanto, se mostra delicado em razão das circunstâncias, por três razões.

Em primeiro lugar, a intempestividade do presidente Donald Trump é um fator de instabilidade, na medida em que não oferece garantia de avanços diplomáticos. Como de praxe, os Estados Unidos mantêm a aliança histórica com Israel. Mas buscam um acordo nuclear com Irã, a essa altura com chances remotas de sucesso. Não seria surpresa se Donald Trump, assim como fez na guerra entre Rússia e Ucrânia, deixasse o conflito prosseguir, sem medidas efetivas para interromper a carnificina.

O segundo ponto desfavorável são as intenções nucleares do Irã. Por reiteradas vezes, o regime dos aiatolás se nega a dar transparência ao seu programa nuclear, negando o acesso à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A morte de comandantes militares e de cientistas nucleares provocadas pelos ataques israelenses de quinta-feira impôs sérias perdas ao programa nuclear comandado por Ali Khamenei. Mas despertou um sentimento de vingança, que já começou a dar sinais com ataques retaliativos a Tel-Aviv na sexta-feira.

Um terceiro fator preocupante é a fragilidade do sistema multilateral. Após o fracasso na resolução do conflito entre Ucrânia e Rússia, em curso há mais de três anos, é improvável que tratativas no âmbito da ONU tragam algum resultado para uma guerra no Oriente Médio. Afinal, o confronto envolve países com poderio nuclear em uma região estratégica para a produção de petróleo, com efeitos econômicos de potencial devastador.

O mundo entra em uma curva perigosa. É dever das nações impedir que a tensão no Oriente Médio caminhe para o conflito aberto e incontrolável.

Por mais zelo ao patrimônio público de Fortaleza

O Povo (CE)

Acumulam-se queixas relacionadas à preservação do patrimônio de Fortaleza, com exemplos repetidos de depredação. Nos últimos dias, O POVO publicou matérias sobre alguns desses casos. É preciso acompanhar a situação de cada bem da Cidade, em respeito e atenção ao patrimônio que é público.

Um desses casos foi o da estátua de General Sampaio, furtada na capital cearense e nunca recolocada. Importante combatente das forças do Exército Brasileiro (EB), o general, por seu destaque em batalha, foi homenageado com uma estátua em um pedestal, na praça do 23º Batalhão de Caçadores do Exército (BC), no Bairro de Fátima.

Devido ao seu destaque em campanhas militares, o tamborilense Antônio de Sampaio, mais conhecido como General Sampaio, teve seu nome incluído no livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, em 2009. Daí, percebe-se o reconhecimento de seu trabalho. A estátua de cobre em sua homenagem, material que, à época, era considerada muito valioso, foi implantada entre os anos de 1987 e 1988. Foi furtada há cerca de 15 anos. Até os dias atuais, nenhum monumento foi recolocado no lugar.

No bairro Presidente Kennedy, está em más condições a pracinha do Parque Rachel de Queiroz. Os brinquedos estão deteriorados, com o risco de causar acidentes às crianças. Carentes de reparos, alguns estão com as correntes arrebentadas e com parte do escorregador afundada. Na visita do O POVO ao local, havia muitas poças de lama. Usuários do local também reclamaram que a gangorra estava solta e havia partes faltantes no escorregador, podendo ocasionar acidente para os frequentadores.

Outro ponto de atenção é a escultura "La Femme Bateau", danificada um ano após voltar à Praia de Iracema. A obra do artesão cearense Sérvulo Esmeraldo está com o leme danificado e com movimento comprometido. A escultura cinética é feita em fibra de vidro e aço inox. A "cabeleira", a parte que simula a fumaça de um barco, não muda de posição independentemente do ângulo em que é avistada na orla. Em 2018, a obra foi levada pelo mar durante uma ressaca. Ficou prejudicada, mas não chegou a quebrar. A reinstalação da escultura foi feita em 24 de junho de 2024.

Esses são alguns casos apurados recentemente pelo O POVO que dão uma mostra, pequena, mas significativa, do quanto o patrimônio público precisa ser respeitado. Isso significa ter uma vigilância para evitar depredação e outras avarias. É uma situação que exige educação da sociedade a fim de entender que as obras e os espaços são de todos e, assim, precisam ser cuidados. Além disso, é uma obrigação dos governos - independentemente das gestões - de zelar pelos bens.

É comum realizar grandes eventos quando há inaugurações ou reaberturas de monumentos e demais espaços públicos. Louvam-se os governos pela iniciativa, o que é aceitável diante da ação. Não pode, porém, parar ali. É necessário que esses locais sejam cuidados. Senão, além do desperdício de dinheiro público, há o desrespeito à população e aos envolvidos - o que é imensurável. 

 

 

 

 

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