O Estado de S. Paulo
Quem são os dois generais que o Exército
ainda espera que sejam absolvidos do golpe?
Ao não tornar réus o general Nilton Diniz
Rodrigues e o coronel Cleverson Ney Magalhães, a Primeira Turma do Supremo
abriu uma porta – ou lançou uma esperança – para que outros militares sejam
absolvidos ao longo do julgamento pela tentativa de golpe. Os dois mais citados
por chefes e colegas no Exército são os generais da reserva Augusto Heleno e
Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira.
Há uma percepção de que o relator do golpe no STF, Alexandre de Moraes, teve dúvidas sobre os “kid pretos” Nilton e Cleverson, citados numa reunião do grupo sobre o golpe, e se informou com a cúpula do Exército, inclusive com o comandante Tomás Paiva, antes de votar pela absolvição. Logo, a consulta pode se repetir no julgamento.
Militares de alta patente preveem condenações
duras para oficiais generais como Mário Fernandes e Walter Braga Netto (preso
desde 12/2024), do Exército, e Almir Garnier, da Marinha. Porém, seja por
convicção ou puro companheirismo, argumentam que Heleno é “só um falastrão
metido a valente” e que Theophilo “não atuou em nada, entrou de gaiato”.
Não é tão simples. Ex-chefe do Comando de
Operações Terrestres do Exército (Coter),
Theophilo é acusado de integrar o núcleo de
suporte e execução de ações, como o sequestro de Alexandre de Moraes. Em
mensagens no celular do tenente-coronel Mauro Cid, peça-chave no inquérito, ele
relata que Theophilo teria colocado tropas à disposição do golpe numa reunião
com Jair Bolsonaro, já derrotado, em 9/12/2022. O Coter não tem tropas, mas
aciona tropas para operações especiais.
Já Heleno, primeiro de turma nos principais
cursos de acesso do oficialato, é respeitado e querido no Exército. Aos 77
anos, fala tudo que vem à cabeça e, para os colegas, não era levado a sério por
Bolsonaro, nem participava das reuniões havia tempo. Porém, há provas contra
ele do início ao fim.
Heleno foi o primeiro oficial de peso a
apoiar e atrair o Exército para Bolsonaro, em 2018. Foi chefe do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI), no Planalto, e, numa reunião com o presidente,
em 6/2022, diz que, se tiver de “virar a mesa”, tem de ser antes das eleições.
E conclama: “Nós vamos ter de agir contra determinadas instituições e
determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro”.
A PF também tem um caderno com sua letra
detalhando o golpe, no qual ele seria o interventor militar. É difícil escapar,
assim como Braga Netto e Mário Fernandes, que também era do Planalto e
participava do plano para assassinar Moraes, Lula e Alckmin. “Quatro linhas da
Constituição é o caceta”, pregou. Mas é por essas quatro linhas que está diante
das grades.
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