Para governo, economia se recupera em novembro, mas bola de neve de más notícias ainda continua
Outubro foi um mês ruim, que se seguiu a um trimestre de crescimento zero. Economistas do governo dizem que as informações mais recentes que lhes chegam indicam que em novembro a atividade econômica voltou a esquentar. Mas, em tão pouco tempo, terá sido possível matar no peito e baixar a bola de neve dos fatores que esfriam a economia desde meados do ano?
Outubro foi um mês pobre para o emprego formal. Foi quando se soube que os centros industriais do país entraram em recessão, digamos, pois encolhiam desde março.
Em meados do ano a construção civil deu uma rateada feia devido à contenção do dinheiro para as obras do Minha Casa, Minha Vida, dos investimentos federais em infraestrutura e devido a temores do empresariado de que o apetite do consumidor (e o crédito) para casas mais caras não será daqui em diante nem sombra do que foi em 2010.
Neste início de temporada de balanços de final de ano, conversas com associações setoriais e os próprios números das empresas abertas indicam que a rentabilidade dos negócios cai desde o início do ano.
Excluídos alguns setores como petróleo ou outros recursos naturais, a "evidência anedótica" (conversas informais) sugere que a direção da empresas colocou as barbas de molho. Ninguém parece apavorado, mas a tendência deste 2011 e incertezas domésticas e internacionais levaram muito empresário e executivo a "dar um tempo" até o início de 2012 antes de pensar em expansão (de emprego e investimento).
Há obviamente o medo derivado do desenvolvimento imponderável da crise na Europa e, ainda mais inescrutável, seu efeito no Brasil. Há dúvidas sobre se e quando serão sentidos os efeitos do desaperto monetário que o Banco Central iniciou no final de agosto. Há dúvidas sobre o efeito das variações cada vez mais incertas do dólar sobre custos e dívidas. Muita gente está ansiosa, esperando saber se e quando o governo federal vai acelerar os investimentos, contidos neste ano.
Observe-se, a respeito do aperto monetário, que o aumento do crédito novo para o consumidor neste ano deve ficar em um terço do registrado no ano passado. Ou o equivalente ao registrado em 2009, ano de estagnação do PIB (mantida a tendência do ano, na conta do economista Adriano Lopes, do Itaú, em relatório do banco a respeito do balanço do crédito brasileiro em outubro, divulgado ontem pelo Banco Central).
Apesar de dizer que seus dados apontam retomada em novembro, o governo discute internamente se, a fim de impulsionar o consumo, reduz o imposto sobre crédito (IOF), que aumentou justamente para conter excessos nos financiamentos.
Acrescente-se enfim que o efeito mais direto do tumulto financeiro europeu e da baixa no crescimento mundial ainda mal se sente por aqui. O impacto maior parece ter ocorrido, por ora, na confiança de empresários. Houve redução na rolagem e na captação de (alguns) de empréstimos internacionais, mas em parte porque as próprias empresas brasileiras passaram a jogar mais na retranca. Isto é, o dinheiro grosso do mundo por ora não virou as costas para o país.
Mas a crise na Europa apenas piora. Avança para os países centrais. E os estímulos econômicos do governo devem surtir efeito pleno lá por volta do Carnaval.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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