segunda-feira, 18 de maio de 2009

China, CPI e Petrobras

EDITORIAL
DEU NO ESTADO DE MINAS


Lula não pode se iludir com dinheiro chinês e comprometer lucro do país com o pré-sal

A irritação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar denúncias de irregularidades supostamente cometidas pela direção da Petrobras em seu governo tem vários motivos. Mas o que deixou Lula mais preocupado foi o fato de que a bomba estourou exatamente às vésperas de uma das missões mais importantes e delicadas que o presidente vai cumprir no exterior. Hoje e amanhã, ele tenta – em meio à ainda severa crise mundial do crédito – arrancar um empréstimo do governo da China. É dinheiro que pode dar um empurrão no esforço de salvar a estatal brasileira do desconforto de ter descoberto imensas jazidas no mar de Santos e não ter caixa para retirá-las das profundezas do pré-sal. O barulho produzido no Congresso poderia levar os chineses a suspenderem a negociação. Mais do que atrasar a exploração da descoberta, isso também poderia colocar em dúvida a propalada credibilidade que o Brasil teria conquistado no mercado mundial. No plano interno, ficaria sujeita a críticas a fragilidade financeira a que a atual administração teria levado a maior empresa brasileira.

Mas, com ou sem CPI, as chances de Lula voltar da esvaziada viagem à China trazendo o empréstimo ainda são boas. O que preocupa são as bases da negociação. As conversas começaram quando o vice-presidente Xi Jintao esteve no Brasil, em fevereiro. Os chineses se dispuseram a liberar US$ 10 bilhões para a Petrobras, como adiantamento ao fornecimento de petróleo àquele país. Agora, o governo brasileiro tenta elevar esse teto para US$ 15 bilhões. A quantia deixa de assustar quando se sabe que o Banco de Desenvolvimento da China já fez empréstimo ainda maior, de US$ 25 bilhões, à Rússia, com prazo de 20 anos, a ser pago também em barris de petróleo. A China é o segundo maior consumidor de combustíveis fósseis do mundo. Mas só produz a metade do que queima para mover suas usinas, fábricas e meios de transportes.

O problema é que o tempo e a conjuntura são menos favoráveis ao Brasil. A retração do mercado financeiro mundial dá aos fundos chineses excepcional poder de negociação. E, para completar, os preços do petróleo caíram a um terço dos da fase de euforia, quando as jazidas do pré-sal foram anunciadas. Não é à toa que os chineses estão, justamente agora, tentando garantir o abastecimento para os próximos anos. Vão tentar empurrar no Brasil condições parecidas com as que impuseram à Rússia: o compromisso de entrega firme de certa quantia de barris por dia, por número pré-determinado de anos, a preços atuais, sujeitos a pequenos reajustes. Que Lula e a Petrobras resistam à tentação. O preço contratado terá de seguir de perto as cotações internacionais ou, na pior das hipóteses, que seja permitido o pagamento do empréstimo em dinheiro, no valor equivalente ao número de barris, quando isso for mais interessante para a Petrobras. Afinal, nem a crise mundial nem as atuais cotações do petróleo vão durar para sempre. E engessar o ganho do Brasil com o futuro do pré-sal será uma precipitação imperdoável.

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