“Falamos muito e não fizemos nada.”
(Luiz Antônio de Castro, secretário de Política do MCT sobre a tragédia das chuvas)
Quem topa processar o Estado por causa da tragédia que desabrigou mais de 20 mil pessoas na Região Serrana do Rio de Janeiro e matou mais de mil — entre as sepultadas e as que continuam desaparecidas? Pensando bem: processar para quê? Para perder tempo e dinheiro? Para ficar demonstrado mais uma vez que a Justiça simplesmente não funciona?
Haveria razões de sobra para processar. Nem sempre o cidadão sabe que o local escolhido para construir sua casa faz parte de área de risco. E se sabe e mesmo assim pede licença para construir, cabe ao Estado contrariá-lo. As prefeituras são responsáveis pelo parcelamento e ocupação do solo urbano, segundo a Constituição.
Dos 83 mil imóveis de Nova Friburgo, por exemplo, cerca de 50 mil estão em situação irregular. Há apenas quatro funcionários para fiscalizá-los — e um deles saiu de licença médica. Em Petrópolis, algo como 50% das casas foram levantadas em encostas muito inclinadas e com rala cobertura florestal. Ou então próximas a rios e córregos.
Não seria difícil identificar os autores do que o governador Sérgio Cabral batizou com acerto de “crônica de uma tragédia anunciada” — burocratas, fiscais, secretários de habitação, prefeitos. A propósito: por que Cabral não patrocina na Assembleia Legislativa uma Comissão Parlamentar de Inquérito para passar tudo a limpo?
A exposição pública dos desmandos e a nomeação dos responsáveis por eles poderiam ajudar a reduzir no futuro a emissão de licenças para construções destinadas a serem tragadas por chuva e lama. Mas, desde já concordo: dificilmente serviriam para condenar alguém à cadeia ou a indenizar os desabrigados e as famílias dos mortos.
Fez 23 anos no último dia 31 de dezembro do naufrágio do Bateau Mouche na Baía de Guanabara a caminho dos fogos de artifício de Copacabana. Das 153 pessoas a bordo, 55 se afogaram. Houve superlotação. Faltaram salva-vidas. A Capitania dos Portos deteve a embarcação pouco antes de ela partir. O peso era excessivo. Liberou-a depois.
Ninguém foi punido. Ação movida pelo Ministério Público Federal resultou em 2002 na condenação a 18 anos e quatro meses de prisão de seis dos donos da embarcação. Sem efeito prático: a pena prescreveu para alguns deles. Outros fugiram. Parentes de um dos mortos receberam indenização. Foi a União que pagou.
Impune permanece o jornalista Pimenta Neves que assassinou há 10 anos com dois tiros pelas costas a ex-namorada Sandra Gomide. Depois de sete meses preso foi levado a júri popular. Condenado em 2006 a 19 anos de cadeia, está solto desde então. Beneficia-se de sucessivos recursos impetrados por advogados.
Tudo bem que inexista um regime político perfeito. E que a democracia seja o menos imperfeito deles. Contudo, quanto mais capenga for a Justiça menos democracia existirá de fato. Democracia com Justiça de fancaria como a nossa é mera formalidade.
Melhor para Dilma
A expectativa do novo Congresso em relação ao governo Dilma é quase igual à avaliação que ele faz dos oito anos de governo Lula. O Instituto FSB de Pesquisa ouviu 307 deputados federais eleitos ou reeleitos e 33 senadores — 16 eleitos em outubro passado. O período Lula foi considerado ótimo por 38% deles, bom por 41% e regular por 19%. O que eles esperam do governo Dilma? Que seja ótimo (31%), bom (46%) ou regular (14%). Quanto ao desempenho do futuro Congresso, ele será ótimo para 34% dos novos parlamentares. Ou regular para 11%. Somente 11% dos reeleitos acreditam que será ótimo. Realistas, 22% deles apostam mais em um desempenho regular.
