Dirigentes do partido pedem saída do ministro e articulam substituição
Reunida ontem, a Executiva Nacional do PT não deu qualquer declaração de apoio ao ministro Antonio Palocci (Casa Civil) e decidiu esperar uma explicação pública dele sobre o aumento de seu patrimônio quando era deputado federal e coordenador da campanha presidencial de Dilma Rousseff. Dirigentes chegaram a anunciar que o PT divulgaria resolução deixando claro que a crise que envolvia Palocci é uma questão do governo, e não do partido. Mas o Palácio do Planalto interveio, evitando o documento. A operação do Planalto não conseguiu impedir, porém, que quatro dirigentes do PT defendessem a saída imediata do ministro. O secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, admitiu que a situação é delicada e eu Dilma pediu explicações ao ministro, o que pode ocorrer hoje. Reservadamente, petistas já falam em nomes para substituir Palocci.
PT lava as mãos sobre Palocci
CRISE NO GOVERNO
Mas Planalto intervém e impede nota dizendo que crise é do governo, não do partido
Maria Lima
A Executiva Nacional do PT se reuniu ontem e não fez qualquer gesto de apoio ao ministro Antonio Palocci, da Casa Civil, sob suspeita diante da evolução patrimonial que teve quando deputado federal e coordenador da campanha presidencial de Dilma Rousseff. O apoio estava descartado desde a véspera, e, ontem de manhã, dirigentes chegaram a divulgar que uma resolução da Executiva indicaria que a crise envolvendo o chefe da Casa Civil é uma questão de governo, e não partidária. O Palácio do Planalto entrou em campo e impediu a divulgação dessa resolução. Mas a operação palaciana não evitou que três dos 12 membros da Executiva e um integrante do Diretório Nacional defendessem a saída imediata do ministro durante as reuniões de ontem.
No fim da tarde, depois de dois encontros com o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, anunciou que a Executiva considerou melhor esperar que Palocci viesse a público dar explicações complementares, o que deve acontecer hoje, sobre o aumento substancial em seu patrimônio e suas atividades como consultor.
Ao longo da reunião de ontem da Executiva, quatro dirigentes petistas defenderam a saída imediata de Palocci da Casa Civil. Pediram sua demissão, durante a reunião, o secretário-geral, Elói Pietá; Renato Simões, secretário nacional de Movimentos Populares; Carlos Árabe, secretário nacional de Formação Política, e Walter Pomar, membro do Diretório Nacional que também participou da reunião.
- Eles argumentaram que, se o Palocci permanecesse no cargo, o tiroteio ia continuar e poderia respingar no PT e no governo Dilma - relatou um dos presentes.
Petistas creem em queda de Palocci
Durante o encontro da Executiva Nacional, nos bastidores, dirigentes petistas fizeram avaliações pessimistas sobre a permanência de Palocci no cargo, mesmo após sua fala de hoje. E reservadamente já falam em nomes que podem substituí-lo, entre eles a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Para a maioria dos petistas ouvidos, a queda de Palocci é uma questão de tempo e de como operá-la sem maiores traumas para o governo Dilma Rousseff.
O clima entre os petistas era de estranhamento com o volume de recursos que entraram para a empresa de Palocci, a Projeto Consultoria, num momento em que a campanha presidencial e os candidatos do partido enfrentavam dívidas vultosas - o faturamento da empresa teria sido de mais de R$20 milhões no ano passado. Mais estranho ainda, diziam os petistas reservadamente, é que ocorreu no momento em que Palocci era um dos arrecadadores de doações para o partido.
- O que mais assustou o partido foi a compra de um apartamento de R$6,6 milhões logo depois da eleição, quando os candidatos nos estados estavam se endividando para chegar ao fim da campanha - comentou um dos dirigentes.
No final da tarde, o clima ainda era de ceticismo, mesmo após as declarações do ministro Gilberto Carvalho de que Palocci irá se explicar. No comando do PT, poucos acreditam, de fato, que ele consiga se segurar no cargo com sua fala pública ou mesmo uma decisão favorável do Ministério Público.
- O Ministério Público nem deve instaurar inquérito, não vai entregar o Palocci. Isso lhe dá algum um fôlego, mas por quantos dias? - indagava outro integrante da Executiva.
- O problema do Palocci está resolvido. Ele está muito bem de vida! - ironizou outro.
A resolução que já estava pronta, e que o presidente Rui Falcão divulgaria ao final do encontro, diria que o caso Palocci não dizia respeito ao PT, mas ao governo.
- A resolução está pronta, mas eu fico com medo de parecer que nós estamos lavando as mãos. O que a imprensa vai dizer é que estamos negando apoio, e entregando o Palocci - justificou Falcão na última etapa da reunião, no meio da tarde. Mais tarde ele afirmaria: - Continuo sustentando que considero que o ministro Palocci agiu dentro da legalidade, com a lisura que lhe é peculiar desde sempre, e que sua honestidade não está em questão neste momento.
Falcão se encontrou com Carvalho na noite de quarta-feira e ontem pela manhã. O deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-presidente do PT, também foi procurado por Carvalho.
- Vamos esperar informações complementares. Uma nota agora sem a totalidade das informações não ajudaria em nada - disse Berzoini.
Na Câmara, o presidente Marco Maia (PT-RS) disse que o fato de o ministro Palocci se explicar hoje, em entrevista ou em pronunciamento, não interferirá na sua decisão sobre a convocação do ministro:
- Não tem nada a ver uma coisa com a outra. O que ele diz para imprensa não tem impacto no que pode dizer na Câmara e vice-versa. Mas que bom que ele fale! Quanto mais se tratar desse assunto de forma pública, melhor.
FONTE: O GLOBO
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