Os esquemas de emergência estão funcionando razoavelmente bem no interior, a solidariedade da população continua muito alta e neutraliza a desorganização oficial, que é grande, e ao mesmo tempo são preocupantes os relatos de prefeitos e voluntários que estão nos locais mais atingidos. Há o receio de que o tamanho da tragédia seja muito maior do que se divulga oficialmente.
Até agora existem ainda muitas áreas inatingíveis pelos serviços de socorro, muitas áreas soterradas, muita gente desaparecida.
É possível que o número de mortos passe de mil, um número que pode ser maior ainda se levarmos em conta que vilas inteiras, pequenas cidades inteiras, foram soterradas.
Conversei com um motorista que participou no fim de semana de resgates em Nova Friburgo, que me relatou fatos impressionantes.
A equipe da qual fazia parte chegou a uma área que estava isolada há dias, e um sobrevivente contava que debaixo daquele lamaçal todo um dia houve uma praça, um comércio típico do interior. Tudo agora encoberto por uma camada profunda de lama e entulho.
Não há possibilidade de saber quantas pessoas estão soterradas. É bem possível que dezenas, centenas de corpos não sejam encontrados.
A partir dessa tragédia de proporções nunca antes vistas no país (nesse caso vale a comparação, que se banalizou no governo Lula), há alguns avanços que podem ser obtidos.
O mais importante seria mudar essa nossa cultura, que nos coloca mobilizados solidariamente para ajudar os atingidos pela catástrofe, mas não privilegia a prevenção como ação de cidadania.
O tamanho da tragédia pode obrigar as autoridades dos três níveis de governo (municipal, estadual e federal) a entrarem em uma nova fase, em que flertar com a irresponsabilidade e o descaso pode significar o fim de um projeto político, pela reação do eleitorado à demagogia e às promessas vãs.
Este é um pensamento otimista, que a nossa realidade não autoriza. Mas, num momento desses, é preciso ter esperanças de que alguma coisa mude para melhor.
É o caso do economista José Roberto Afonso, que tem casa no Vale do Cuiabá e está empenhado em transformar o que aconteceu lá num "case" de virada. O local está tão destruído, diz ele, que é hora de refazer tudo. "Nem é recuperar ou reconstruir, porque não dá para voltar ao que era. Vamos fazer algo novo e diferente, e, se Deus quiser, melhor".
A prefeitura do Rio está montando um sofisticado sistema de previsão do tempo, cujo novo radar meteorológico, instalado no Alto do Sumaré, na Zona Norte da cidade, captou a possibilidade de chuvas fortes, mas a previsão não teve resultados porque não existe um sistema integrado na Defesa Civil que permita dar consequência operacional às informações dos satélites e radares.
É o que vai se tentar montar com o novo sistema de previsão do tempo da cidade. A previsão, hoje com até seis horas de antecedência da chegada de tempestades, será melhorada com o funcionamento de um sistema de alta resolução que, segundo a prefeitura, fará previsões com 80% de acerto e até 48 horas de antecedência.
Também o sistema de alarme comunitário para chuvas fortes no Rio vai ter uma rede de 60 sirenes espalhadas pela cidade, com membros da Defesa Civil devidamente capacitados dando treinamento para os moradores das comunidades com áreas de risco.
Em nível nacional, o sistema de alertas e prevenção anunciado há cinco anos já está em testes para começar a funcionar nas regiões mapeadas no meio do ano. Será implantado gradativamente ao longo do tempo.
Essa questão de treinamentos e prevenção é fundamental. Lembro-me que quando morei na Califórnia, em 1990, a casa que alugamos tinha no quintal dois enormes contêineres com provisões para uma semana de sobrevivência em caso de terremotos, o grande problema da região.
E havia também na casa um vídeo com instruções sobre como agir caso um terremoto atingisse a área.
Também na Universidade de Stanford havia treinamentos nas salas de aula sobre como reagir quando a sirene de alarme soasse.