(Luiz Antônio de Castro, secretário de Política do MCT sobre a tragédia das chuvas)
Quem topa processar o Estado por causa da tragédia que desabrigou mais de 20 mil pessoas na Região Serrana do Rio de Janeiro e matou mais de mil — entre as sepultadas e as que continuam desaparecidas? Pensando bem: processar para quê? Para perder tempo e dinheiro? Para ficar demonstrado mais uma vez que a Justiça simplesmente não funciona?
Haveria razões de sobra para processar. Nem sempre o cidadão sabe que o local escolhido para construir sua casa faz parte de área de risco. E se sabe e mesmo assim pede licença para construir, cabe ao Estado contrariá-lo. As prefeituras são responsáveis pelo parcelamento e ocupação do solo urbano, segundo a Constituição.
Dos 83 mil imóveis de Nova Friburgo, por exemplo, cerca de 50 mil estão em situação irregular. Há apenas quatro funcionários para fiscalizá-los — e um deles saiu de licença médica. Em Petrópolis, algo como 50% das casas foram levantadas em encostas muito inclinadas e com rala cobertura florestal. Ou então próximas a rios e córregos.
Não seria difícil identificar os autores do que o governador Sérgio Cabral batizou com acerto de “crônica de uma tragédia anunciada” — burocratas, fiscais, secretários de habitação, prefeitos. A propósito: por que Cabral não patrocina na Assembleia Legislativa uma Comissão Parlamentar de Inquérito para passar tudo a limpo?
A exposição pública dos desmandos e a nomeação dos responsáveis por eles poderiam ajudar a reduzir no futuro a emissão de licenças para construções destinadas a serem tragadas por chuva e lama. Mas, desde já concordo: dificilmente serviriam para condenar alguém à cadeia ou a indenizar os desabrigados e as famílias dos mortos.
Fez 23 anos no último dia 31 de dezembro do naufrágio do Bateau Mouche na Baía de Guanabara a caminho dos fogos de artifício de Copacabana. Das 153 pessoas a bordo, 55 se afogaram. Houve superlotação. Faltaram salva-vidas. A Capitania dos Portos deteve a embarcação pouco antes de ela partir. O peso era excessivo. Liberou-a depois.
Ninguém foi punido. Ação movida pelo Ministério Público Federal resultou em 2002 na condenação a 18 anos e quatro meses de prisão de seis dos donos da embarcação. Sem efeito prático: a pena prescreveu para alguns deles. Outros fugiram. Parentes de um dos mortos receberam indenização. Foi a União que pagou.
Impune permanece o jornalista Pimenta Neves que assassinou há 10 anos com dois tiros pelas costas a ex-namorada Sandra Gomide. Depois de sete meses preso foi levado a júri popular. Condenado em 2006 a 19 anos de cadeia, está solto desde então. Beneficia-se de sucessivos recursos impetrados por advogados.
Tudo bem que inexista um regime político perfeito. E que a democracia seja o menos imperfeito deles. Contudo, quanto mais capenga for a Justiça menos democracia existirá de fato. Democracia com Justiça de fancaria como a nossa é mera formalidade.
Melhor para Dilma
A expectativa do novo Congresso em relação ao governo Dilma é quase igual à avaliação que ele faz dos oito anos de governo Lula. O Instituto FSB de Pesquisa ouviu 307 deputados federais eleitos ou reeleitos e 33 senadores — 16 eleitos em outubro passado. O período Lula foi considerado ótimo por 38% deles, bom por 41% e regular por 19%. O que eles esperam do governo Dilma? Que seja ótimo (31%), bom (46%) ou regular (14%). Quanto ao desempenho do futuro Congresso, ele será ótimo para 34% dos novos parlamentares. Ou regular para 11%. Somente 11% dos reeleitos acreditam que será ótimo. Realistas, 22% deles apostam mais em um desempenho regular.
FONTE: O GLOBO
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