• Tom de 'ultimato' do programa do PMDB exibido em rádio e TV deixa o Palácio do Planalto sob alerta
Vera Rosa , Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O governo se surpreendeu com o tom de ultimato dado pelo programa do PMDB, exibido em rede nacional de rádio e TV, na quinta-feira. No momento em que a presidente Dilma Rousseff negocia a ampliação da influência do PMDB na equipe, o partido diz que o Brasil não aguenta mais o aumento da carga tributária e afirma ser preciso apontar um rumo para o País não ficar "à deriva".
A propaganda foi ao ar quase duas horas depois do embarque de Dilma para Nova York, onde ela vai participar da Assembleia Geral da ONU. Em conversas reservadas, dois ministros do PT avaliaram que o vice-presidente Michel Temer apareceu no programa como uma alternativa para assumir o poder, em caso de impeachment de Dilma.
Sob o mote "É hora de reunificar os sonhos", a peça teve Temer como personagem central. Na tela, ministros, governadores, senadores e deputados do PMDB se revezaram em críticas ao governo e à falta de "propostas claras". A gravidade da crise política e econômica foi o pano de fundo.
Presidente do PMDB, Temer adotou a linha de estadista. "Na minha trajetória, como cidadão e homem público, já vivi e convivi com situações muito mais difíceis do que passamos agora", disse ele. "Vamos vencer esta batalha". Em agosto, Temer afirmou que o País precisava de alguém para "reunificar a todos". Depois, admitiu que se Dilma continuasse com a popularidade tão baixa, não resistiria até 2018.
Mesmo sem citar diretamente o pacote fiscal, a propaganda do PMDB fez uma constatação que provocou desconforto no governo. "Um Brasil que se dizia tão gentil com os seus filhos de repente resolve cobrar a conta. Isso dói", comentou a apresentadora.
Convenção. Dilma não viu o programa, mas foi informada sobre o seu teor. Para o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), o Planalto precisa ficar sob alerta. Em novembro, o PMDB fará uma convenção e há correntes que pregam a saída do governo. Um dos defensores da ideia é o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
"Eu não acredito que o PMDB desembarque. É um partido fundamental para a governabilidade, mas não podemos negar que foram muitas as mensagens do programa de TV. E, para bom entendedor...", observou Delcídio.
Chamou a atenção do Planalto, ainda, o fato de a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, não ter participado do programa. Cristã nova no PMDB, Kátia é muito próxima de Dilma e tem reforçado as articulações políticas para reaproximar o partido do governo.
"Ela não quis gravar", disse o marqueteiro Elsinho Mouco, ao admitir que a
amizade com a presidente pode ter pesado na decisão. Mouco contou que a deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA) foi quem gravou a passagem prevista para Kátia. Procurada, a ministra preferiu não se manifestar.
Dirigentes do PMDB disseram ao Estado que o programa teve o objetivo de "falar para o eleitorado" da sigla e indicar caminhos para sair da crise.
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