Se já andava assustado com a escalada do preço da gasolina, o brasiliense pode se preparar para outra notícia ruim: há risco de postos do Distrito Federal ficarem sem estoque do produto nos próximos dias. Alguns estabelecimentos reclamam que o abastecimento pelas distribuidoras está sendo feito com atraso e em quantidade menor do que a encomendada. No DF, já há casos de bombas que chegaram a ser fechadas por falta do combustível. Em parte, o problema se deve à escassez do álcool anidro, que é misturado à gasolina. E também a um grande aumento de consumo.
Escassez de gasolina afeta postos do DF
Disparada no preço do etanol e alto consumo fazem com que as distribuidoras tenham dificuldades em cumprir a demanda. Há casos de bombas fechadas por problemas de estoque
Diego Amorim e Juliana Boechat
O que era apenas uma ameaça começa a virar realidade: postos de combustíveis do Distrito Federal podem ficar sem estoque de gasolina nos próximos dias. O risco da falta de abastecimento ganhou força na última semana e preocupa os revendedores. Com a disparada no preço do etanol, o consumo se concentrou na gasolina e, como nunca antes, pressionou as distribuidoras, que não têm conseguido atender a demanda. O carregamento das bombas, principalmente nos estabelecimentos sem vínculo com fornecedores — conhecidos como bandeira branca —, está sendo feito com atraso e em quantidade menor do que a encomendada.
Na semana passada, o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, sinalizou que poderia faltar gasolina em algumas localidades do país por conta da escassez do álcool anidro, que é adicionado à gasolina na proporção de 25%. O governo federal estuda diminuir esse percentual para conter os aumentos, mas até agora não tomou a decisão. Apesar da tentativa oficial de não alardear a informação — a Petrobras nega a possibilidade de falta de combustível —, as cotas de gasolina não têm sido atendidas em sua totalidade. Por enquanto, os problemas são encarados como pontuais e localizados. A insegurança, porém, deixa apreensivos empresários do setor.
Todas as bombas de gasolina do posto Shell da 314 Sul passaram o dia de ontem isoladas por cones. O fornecedor atrasou a entrega do combustível, que deveria ter sido feita na última quarta-feira. Até amanhã, serão vendidos apenas álcool e diesel. Frentistas foram dispensados antes do fim do expediente, devido ao baixo movimento. Funcionários também saíram antes do horário em um estabelecimento de mesma bandeira na W3 Norte. O caixa Júlio Maciel, no entanto, negou problema de abastecimento. Por volta das 17h, um caminhão entregava 15 mil litros de gasolina.
Em um posto da bandeira Esso, na Quadra 8 de Sobradinho, o chefe de pista levou um susto quando os caminhões chegaram ontem para renovar o estoque. Ele havia encomendado 24 mil litros de gasolina. Só entregaram 16 mil — apenas dois terços do pedido —, e com um dia de atraso. “Foi uma surpresa. Disseram que o estoque na base está baixo e que não tinham mais do que aquilo”, contou João Batista. O problema, acrescentou ele, é que como o posto não aumentou a gasolina de R$ 2,94 para R$ 3,02 — como já fizeram alguns —, as vendas continuaram aquecidas, o que ameaça o abastecimento. “Se continuar desse jeito, segunda (amanhã) acaba.”
Nos estabelecimentos de bandeira branca, a situação é ainda mais complicada. “Se não fizerem nada, estamos correndo o risco de ficar sem gasolina”, reconheceu o gerente de um posto na 214 Norte, Rafael Santana. Ele contou que geralmente pesquisa preço em cinco distribuidoras antes de fechar negócio. Com a escassez do álcool anidro, apenas uma está oferecendo combustível para Brasília, segundo ele. “Estão alegando que o estoque está vazio mesmo. Com uma apenas no mercado, não podemos mais pechinchar. Ela coloca o preço que quer e a gente compra. Nossa margem de lucro despencou”, comentou, sem querer precisar por quanto está comprando o litro. “Acima de R$ 2,60”, limitou-se a dizer.
Dificuldades
O presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), Alísio Vaz, confirmou que há dificuldade na distribuição. “Bandeira branca não é parâmetro. O produto existe e a rede está sendo atendida. O que está acontecendo é um atraso na entrega, por conta de gargalos logísticos”, afirmou. De acordo com ele, a situação só deve ser normalizada em “meados de maio”, quando o etanol, prevê Vaz, voltará a ser competitivo e a demanda por gasolina voltará ao normal. “A Petrobras está fazendo um esforço enorme para isso”, completou.
Só continua abastecendo com álcool quem não tem opção, ou seja, os donos de carros antigos. No posto Petrobras da 214 Sul, o etanol não é mais vendido. O chefe de pista, Salomão Rodrigues dos Santos Martins, 36 anos, confirmou que os reajustes constantes deixaram o combustível estagnado nas bombas. “Não vendemos álcool há duas semanas. Estava dando prejuízo. Compramos por um preço alto e o material não gira, ou então somos obrigados a vender mais barato do que compramos”, explicou.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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