sexta-feira, 12 de maio de 2017

Dilma usava ‘Iolanda’ para avisar sobre a Lava-Jato

Dois e-mails secretos foram criados para que Mônica Moura e a então presidente Dilma pudessem se corresponder, segundo a delatora. Mônica contou que Dilma usava esses e-mails para avisá-la sobre a Lava-Jato. Um dos e-mails era iolanda2606@gmail.com. Investigada por obstrução de Justiça, a ex-presidente nega.

E-mail de ‘Iolanda’ era canal com Dilma, diz Mônica Moura

Empresária afirma que petista a informava sobre a Lava-Jato; ela nega

Eduardo Bresciani | O Globo

-BRASÍLIA- E-mails secretos atribuídos à ex-presidente Dilma Rousseff fazem parte de um inquérito contra a petista no Supremo Tribunal Federal (STF) como indícios da prática de obstrução de Justiça. Segundo o relato da empresária Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, dois e-mails foram criados para que ela e Dilma pudessem se corresponder sem deixar vestígios.

Um dos endereços eletrônicos era iolanda2606@gmail.com. De acordo com a delatora, Dilma recebia informações pelo então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e utilizava esses e-mails para avisar Mônica sobre avanços das investigações da Lava-Jato. A ex-presidente nega a afirmação. Para ela, o casal prestou “falso testemunho”, “pressionado por ameaças de investigadores”.

Mônica conta que recebeu um telefonema, em novembro de 2014, informando que Dilma precisava vê-la com urgência. A empresária voltou de Nova York, onde estava em férias, para se reunir com Dilma.

Segundo o relato, as duas conversaram nos jardins do Palácio da Alvorada, e a então presidente demonstrou preocupação com o fato de o casal receber recursos, que seriam de sua campanha, no exterior. Dilma, então, teria levantado a necessidade de se criar uma forma de comunicação segura. Aí surgiu o primeiro e-mail, por ideia da empresária. A conta foi criada em um computador de Dilma, no Palácio e na presença de Giles Azevedo, então chefe de gabinete.

“Mônica Moura combinou com Dilma Rousseff, então, um meio seguro de ser avisada sobre o andamento da Operação LavaJato, em especial no que se referia a ela e João Santana. Mônica Moura, então, criou ali mesmo, no computador da presidente (notebook), na biblioteca do Palácio da Alvorada, um e-mail do Google (Gmail), com nome e dados fictícios, cuja senha era de conhecimento de Mônica Moura, da presidente Dilma e de seu assessor Giles Azevedo, que acompanhou essa parte da conversa (criação do e-mail)”, afirma a empresária na delação.

Na petição em que pediu a inclusão das informações no inquérito já aberto contra Dilma por obstrução de Justiça, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma que a empresária relatou ainda ter recebido orientação de Dilma para que as contas do casal fossem retiradas da Suíça, bem como que os dois permanecessem fora do país. Há a informação de que um dos motivos que teriam preocupado Dilma foi a descoberta das contas de Eduardo Cunha na Suíça.

Um novo e-mail foi criado em abril de 2015. Naquela ocasião, o casal esteve no Palácio da Alvorada para gravar um pronunciamento para o dia 1º de maio. Dilma novamente conversou a sós com Mônica, e elas criaram uma nova conta. Segundo o relato, os dois endereços foram usados até fevereiro de 2016, quando o casal foi preso. Para evitar o rastreamento, os e-mails eram escritos como rascunho e salvos sem enviar. Giles, então, mandava mensagem genérica para que Mônica entrasse no e-mail.

“PODE NOS AJUDAR NISSO, NÉ?”
Os alertas de Dilma também eram feitos pessoalmente, afirmou Mônica. “Precisamos manter contato frequente de uma forma segura para que eu lhe avise sobre o andamento da operação, estou sendo informada de tudo frequentemente pelo José Eduardo Cardozo”, teria dito Dilma.

Por e-mail, a última mensagem supostamente enviada por Dilma foi às vésperas da prisão do casal. O texto era cifrado: “O seu grande amigo está muito doente. Os médicos consideram que o risco é máximo. O pior é que a esposa, que sempre tratou dele, agora está com câncer e com o mesmo risco. Os médicos acompanham os dois, dia e noite”. O casal estava no exterior quando a prisão foi decretada. Antes de voltar, Mônica usou o email para pedir a Dilma que não houvesse espetáculo. “Vamos visitar nosso amigo querido amanhã. Espero não ter nenhum espetáculo nos esperando. Acho que pode nos ajudar nisso, né?”, escreveu Mônica.

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