domingo, 1 de junho de 2025

A caminho de uma crise como a de 2008? - J. R. Mendonça de Barros

O Estado de S. Paulo

Os mercados de risco insistem em avaliar que as tarifas do Trump não são um grande problema

A probabilidade de uma crise financeira, nos moldes da de 2008, está se elevando rápido. E são várias as razões para isso.

A incerteza segue gigantesca: poucos dias após o anúncio de um acordo EUA/China sobre tarifas, Trump dispara dois torpedos que desmontaram o ambiente de cordialidade. O Executivo americano anunciou diretriz dificultando as exportações de chips, ao lado da ameaça de cancelamento dos vistos dos mais de 270 mil estudantes chineses registrados nas universidades americanas.

Ademais, as relações diplomáticas em geral seguem agressivas com todo o mundo, exceto Rússia e Israel. Basta lembrar as emboscadas armadas para os presidentes da Ucrânia e da África do Sul na sede do governo.

O mundo reage, procurando diminuir sua dependência de exportações para os Estados Unidos e o volume de suas posições compradas em títulos do Tesouro americano. Entretanto, dado o tamanho da maior economia do mundo, isso só será feito lentamente, ao longo do tempo.

Simultaneamente, é seguro que os déficits fiscais crescentes levarão o Tesouro americano a ter que vender quantidades enormes de títulos. Dada certa desconfiança quanto ao risco desses ativos, é certo que o juro real americano terá que subir.

Assim, caiu como uma pedra o disposto no capítulo 899 do Orçamento, que permitiria às autoridades americanas taxarem a renda de investidores de todos os países do mundo no mercado financeiro americano.

Finalmente, continua sendo seguro que a inflação vai subir e a economia irá desacelerar, além do que ocorreu no primeiro trimestre deste ano.

É cada vez mais claro que a política trumpiana tem grande dose de radicalismo sem nenhuma consistência interna, pelo menos na área econômica.

Os mercados de risco, entretanto, insistem em avaliar que as tarifas não são um grande problema e simplesmente desconhecem ou desconsideram o problema fiscal, enquanto bombam as cotações na área de renda variável e no segmento de criptomoedas.

Vale a pena reter a observação de Edward Luce, do Financial Times, expressa em sua coluna de 27 de maio recente (numa tradução livre): “Enquanto mais déficit é produzido por Washington, Trump está desencadeando uma espécie de faroeste com criptomoedas, inteligência artificial e, até certo ponto, com o setor bancário. Seria melodramático prever o destronamento iminente do dólar como moeda de reserva. As condições para uma crise financeira global, por outro lado, deveriam ser levadas a sério.”

 

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