“Estamos numa mudança de época no mundo e no Brasil, e aqui na nossa circunstância isso não foi percebido. Nós entramos num novo tempo com categorias e repertório do tempo velho. Isso levou a essa sucessão de equívocos que paralisam o país. O repertório dominante nesses últimos anos de governo do PT tem sido o nacional popular, com um repertório de um tempo anterior, o qual foi introduzido a partir de 2004, esticado no mandato do presidente Lula e levado às últimas consequências no governo Dilma. Quando o governo dela terminou, olhou-se em volta e ela mesma reparou que aquele repertório estava exausto e procurou mudar a agenda e a perspectiva, mas o cavalo de pau que foi dado deixou não só o partido dela, mas a base aliada e a sociedade, perplexas. Foi uma mudança para a qual não foram dadas as razões, aliás, as únicas razões dadas foram as de que o mundo mudou e nós não.
De modo que estamos politicamente defasados, culturalmente retardados e estamos sem categorias e repertório para enfrentar as novas circunstâncias. Sair disso, a meu ver, implica que se interprete a história do país numa chave nova, que não tenha mais como foco o Estado, a sua capacidade de intervenção de provocar mudança, mas a sociedade. Então, essa foi a questão de fundo que nos trouxe a essa balbúrdia e pandemônio em que nos encontramos.”
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Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na PUC-Rio. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, é autor de, entre outras obras, A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997);A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1999); e Democracia e os três poderes no Brasil (Belo Horizonte: UFMG, 2002). Sobre seu pensamento, leia a obra Uma sociologia indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna, organizada por Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2012). Entrevista à revista eletrônica IHU (ler na integra no blog de ontem).
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