Folha de S. Paulo
Para quem dizia 'jogar nas quatro linhas', as
quatro paredes de uma cela o farão sentir-se em casa
Bolsonaro tanto repetiu que só jogava dentro das quatro linhas que finalmente o levaram a sério. Declarado réu, será investigado e, pela pilha de provas contra ele, será condenado e levado a cumprir pena num recinto limitado por quatro linhas —as quatro paredes de uma cela. Não será uma cela cercada por grades, condizentes com a ferocidade que alardeava nos comícios e motociatas promovidos com dinheiro público. Celas com grades, necessárias para evitar fugas, são para ladrões de galinha ou batedores de carteira. Os grandes criminosos, como ele, merecem regalias.
Com certeza Bolsonaro será instalado num
aposento especial na Vila Militar, que, aliás, tentou explodir quando jovem
terrorista. Nesse aposento, equipado com armário embutido, colchão de molas,
geladeira com freezer, TV (sempre sintonizada na Record), chuveiro com água
quente, mesa e duas cadeiras (uma para a visita), Bolsonaro terá espaço para se
locomover, andando de parede a parede. Como as paredes serão quatro, disporá de
várias opções para onde se deslocar.
Dependendo de seu comportamento —se corrigir
a espumante hidrofobia verbal que o caracteriza—, terá direito a banho de sol e
caminhadas pelo pátio do quartel. O fato de este ser habitado por gente armada
lhe será um conforto, dedicado como era a ensinar seus seguidores a simular
arminhas.
Falando em seguidores, eles poderão se
concentrar em quadriláteros nas imediações do quartel, como nos bons tempos das
récitas antidemocráticas matinais nos cercadinhos. Enfim, Bolsonaro, tão
obediente às quatro linhas, se sentirá em casa entre os quatro muros do
quartel.
O problema será: onde foram parar os
seguidores? Os sinais de abandono já são claros, vindos de seus sete asseclas
também tornados réus pelo STF —nos recursos de que se valerão para se
defenderem, não terão nenhum escrúpulo em levá-lo à fogueira para tentar salvar
seus próprios rabos. E os políticos, dotados de excelente nariz, já farejam o
cadáver sob quatro palmos de terra.
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