• Líder do PMDB já é visto como alternativa para encabeçar uma chapa com o PT caso denúncias inviabilizem permanência de Cunha no cargo
Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Na semana em que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sofreu outro revés com a divulgação de que contas secretas atribuídas a ele foram bloqueadas na Suíça, o Palácio do Planalto passou a avaliar a hipótese de interrupção do mandato do peemedebista. Em razão das suspeitas e acusações que envolvem Cunha no âmbito da Operação Lava Jato, o governo já acredita na possibilidade de PMDB e PT formarem uma chapa para suceder o deputado fluminense.
No desenho do Planalto, essa composição seria encabeçada por Leonardo Picciani (PMDB-RJ) caso o presidente da Câmara não tenha mais condições de concluir seu mandato de dois anos. A ideia do governo é apoiar uma chapa liderada por um peemedebista não hostil e evitar repetir a derrota para Cunha - que passou a atuar na Casa contra os interesses da gestão Dilma.
Eleito líder do PMDB com apoio do presidente da Câmara, Picciani tem se distanciado de seu correligionário e se aproximado do governo, movimento que se aprofundou durante as negociações para a reforma ministerial anunciada pela presidente Dilma Rousseff na sexta-feira. Apesar de não se dizer governista e negar o afastamento de Cunha, sua movimentação em direção ao Planalto rendeu dois ministérios à bancada do partido na Câmara.
Coube a ele, como líder, indicar os novos ministros da Saúde e da Ciência e Tecnologia.
Picciani afirma não haver qualquer discussão envolvendo a sucessão de Cunha, até porque diz acreditar em sua inocência. Mas afirma que tentar a presidência é um “caminho natural”, mesmo que somente em 2017, quando haverá nova disputa pelo comando da Câmara. “Não é o momento de se falar em candidatura (a presidente da Câmara). Isso vai acontecer com o tempo, naturalmente”, disse Picciani.
Prova. Para o plano governista seguir adiante, porém, avalia-se que ainda falta uma prova inequívoca de crimes supostamente cometidos por Cunha.
“Todo brasileiro tem direito de se defender, ao princípio do contraditório e à presunção de inocência. Tem que ser dada a qualquer um a chance de defesa”, disse o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), em consonância com o discurso da maioria dos líderes ouvidos pela reportagem.
Enquanto a tal prova não aparece, seus aliados e a oposição devem manter o apoio ao presidente da Câmara. Ao seu grupo político, formado por integrantes de diversos partidos e a bancada suprapartidária de evangélicos, ruralistas e da segurança pública, interessa a aliança para manter o avanço de sua agenda na Câmara.
À oposição, a aliança se deve principalmente em razão do processo de impeachment que cabe a Cunha dar seguimento. Pelo roteiro planejado, o peemedebista deve negar o pedido de impedimento da presidente protocolado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior e a oposição apresentará um recurso em plenário. Se houver maioria a favor, o processo será instaurado. Na quinta-feira passada, ele prometeu apreciar todos os requerimentos em “10 ou 15 dias”.
Etapas. Além da prova concreta contra Cunha, Picciani também precisa, segundo interlocutores, avançar mais. Para um deputado do PMDB próximo a Picciani e Cunha, o líder peemedebista está “construindo etapas”. A primeira é sua recondução à liderança em 2016, o que o credenciaria a um projeto maior.
Mas interlocutores de Cunha dizem que Picciani ainda terá alguns obstáculos. O primeiro é administrar uma divisão na bancada, evidenciada na última semana, quando 22 dos 66 deputados peemedebistas foram a público externar posição contrária à ocupação de ministérios pelo partido.
Além de resolver questões internas, enfrentará outras situações externas. Os mesmos interlocutores apontam para a necessidade de Picciani contornar a insatisfação de membros do bloco de 150 deputados formado por PMDB, PP, PTB, PSC, PHS e PEN. Nas bancadas desses partidos, fala-se em destituir o peemedebista da liderança do bloco por causa de sua postura de “só dizer amém ao governo”, segundo um dos líderes do grupo.
“Ele se fortaleceu diante da bancada. Na Casa, é um segundo momento”, disse o deputado Carlos Marun (PMDB-MS).
Vice-líder do governo, o deputado Orlando Silva (PC do B-SP) diz não ser momento de preocupação do Planalto com a sucessão de Cunha. “Considero precipitado qualquer movimento de discussão de sucessão. Pode atrapalhar o principal objetivo, que é construir sua base”, afirmou.
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