Por Fernando Exman
BRASÍLIA - Oficialmente, todos negam. Mas os quatro principais pré-candidatos à Presidência da República para as eleições de 2014 já atuam país afora em ritmo de campanha. Integrantes dos grupos políticos de Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva acusam a presidente Dilma Rousseff (PT) de antecipar a disputa e usar a máquina pública federal, embora também estejam percorrendo o território nacional a fim de articular apoios nos meios político e empresarial.
Esses movimentos não tendem a minguar daqui em diante, o que, na avaliação do cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), deve ser visto como uma consequência da legislação eleitoral. Para ele, ainda não há sinais de que esses lances preliminares estejam paralisando o governo ou os trabalhos no Parlamento.
"É algo natural, porque a campanha eleitoral no Brasil é muito regulamentada. A lei diz que qualquer coisa antes de 5 de junho de 2014 é campanha antecipada", argumentou o professor. "Em 2009, a campanha também começou cedo."
Nos últimos meses, Dilma reforçou sua agenda de viagens nacionais. A região Nordeste, onde o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tem sua maior força política, tornou-se um destino mais comum da presidente.
Ela também tem se aproximado mais de seu antecessor e padrinho político, numa estratégia justificada por dados coletados em pesquisas realizadas junto ao eleitorado. Ambos estão no imaginário popular como uma identidade única e de continuidade, dizem petistas. "Ela [Dilma] tem a sua marca, mas é uma marca de identidade conjunta e de unidade política com ele [Lula]", explicou um dirigente do PT.
Em paralelo, Dilma aproveitou as mudanças no primeiro escalão do governo para tentar sacramentar o apoio dos partidos políticos que a apoiam no Congresso para as eleições de 2014, mirando assegurar que sua campanha tenha muito mais tempo de propaganda em rádio e televisão que os adversários. Esse foi o pano de fundo das substituições envolvendo o PDT e o PR nos ministérios do Trabalho e dos Transportes, respectivamente.
Mas Dilma não aposta apenas no tempo de TV. A presidente e seu grupo de auxiliares mais próximos acreditam que a candidatura petista contará com palanques mais fortes nos maiores colégios eleitorais, cenário que também é considerado o mais provável por integrantes das coordenações das pré-candidaturas de oposição.
Autoridades do governo estimam, por exemplo, que Dilma terá palanques robustos em São Paulo, Rio, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná. Petistas também apostam na divisão do PSB, o que poderia render à presidente o apoio do grupo político do governador do Ceará, Cid Gomes. Além disso, acreditam que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o PSB brigarão pela fidelidade do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB). Por outro lado, a oposição espera que o PT se complique com o PMDB no Rio.
"Há uma preocupação no PSDB para construir um palanque em cada Estado", reconheceu uma liderança tucana. "Mas a situação será melhor do que a de 2010. Teremos palanques mais animados e entusiasmados com um sentimento de mudança maior do que em 2010."
Aécio também deve circular mais no Nordeste, depois de atender aos pedidos de correligionários do interior paulista. Parlamentares de Jundiaí, Barueri e Ribeirão Preto já requisitaram a presença de Aécio em suas cidades, iniciativa que converge com a necessidade de o senador mineiro reduzir as resistências ao seu nome no PSDB paulista. "Agora Aécio vai andar mais", acrescentou a mesma liderança tucana. "Depois da formação da nova Executiva do PSDB, ele terá uma forma de agir mais às claras." Aécio deve ser eleito o próximo presidente do partido.
Já Eduardo Campos realiza um périplo pelas regiões Sul e Sudeste para entrar em contato com políticos, empresários e integrantes da Academia. "Há muita gente querendo conhecê-lo e conhecer o que ele fez em Pernambuco", disse o líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS). Campos esteve em Santos (SP) na sexta-feira, onde conversou com prefeitos paulistas. No sábado, teve compromisso no Rio. E hoje participará de reuniões no Rio Grande do Sul.
Marina Silva, por sua vez, trabalha para viabilizar a criação de seu novo partido, batizado de Rede, com a mensagem de que é preciso existir uma alternativa às formas "convencionais" de se fazer política. "A eventual candidatura da Marina não está posta. Hoje, ela não é candidata", diz o ex-secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente João Paulo Capobianco, aliado da ex-ministra. "Todos os candidatos que já se lançaram em campanha têm um comportamento convencional."
Fonte: Valor Econômico
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