Ricardo Noblat
DEU EM O GLOBO
Que jamais me faltem a franqueza e a coragem do deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), autor da celebrada frase “Estou me lixando para a opinião pública”. É por isso que saio em defesa dele: parabéns, Moraes! Enquanto a maioria dos seus colegas mente, maquia ou esconde o que pensa, você, não: diz o que pensa e depois vai tomar chimarrão em paz.
Descobriram que Heloísa Helena, presidente do PSOL e vereadora em Maceió, usou passagens do Senado para mandar o filho viajar. E que resposta deu Heloísa à pergunta se procedera bem ou mal? “Não tentem me misturar com esses bandidos”, exigiu com raiva. “Estou em paz com a minha consciência”. Fora a referência a bandidos, os demais senadores acusados de se beneficiarem de dinheiro público repetiram em coro o que disse Heloísa com a contundência que a caracteriza.
O que eles alegam? Que o costume avalizava a terceirização de passagens aéreas pagas com dinheiro público e reservadas só para eles voarem entre Brasília e seus Estados. Assim, um requisitava passagens para viajar com a família ao exterior, outro mimava com passagens a amante quase sempre insatisfeita, e outro ainda doava passagens a artistas dispostos a se divertirem, embolsar uma grana e prestigiar o bem-feitor em festinhas promovidas por ele. Ora, tenham dó. Às favas o costume se ele fere a lei!
É incoerente criticar os políticos quando mentem e também quando falam a verdade. A política resgataria boa parte da credibilidade perdida se nossos representantes, e aqueles que nos governam, seguissem o exemplo de Moraes de falar a verdade pelo menos uma vez. Ou mesmo o exemplo de Delúbio Soares, afastado do PT desde o escândalo do mensalão. Delúbio quer ser candidato a deputado. Precisa se filiar a um partido. Procurou o PT. Foi rejeitado. PT ingrato!
“Do que me acusam? Quantos são os políticos brasileiros que realizaram campanhas eleitorais sem que alguma soma, por menor que fosse, não tenha sido contabilizada?” – defendeu-se Delúbio durante reunião do Diretório Nacional do PT. Foi tratado com respeito. Estava ali um homem que prestou relevante serviço ao seu partido. E que agiu com autorização expressa ou velada dos seus superiores. Delúbio não traiu a confiança do PT. Correspondeu a ela. Calou e aguentou o tranco sozinho.
Delúbio tem pinta de bronco. Moraes é mais refinado do que parece. Sabe distinguir, por exemplo, entre opinião pública e opinião publicada. A primeira é difusa, volúvel, difícil de ser conferida – salvo em episódios que provocam reações unânimes. Por que o casal Nardoni está preso há mais de um ano à espera de julgamento? Porque a opinião pública o considera culpado pela morte da menina Isabella, jogada do sexto andar de um prédio em São Paulo. Há condenados pela Justiça flanando por aí.
Opinião publicada é... Bem, é tudo aquilo que nós, jornalistas, publicamos por achar certo ou imaginar que esteja em sintonia com a opinião pública. Erramos com freqüência ao confundir uma coisa com a outra. Mas não erramos deliberadamente, nem por mal. Quando a escravidão foi abolida no País, a maioria da elite branca e racista da época era a favor de sua manutenção. Acertaram os que escreveram ou falaram na contramão da opinião pública. Dá-se o mesmo em relação à falta de ética na política.
O cidadão que malha os políticos em geral e, em particular, os que são a bola da vez, dirige a uma velocidade além do permitido e atravessa a rua fora da faixa de pedestre. Se puder declarar que comprou um imóvel por menos do que de fato pagou por ele, declara para escapar do rigor do Fisco. É o voto desse tipo de cidadão que elege os Moraes da vida – e o Congresso está repleto deles. É também o voto dos desinformados, dos que trocam o voto por favores e dos sem memória. Cuidado: você pode ser um deles. Esses estão pouco se lixando para o que faça Moraes, Delúbio e aloprados de qualquer espécie.