Na Alemanha, há uma rádio oficial que transmite apenas mensagens sobre as condições das estradas e as previsões climáticas, e, quando há algum acidente no percurso, a rádio oficial interrompe a programação normal e passa a dominar o noticiário naquela região em que é preciso dar informações para os cidadãos.
A tragédia na Serra do Rio pode levar também a uma mudança de atitude dos parlamentares em relação ao novo Código Florestal, que estava sendo aprovado com a força da bancada ruralista, apesar dos protestos das ONGs preservacionistas.
Ficou agora no ar a ameaça de que as mudanças possam ampliar os riscos em algumas regiões, em vez de apenas incentivar a agricultura, que é declaradamente seu objetivo, especialmente o pequeno agricultor.
O texto não considera topos de morros como áreas de preservação permanente, e libera a construção de casas em encostas, além de reduzir a faixa de preservação nas margens de rios.
Essas mudanças agora poderão ser discutidas com mais vagar, para compatibilizar a necessidade de incentivar a agricultura com a cultura de prevenção de desastres ambientais que se quer implantar.
A se crer na versão dos produtores do filme "Lula, o filho do Brasil", a mesma política que colocou o filme inexplicavelmente como o representante do Brasil na disputa do Oscar o tirou da corrida ontem.
Na política interna, a popularidade do biografado foi incapaz de transformar o filme em sucesso de crítica ou público, mas teve força para indicá-lo representante oficial do país no Oscar de filme estrangeiro.
Na política externa, a relação quase de amizade entre o presidente Lula e o ditador iraniano Mahmoud Ahmadinejad, e a posição de boa vontade do governo brasileiro com o programa nuclear do Irã, levou a uma reação negativa do governo dos Estados Unidos e de Israel.
Segundo Paula Barreto, produtora do filme, ele foi prejudicado por isso em Nova York devido a um boicote de distribuidores judeus.
Também em Hollywood a influência de produtores e distribuidores judeus é reconhecidamente forte, e seria surpreendente que "Lula, o filho do Brasil" pudesse ser selecionado.
FONTE: O GLOBO
Até agora existem ainda muitas áreas inatingíveis pelos serviços de socorro, muitas áreas soterradas, muita gente desaparecida.
É possível que o número de mortos passe de mil, um número que pode ser maior ainda se levarmos em conta que vilas inteiras, pequenas cidades inteiras, foram soterradas.
Conversei com um motorista que participou no fim de semana de resgates em Nova Friburgo, que me relatou fatos impressionantes.
A equipe da qual fazia parte chegou a uma área que estava isolada há dias, e um sobrevivente contava que debaixo daquele lamaçal todo um dia houve uma praça, um comércio típico do interior. Tudo agora encoberto por uma camada profunda de lama e entulho.
Não há possibilidade de saber quantas pessoas estão soterradas. É bem possível que dezenas, centenas de corpos não sejam encontrados.
A partir dessa tragédia de proporções nunca antes vistas no país (nesse caso vale a comparação, que se banalizou no governo Lula), há alguns avanços que podem ser obtidos.
O mais importante seria mudar essa nossa cultura, que nos coloca mobilizados solidariamente para ajudar os atingidos pela catástrofe, mas não privilegia a prevenção como ação de cidadania.
O tamanho da tragédia pode obrigar as autoridades dos três níveis de governo (municipal, estadual e federal) a entrarem em uma nova fase, em que flertar com a irresponsabilidade e o descaso pode significar o fim de um projeto político, pela reação do eleitorado à demagogia e às promessas vãs.
Este é um pensamento otimista, que a nossa realidade não autoriza. Mas, num momento desses, é preciso ter esperanças de que alguma coisa mude para melhor.
