domingo, 1 de junho de 2025

Convicção ou companheirismo? – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Quem são os dois generais que o Exército ainda espera que sejam absolvidos do golpe?

Ao não tornar réus o general Nilton Diniz Rodrigues e o coronel Cleverson Ney Magalhães, a Primeira Turma do Supremo abriu uma porta – ou lançou uma esperança – para que outros militares sejam absolvidos ao longo do julgamento pela tentativa de golpe. Os dois mais citados por chefes e colegas no Exército são os generais da reserva Augusto Heleno e Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira.

Há uma percepção de que o relator do golpe no STF, Alexandre de Moraes, teve dúvidas sobre os “kid pretos” Nilton e Cleverson, citados numa reunião do grupo sobre o golpe, e se informou com a cúpula do Exército, inclusive com o comandante Tomás Paiva, antes de votar pela absolvição. Logo, a consulta pode se repetir no julgamento.

Militares de alta patente preveem condenações duras para oficiais generais como Mário Fernandes e Walter Braga Netto (preso desde 12/2024), do Exército, e Almir Garnier, da Marinha. Porém, seja por convicção ou puro companheirismo, argumentam que Heleno é “só um falastrão metido a valente” e que Theophilo “não atuou em nada, entrou de gaiato”.

Não é tão simples. Ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter),

Theophilo é acusado de integrar o núcleo de suporte e execução de ações, como o sequestro de Alexandre de Moraes. Em mensagens no celular do tenente-coronel Mauro Cid, peça-chave no inquérito, ele relata que Theophilo teria colocado tropas à disposição do golpe numa reunião com Jair Bolsonaro, já derrotado, em 9/12/2022. O Coter não tem tropas, mas aciona tropas para operações especiais.

Já Heleno, primeiro de turma nos principais cursos de acesso do oficialato, é respeitado e querido no Exército. Aos 77 anos, fala tudo que vem à cabeça e, para os colegas, não era levado a sério por Bolsonaro, nem participava das reuniões havia tempo. Porém, há provas contra ele do início ao fim.

Heleno foi o primeiro oficial de peso a apoiar e atrair o Exército para Bolsonaro, em 2018. Foi chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), no Planalto, e, numa reunião com o presidente, em 6/2022, diz que, se tiver de “virar a mesa”, tem de ser antes das eleições. E conclama: “Nós vamos ter de agir contra determinadas instituições e determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro”.

A PF também tem um caderno com sua letra detalhando o golpe, no qual ele seria o interventor militar. É difícil escapar, assim como Braga Netto e Mário Fernandes, que também era do Planalto e participava do plano para assassinar Moraes, Lula e Alckmin. “Quatro linhas da Constituição é o caceta”, pregou. Mas é por essas quatro linhas que está diante das grades.

 

Nenhum comentário: