O Globo
Presidente precisa evitar que Tarcísio reúna
em torno de si uma coalizão parecida com a que conseguiu na eleição municipal
Luiz Inácio Lula da Silva montou uma trupe
para sua viagem à Ásia que inclui nomes centrais na delicada costura que
precisará fazer para montar seu palanque no ano que vem. As conversas giram em
torno de mudanças de partido desses personagens e da reforma ministerial ainda
inconclusa. Noutro fuso horário e com outras preocupações na cabeça, Jair
Bolsonaro também mexe suas peças no tabuleiro da eleição presidencial, como já
comecei a mostrar em coluna
anterior neste espaço.
Lula tirou o time de campo do Brasil justamente na semana crucial para o futuro de Bolsonaro. Acompanhou não só à distância, mas em silêncio, os dois dias de julgamento no STF e só se manifestou quando a fatura que tornou réu seu principal adversário já estava liquidada.
Enquanto o ex-presidente aguardava o
resultado dos 5 x 0 da Primeira Turma e vociferava contra ele, Lula aproveitava
o jet lag e a longa estadia longe dos olhos do público e da imprensa para o que
podem ser conversas decisivas com Hugo Motta, Davi Alcolumbre e seus
antecessores Rodrigo Pacheco e Arthur Lira. A declaração de Motta de que é
“zero” a chance de pautar o projeto de anistia é um indicativo importante de
que essas conversas podem ter avançado.
Não custa lembrar que o partido de Motta é o
Republicanos, o mesmo de Tarcísio de Freitas, que, nos últimos dias, avançou
muitas casas para ser o escolhido por Bolsonaro como nome capaz de unir a
direita no ano que vem. Lula sabe que precisa evitar que o governador de São
Paulo reúna em torno de si uma coalizão parecida com a que conseguiu
arregimentar para a eleição municipal do ano passado. E agirá para afastar PSD
e MDB da sua esfera de influência, além de plantar a cizânia em sua própria
legenda.
Qual é o grande problema para o presidente?
Se Tarcísio sair mesmo candidato a presidente e deixar a candidatura ao governo
de São Paulo ao prefeito da capital, Ricardo Nunes, isso é mais atraente para o
MDB que a vaga de vice de Lula. Ainda mais porque, para assegurar a vice ao
MDB, Lula precisará desalojar Geraldo Alckmin, possibilidade que está sempre
rondando as especulações a respeito de 2026, mas que inclui enorme dose de
desgaste.
O futuro político de Rodrigo Pacheco tem tudo
a ver com esse rouba-monte partidário. O senador tem hesitado em ser candidato
ao governo de Minas, mas é sempre lembrado como possível vice para Lula. E com
que roupa iria, caso esse cenário avance? Até agora, o próprio MDB era uma
possibilidade, mas ganhou força nos dias que antecederam a viagem ao Japão a
possibilidade de ele se filiar ao partido resultante da junção de União e PP —
um dos mais disputados entre direita e esquerda.
Lira também é peça-chave nessa briga para
puxar a sardinha do novo e enorme partido para a brasa de Lula. Não por acaso,
o ex-presidente da Câmara reagiu quando Ciro Nogueira ensaiou um movimento para
o desembarque do PP do governo. Lira quer deixar essa decisão o mais para a
frente possível. Não vê vantagem nenhuma para o partido em largar o Ministério
do Esporte e os demais cargos que ocupa (muitos deles com aliados seus) e em
ficar à deriva por mais de um ano até que finalmente sejam definidas as alianças
para a sucessão presidencial.
O Centrão quer esperar para ver a reação do
eleitorado à provável condenação e à possível prisão de Bolsonaro. Também
prefere ver como a economia andará diante da necessidade de conter a inflação,
ao mesmo tempo que o governo joga dinheiro na mão da população com medidas
pensadas para recuperar a popularidade de Lula.
A volta da caravana nipônica mostrará quanto
o presidente continua bom na sua qualidade mais elogiada: encantar políticos,
agora num momento em que seu rival direto sangra em praça pública.
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