É o caso do economista José Roberto Afonso, que tem casa no Vale do Cuiabá e está empenhado em transformar o que aconteceu lá num "case" de virada. O local está tão destruído, diz ele, que é hora de refazer tudo. "Nem é recuperar ou reconstruir, porque não dá para voltar ao que era. Vamos fazer algo novo e diferente, e, se Deus quiser, melhor".
A prefeitura do Rio está montando um sofisticado sistema de previsão do tempo, cujo novo radar meteorológico, instalado no Alto do Sumaré, na Zona Norte da cidade, captou a possibilidade de chuvas fortes, mas a previsão não teve resultados porque não existe um sistema integrado na Defesa Civil que permita dar consequência operacional às informações dos satélites e radares.
É o que vai se tentar montar com o novo sistema de previsão do tempo da cidade. A previsão, hoje com até seis horas de antecedência da chegada de tempestades, será melhorada com o funcionamento de um sistema de alta resolução que, segundo a prefeitura, fará previsões com 80% de acerto e até 48 horas de antecedência.
Também o sistema de alarme comunitário para chuvas fortes no Rio vai ter uma rede de 60 sirenes espalhadas pela cidade, com membros da Defesa Civil devidamente capacitados dando treinamento para os moradores das comunidades com áreas de risco.
Em nível nacional, o sistema de alertas e prevenção anunciado há cinco anos já está em testes para começar a funcionar nas regiões mapeadas no meio do ano. Será implantado gradativamente ao longo do tempo.
Essa questão de treinamentos e prevenção é fundamental. Lembro-me que quando morei na Califórnia, em 1990, a casa que alugamos tinha no quintal dois enormes contêineres com provisões para uma semana de sobrevivência em caso de terremotos, o grande problema da região.
E havia também na casa um vídeo com instruções sobre como agir caso um terremoto atingisse a área.
Também na Universidade de Stanford havia treinamentos nas salas de aula sobre como reagir quando a sirene de alarme soasse.
Na Alemanha, há uma rádio oficial que transmite apenas mensagens sobre as condições das estradas e as previsões climáticas, e, quando há algum acidente no percurso, a rádio oficial interrompe a programação normal e passa a dominar o noticiário naquela região em que é preciso dar informações para os cidadãos.
A tragédia na Serra do Rio pode levar também a uma mudança de atitude dos parlamentares em relação ao novo Código Florestal, que estava sendo aprovado com a força da bancada ruralista, apesar dos protestos das ONGs preservacionistas.
Ficou agora no ar a ameaça de que as mudanças possam ampliar os riscos em algumas regiões, em vez de apenas incentivar a agricultura, que é declaradamente seu objetivo, especialmente o pequeno agricultor.
O texto não considera topos de morros como áreas de preservação permanente, e libera a construção de casas em encostas, além de reduzir a faixa de preservação nas margens de rios.
Essas mudanças agora poderão ser discutidas com mais vagar, para compatibilizar a necessidade de incentivar a agricultura com a cultura de prevenção de desastres ambientais que se quer implantar.
A se crer na versão dos produtores do filme "Lula, o filho do Brasil", a mesma política que colocou o filme inexplicavelmente como o representante do Brasil na disputa do Oscar o tirou da corrida ontem.
Na política interna, a popularidade do biografado foi incapaz de transformar o filme em sucesso de crítica ou público, mas teve força para indicá-lo representante oficial do país no Oscar de filme estrangeiro.
Na política externa, a relação quase de amizade entre o presidente Lula e o ditador iraniano Mahmoud Ahmadinejad, e a posição de boa vontade do governo brasileiro com o programa nuclear do Irã, levou a uma reação negativa do governo dos Estados Unidos e de Israel.
Segundo Paula Barreto, produtora do filme, ele foi prejudicado por isso em Nova York devido a um boicote de distribuidores judeus.
Também em Hollywood a influência de produtores e distribuidores judeus é reconhecidamente forte, e seria surpreendente que "Lula, o filho do Brasil" pudesse ser selecionado.
FONTE: O GLOBO
Nenhum comentário:
Postar um comentário