DEU EM O GLOBO
Que jamais me faltem a franqueza e a coragem do deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), autor da celebrada frase “Estou me lixando para a opinião pública”. É por isso que saio em defesa dele: parabéns, Moraes! Enquanto a maioria dos seus colegas mente, maquia ou esconde o que pensa, você, não: diz o que pensa e depois vai tomar chimarrão em paz.
Descobriram que Heloísa Helena, presidente do PSOL e vereadora em Maceió, usou passagens do Senado para mandar o filho viajar. E que resposta deu Heloísa à pergunta se procedera bem ou mal? “Não tentem me misturar com esses bandidos”, exigiu com raiva. “Estou em paz com a minha consciência”. Fora a referência a bandidos, os demais senadores acusados de se beneficiarem de dinheiro público repetiram em coro o que disse Heloísa com a contundência que a caracteriza.
O que eles alegam? Que o costume avalizava a terceirização de passagens aéreas pagas com dinheiro público e reservadas só para eles voarem entre Brasília e seus Estados. Assim, um requisitava passagens para viajar com a família ao exterior, outro mimava com passagens a amante quase sempre insatisfeita, e outro ainda doava passagens a artistas dispostos a se divertirem, embolsar uma grana e prestigiar o bem-feitor em festinhas promovidas por ele. Ora, tenham dó. Às favas o costume se ele fere a lei!
É incoerente criticar os políticos quando mentem e também quando falam a verdade. A política resgataria boa parte da credibilidade perdida se nossos representantes, e aqueles que nos governam, seguissem o exemplo de Moraes de falar a verdade pelo menos uma vez. Ou mesmo o exemplo de Delúbio Soares, afastado do PT desde o escândalo do mensalão. Delúbio quer ser candidato a deputado. Precisa se filiar a um partido. Procurou o PT. Foi rejeitado. PT ingrato!
“Do que me acusam? Quantos são os políticos brasileiros que realizaram campanhas eleitorais sem que alguma soma, por menor que fosse, não tenha sido contabilizada?” – defendeu-se Delúbio durante reunião do Diretório Nacional do PT. Foi tratado com respeito. Estava ali um homem que prestou relevante serviço ao seu partido. E que agiu com autorização expressa ou velada dos seus superiores. Delúbio não traiu a confiança do PT. Correspondeu a ela. Calou e aguentou o tranco sozinho.
Delúbio tem pinta de bronco. Moraes é mais refinado do que parece. Sabe distinguir, por exemplo, entre opinião pública e opinião publicada. A primeira é difusa, volúvel, difícil de ser conferida – salvo em episódios que provocam reações unânimes. Por que o casal Nardoni está preso há mais de um ano à espera de julgamento? Porque a opinião pública o considera culpado pela morte da menina Isabella, jogada do sexto andar de um prédio em São Paulo. Há condenados pela Justiça flanando por aí.
Opinião publicada é... Bem, é tudo aquilo que nós, jornalistas, publicamos por achar certo ou imaginar que esteja em sintonia com a opinião pública. Erramos com freqüência ao confundir uma coisa com a outra. Mas não erramos deliberadamente, nem por mal. Quando a escravidão foi abolida no País, a maioria da elite branca e racista da época era a favor de sua manutenção. Acertaram os que escreveram ou falaram na contramão da opinião pública. Dá-se o mesmo em relação à falta de ética na política.
O cidadão que malha os políticos em geral e, em particular, os que são a bola da vez, dirige a uma velocidade além do permitido e atravessa a rua fora da faixa de pedestre. Se puder declarar que comprou um imóvel por menos do que de fato pagou por ele, declara para escapar do rigor do Fisco. É o voto desse tipo de cidadão que elege os Moraes da vida – e o Congresso está repleto deles. É também o voto dos desinformados, dos que trocam o voto por favores e dos sem memória. Cuidado: você pode ser um deles. Esses estão pouco se lixando para o que faça Moraes, Delúbio e aloprados de qualquer espécie.
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