Dirigente petista chama líder do PMDB de chantagista por ameaçar aliança
Segundo ele, o PT nacional confia na maioria que Temer e Raupp dizem ter no partido e que as ‘chantagens’ não vão prosperar.
Maria Lima
BRASÍLIA - Dirigentes do PT e do PMDB elevaram o tom e continuaram nesta quarta-feira o bate-boca e a troca de ameaças sobre a manutenção da aliança dos dois partidos para apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff. O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), foi chamado a participar da reunião da bancada, convocada pelo líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha(RJ), para a próxima terça-feira, quando será debatida a antecipação da convenção que poderá aprovar o rompimento da aliança.
Os peemedebistas acusam o presidente do PT, Rui Falcão, de estimular a divisão do partido, e de só estar interessado no tempo de TV do PMDB. Do outro lado, falando em nome de Falcão, o presidente do diretório do PT no Rio de Janeiro, o prefeito de Maricá, Washington Quaquá chamou o líder do PMDB de mentiroso e chantagista, e lembrou que o PT ganhou a eleição presidencial em 2006, sem o apoio do vice-presidente, Michel Temer.
Segundo Quaquá, o PT nacional confia na maioria que Temer e Raupp dizem ter no partido e que as “chantagens” não vão prosperar.
- Não acredito que a maioria dos deputados do PMDB vai se deixar levar por chantagens. O Eduardo Cunha vai levar a uma atitude mais radical do PT. Estão esticando a corda demais! Precisam lembrar que, em 2006, Lula ganhou a eleição sem o PMDB. Reconheço que é preciso ter a aliança pela governabilidade. Mas, se querem a instabilidade agora, para que precisamos deles? - reagiu Quaquá.
Cunha é o porta-voz do chamado blocão, criado há duas semanas com oito partidos da base e cerca de 250 deputados. O blocão levou uma preocupação extra ao Planalto ao se aliar à oposição para aprovar a criação de uma comissão externa destinada a investigar, na Holanda, denúncias de propina na Petrobras. Agora, Cunha diz que o blocão também será contra a aprovação do Marco Civil da internet, como quer o governo. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), apoia uma pauta própria do bloco comandado por Cunha. Temer, em viagem aos Estados Unidos, não se posicionou em relação à antecipação da convenção e da guerra entre PT e PMDB.
A crise se agravou depois que Falcão afirmou, no Rio, que o presidente do diretório do PMDB fluminense, Jorge Picciani, declarara apoio ao tucano Aécio Neves porque é ligado à ala de Cunha que pressiona por cargos. Picciani chamou Falcão de vagabundo e Cunha avisou que apoiaria a convenção para rever a aliança.
- Não dá para encontrar a dupla dinâmica Eduardo Cunha e Jorge Picciani no carnaval do Rio sem a polícia por perto. Eduardo Cunha está passando do tom. Foi desrespeitoso com o Rui Falcão e com o PT. Não queremos botar fogo na relação do PT com o PMDB. O Temer e o Raupp já disseram que têm maioria para manter a aliança — atacou Quaquá.
PMDB da Bahia critica Falcão
De Roma, Cunha disse - sobre a reunião entre Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio da Alvorada - que não adianta acenarem com cargos no Ministério para acalmar os descontentes. E avisou que se tentarem colocar o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) no Ministério do Turismo, no lugar do deputado Gastão Vieira (PMDB-MA), a situação só vai piorar. Argumentou que, além de tirar Gastão, que é da Câmara, para pôr um senador, a entrega de cargos não acalmará os descontentes. O PMDB do Senado desejava ver Vital à frente do Ministério da Integração Nacional, o que Dilma não aceitou. A bancada da Câmara também tentou emplacar lá um deputado, e, novamente, Dilma resistiu.
- O problema é mais profundo. Não se trata de cargos. Se eu fosse Lula, nessa reunião com a presidente Dilma, repensaria a relação que querem com o PMDB. Uns quatro diretórios já assinaram para antecipar a convenção. Mas, se houver a decisão política, o Danilo Forte, que está recolhendo as assinaturas, consegue as nove em duas ou três horas - disse Cunha.
- Além de tudo, Eduardo Cunha é mentiroso! Disse que não quer ministério, mas queria a Integração Nacional para a Câmara. Como não tiveram, está chantageando. Nem o PT nem o PMDB podem se deixar chantagear por ele, que criou aí esse blocão, que, na verdade, é um bloco do bocão, o bloco dos bocudos que não vamos aturar. A nível nacional, o PT quer a aliança com o PMDB. Aqui no Rio não quero nem saber. Vamos respeitar o Cabral e o Pezão e pronto - disse Quaquá.
Os peemedebistas liderados por Cunha cobram de Raupp uma resposta a Falcão, que, para eles, quer dividir o PMDB da Câmara e do Senado. Estão certos de que Falcão não atacou o PMDB do Rio sem o aval de Dilma e Lula, e que só há interesse no tempo de TV do partido, sem se importar com palanques estaduais.
- O Rui Falcão e o PT querem dar o golpe do baú. Só querem o dote, que é o nosso tempo de TV, não querem nosso amor. Ficar com alguém que só quer casar por interesse é muito ruim para a gente. Enquanto o presidente do PT nos agride, o presidente do PMDB fica calado - disparou o presidente do PMDB da Bahia, deputado Lúcio Ferreira Lima.
Lúcio comanda um dos nove diretórios que estariam dispostos a assinar o pedido de antecipação da convenção. A convenção legal acontece em junho, mas os dissidentes querem antecipar a convenção extraordinária para abril. Falcão, Raupp e Temer foram procurados, mas não retornaram.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário