O Estado de S. Paulo
Os mercados de risco insistem em avaliar que as tarifas do Trump não são um grande problema
A probabilidade de uma crise financeira, nos
moldes da de 2008, está se elevando rápido. E são várias as razões para isso.
A incerteza segue gigantesca: poucos dias após o anúncio de um acordo EUA/China sobre tarifas, Trump dispara dois torpedos que desmontaram o ambiente de cordialidade. O Executivo americano anunciou diretriz dificultando as exportações de chips, ao lado da ameaça de cancelamento dos vistos dos mais de 270 mil estudantes chineses registrados nas universidades americanas.
Ademais, as relações diplomáticas em geral
seguem agressivas com todo o mundo, exceto Rússia e Israel. Basta lembrar as
emboscadas armadas para os presidentes da Ucrânia e da África do Sul na sede do
governo.
O mundo reage, procurando diminuir sua dependência de exportações para os Estados Unidos e o volume de suas posições compradas em títulos do Tesouro americano. Entretanto, dado o tamanho da maior economia do mundo, isso só será feito lentamente, ao longo do tempo.
Simultaneamente, é seguro que os déficits
fiscais crescentes levarão o Tesouro americano a ter que vender quantidades
enormes de títulos. Dada certa desconfiança quanto ao risco desses ativos, é
certo que o juro real americano terá que subir.
Assim, caiu como uma pedra o disposto no
capítulo 899 do Orçamento, que permitiria às autoridades americanas taxarem a
renda de investidores de todos os países do mundo no mercado financeiro
americano.
Finalmente, continua sendo seguro que a
inflação vai subir e a economia irá desacelerar, além do que ocorreu no
primeiro trimestre deste ano.
É cada vez mais claro que a política
trumpiana tem grande dose de radicalismo sem nenhuma consistência interna, pelo
menos na área econômica.
Os mercados de risco, entretanto, insistem em
avaliar que as tarifas não são um grande problema e simplesmente desconhecem ou
desconsideram o problema fiscal, enquanto bombam as cotações na área de renda
variável e no segmento de criptomoedas.
Vale a pena reter a observação de Edward
Luce, do Financial Times, expressa em sua coluna de 27 de maio recente (numa
tradução livre): “Enquanto mais déficit é produzido por Washington, Trump está
desencadeando uma espécie de faroeste com criptomoedas, inteligência artificial
e, até certo ponto, com o setor bancário. Seria melodramático prever o
destronamento iminente do dólar como moeda de reserva. As condições para uma
crise financeira global, por outro lado, deveriam ser levadas a sério.”
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