• Parlamentares se queixam de críticas de argentino ao impeachment
Aline Macedo - O Globo
Alegando que foram alvo de uma retaliação, por causa do processo de impeachment, 14 dos 17 parlamentares brasileiros se retiraram ontem da sessão plenária do Parlasul, o parlamento do Mercosul, em comemoração aos 25 anos do bloco econômico, em Montevidéu. Os deputados e senadores abandonaram a sala, onde se realizou o seminário “Reflexões e desafios para o Mercosul 25 anos depois do Tratado de Assunção”, após constatarem que se sentariam numa das últimas fileiras, atrás de funcionários de segundo e terceiro escalão da chancelaria.
No último domingo, o presidente do Parlasul, o deputado argentino Jorge Taiana, alinhado à ex-presidente Cristina Kirchner, publicou no site oficial do parlamento nota em que condena o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Para Taiana, o julgamento político em curso é uma “situação escandalosa”: “Isto é um golpe parlamentar, é uma utilização forçada da lei de impeachment”, declarou. Ele acrescentou que setores conservadores, de direita, do mundo financeiro e da mídia teriam como objetivo central impedir que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva volte à Presidência em 2018.
Para deputado, humilhação
Após lerem as declarações de Taiana, os parlamentares brasileiros chegaram ao auditório onde houve a solenidade e não se conformaram com o local destinado à comitiva. O senador Roberto Requião (PMDB- PR) tentou resolver a questão, sem sucesso.
Os parlamentares queriam manifestar seu repúdio tanto pela nota do presidente do Parlasul, quanto pela localização dos assentos, mas a cerimônia não previa questões de ordem. O deputado Arthur Oliveira Maia ( PPS- BA) então se dirigiu à frente do auditório e, fora do microfone, declarou que a delegação brasileira iria se retirar do evento, do qual participaram o presidente uruguaio Tabaré Vásquez e o seu ministro de Relações Exteriores, Rodolfo Nin Novoa, além de chanceleres das nações que compõem o bloco. No momento do incidente, três deputados da delegação brasileira não haviam chegado.
— Ficamos surpresos quando hoje (ontem) vimos no site oficial do Parlasul uma declaração irresponsável do presidente (do parlamento) em relação ao processo de impeachment que acontece no Brasil — disse Maia. — A designação dos lugares foi uma consequência do que Taiana diz no site. Foi uma retaliação para humilhar a delegação brasileira.
Irritado, Requião disse que, após colocar a delegação no fundo do auditório de 400 lugares, o próximo passo seria fazer com que os parlamentares brasileiros almoçassem na cozinha:
— Era deles a festa, então fomos embora. É o desprezo da chancelaria em relação à delegação brasileira.
Durante a sessão plenária do Parlasul, que acontece hoje pela manhã, os brasileiros pretendem cobrar oficialmente de Taiana que reconsidere suas declarações em relação ao processo de impeachment. Segundo Requião, o presidente do Parlasul alegou não saber que a nota havia sido publicada.
Os três brasileiros que continuaram na solenidade foram os deputados Jean Wyllys (PSOL- RJ), Benedita da Silva (PT- RJ) e Ságuas Moraes (PT- MT). Para Moraes, o que houve foi um grande mal-entendido. Ele disse que os lugares foram distribuídos por ordem de chegada e que havia deputados argentinos e venezuelanos atrás dele.
Os parlamentares brasileiros, segundo Moraes, chegaram dez minutos depois do início da solenidade, que começou pontualmente às 10h. Mas Heráclito Fortes ( PSB- PI), que também estava presente, contestou o colega e afirmou que não houve atraso. Fortes disse que, tradicionalmente, as bancadas são organizadas em ordem alfabética, e não de forma aleatória.
Solidariedade de Tabaré Vásquez
O presidente do Uruguai tentou interceder para que os parlamentares brasileiros não abandonassem o seminário. Em solidariedade, ele saiu de sua cadeira de honra e se sentou na mesma fileira onde ficaria a delegação brasileira, que, mesmo assim, foi embora.
Na última sexta-feira, em Nova York, a presidente Dilma declarou que pretende invocar a cláusula democrática do Mercosul, se for afastada pelo Senado. O dispositivo já foi usado em 2012, quando o ex-presidente paraguaio Fernando Lugo sofreu impeachment. Se a cláusula for ativada, o Brasil pode ser suspenso do bloco comercial, mas, para isso, seria necessário um consenso entre Uruguai, Paraguai, Argentina e Venezuela. Atualmente, Argentina e Paraguai já declararam que não apoiariam uma eventual sanção ao Brasil.
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