Assistir a um bom filme na sala escura transforma consciências e atitudes, desperta emoções inimagináveis, alimenta fantasias. Apesar do cinema brasileiro carregar o nosso DNA, refletindo nossa originalidade e identidade nacional, é também universal pelos sentimentos humanos que reflete e desperta.
A excelente safra 2024/2025 é capitaneada
pelo excelente AINDA ESTOU AQUI dirigido por Walter Salles Jr. e com o
magistral desempenho de Fernanda Torres, escoltada por excepcional elenco. O
filme já foi cantado em versos e prosa. Sucesso de público e crítica, culminou
com a conquista inédita do Oscar de melhor filme estrangeiro. Nos fez mergulhar
nos terríveis e dramáticos anos de ditadura, nos relembrando que brasileiros
resistiram, sofreram e venceram. Mergulhar naquelas cenas nos fez reavivar o compromisso:
democracia sempre! Ditadura nunca mais!
No mesmo nível veio MALU de Pedro Freire. Uma
artista de teatro, que carrega as fantasias e utopias da geração de 68, sonha
em montar um centro cultural numa comunidade da periferia do Rio de Janeiro, e,
em paralelo, enfrenta o difícil convívio com a mãe e a filha, refletindo
diferentes perspectivas de três gerações. Yara de Novaes, Carol Duarte, Juliana
Cunha e Átila Bee nos brindam com interpretações fantásticas, plenas de
sensibilidade e emoção.
Mais recente estreitou HOMEM COM H de Esmir
Filho, que nos faz viver por dentro a biografia e trajetória de um de nossos
maiores artistas e cantores, Ney Matogrosso, trazendo à tona a travessia de uma
geração que lutou contra preconceitos, perseguia um horizonte libertário,
enfrentou a cesura, a discriminação e a AIDS. A mobilização de nossas emoções é
magnetizada por um desempenho indescritível de Jesuíta Barbosa.
Agora, chegou ao cinema o maravilhoso MANAS
da diretora Marianna Brennand Fortes. Uma história comovente ambientada no
Brasil profundo, na recôndita floresta da Ilha de Marajó, revelando os dramas,
os limites e os sonhos das mulheres ribeirinhas que enfrentam abusos sexuais na
infância e na adolescência, a partir de suas próprias casas. Uma linda e
sensível atuação de Dira Paes se dá cercada por atores paraenses, alguns em sua
primeira atuação. A atriz estreante Jamilli Correa, de apenas 16 anos, não só tem
um futuro brilhante como já construiu em MANAS um presente exuberante.
Paralelo à trajetória de AINDA ESTOU AQUI
teve sua carreira desencadeada outro ótimo filme, MOTEL DESTINO, de Karim
Ainouz, que retrata a história de um jovem pobre foragido do crime organizado
que chega a um motel decadente e vive uma tensa e tórrida relação com o casal
proprietário. Três desempenhos fantásticos de Iago Xavier, Nataly Rocha e o
veterano Fábio Assunção, que tem seu melhor momento no cinema.
Isso sem falar em AUTO DA COMPADECIDA II,
ESTOMAGO II, entre outros. E aí vem O AGENTE SECRETO. A indústria
cinematográfica no mundo inteiro, exceto Hollywod, depende de apoio do poder público.
Oxalá, os governos tenham sempre clareza disso e não matem o fantástico
potencial do cinema brasileiro.
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