Correio Braziliense
Políticos de todos os quilates e ideologias
carecem de uma atualização de seus conceitos políticos. Precisam ser
contemporâneos de seu tempo
O debate da ministra Marina Silva com os senadores, antes e além das questões pessoais ou eventuais grosserias, demonstrou algumas verdades. O governo não se mobilizou para defender sua ministra do Meio Ambiente. Ela foi jogada às feras e ficou só. Os senadores não conseguiram conduzir um questionamento coerente, do que derivaram os ataques pessoais. Por último, a ministra perdeu a oportunidade para expor os motivos pelos quais até hoje não autorizou o asfaltamento da BR-319, a rodovia que liga Manaus a Porto Velho e, por consequência, ao resto do país. Uma boa oportunidade perdida por todos, inclusive pelo governo Lula, que vive na corda bamba. Não consegue defender a ministra nem avançar nas questões ambientais. Fica estacionado no discurso de boas intenções.
Aliás, a esquerda brasileira não percebeu que
o tempo passou. Recentemente, no âmbito da disputa interna pela presidência do
PT, as palavras de ordem voltaram ao passado: reclamações coléricas contra as
taxas de juros, contra a gestão do Banco Central (cujo presidente foi nomeado
pelo presidente Lula), a concentração de renda e a especulação imobiliária. O
partido precisa de inimigos externos óbvios, capazes de ser explicitados numa
palavra de ordem diante da massa. Uma espécie de grito de guerra. Mas o grupo
continua sem demonstrar preocupações com o desenvolvimento nacional, nem fixar
metas de um governo razoavelmente organizado. No quesito educação, o pessoal do
Ceará deveria apresentar avanços notáveis, mas o governo do PT não entregou
nada do prometido. O índice de analfabetismo continua elevado.
Nos anos de governo militar, era
relativamente simples fazer oposição ou mobilizar a opinião pública. Bastava
denunciar os desvios cometidos pelos generais, falar da absurda dívida externa
e da submissão aos bancos estrangeiros e da permanente interferência do Fundo
Monetário Internacional (FMI) na vida do país. O Brasil importava todo o
petróleo que consumia. Havia um monstrengo chamado conta-petróleo, que era o
custo de manter o país funcionando pelo esforço de importar milhões de barris
por dia. O país chegou a adotar racionamento de combustível no governo Geisel.
Naturalmente, a inflação atingiu níveis estratosféricos.
É preciso perceber que o país melhorou em
diversos aspectos. A dívida externa desapareceu, a inflação foi contida, o
petróleo jorrou na área chamada de pré-sal (hoje o país exporta mais de 1
milhão de barris/dia) e avançou na administração pública por intermédio das
reformas promovidas pelo governo Fernando Henrique Cardoso. O PSDB,
curiosamente, desapareceu da política nacional, o que é um sinal gritante de
que a política nacional se reduziu ao confronto entre dois extremos. Nenhum
deles tem propostas para melhorar a vida brasileira. O governo anterior errou
na vacina, na relação com os brasileiros, não soube vencer a eleição e cometeu
uma tentativa estabanada de golpe de Estado. Seu filhote perambula pelos
Estados Unidos correndo o chapéu e pedindo apoio do governo Trump para
interferir na política interna brasileira.
A globalização modificou a maneira de
produzir e consumir no mundo ocidental e provocou um espetacular crescimento de
países do oriente. A área do Oceano Pacífico passou a ser a região mais rica do
planeta. Superou o Atlântico. Os anos sessenta e setenta produziram enormes
conglomerados financeiros e industriais, enriqueceram nações antes pobres e
fizeram os empregos mudarem de país. A principal consequência no terreno da
política foi o surgimento de uma direita violenta, reacionária e agressiva. Donald
Trump, que persegue universidades com a mesma violência que expulsa
estrangeiros, é o símbolo deste momento.
Aquela esquerda surgida no Brasil após a
Assembleia Constituinte perdeu o sentido. A explosão do agronegócio modificou
as relações pessoais, trabalhistas e contratuais no campo. O fazendeiro opera
em dólar, negocia em bolsas no exterior e compra implementos agrícolas
sofisticados. Goiânia, hoje, é a capital brasileira da soja. Cidade rica e
bonita. Não é por acaso que o governador de Goiás é candidato à Presidência da
República.
Políticos de todos os quilates e ideologias
carecem de uma atualização de seus conceitos políticos. Precisam ser
contemporâneos de seu tempo, época da comunicação instantânea, de grandes
ameaças à terceira guerra mundial, de diplomacia difícil e de um mundo
interligado pelos computadores. E da duvidosa facilidade da inteligência
artificial. Os brasileiros gostam de progresso. O governo do presidente Lula
não entregou o que prometeu. Distribui benesses com objetivo de se cacifar para
o grande embate da eleição de 2026. Esqueceu suas promessas, inclusive que não
iria elevar impostos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário