Operador do mensalão disse ter pagado despesas do então presidente da República
Em evento em Paris, ex-presidente evitou a imprensa e afirmou apenas que não poderia "responder a mentiras"
Dilma sai em defesa de Lula
"É mentira", diz ex-presidente sobre depoimento de Valério ligando-o diretamente a esquema
Fernando Eichenberg
PARIS e BRASÍLIA - Em sua primeira visita oficial à França, a presidenta Dilma Rousseff se viu obrigada a se pronunciar sobre as novas acusações de Marcos Valério, operador do mensalão, envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o esquema. Apesar de dizer que essa era uma questão que ela deveria responder no Brasil, Dilma saiu em defesa de seu antecessor.
- Todos sabem do meu respeito e da minha amizade pelo presidente Lula, então eu repudio todas as tentativas, e essa não seria a primeira vez, de tentar destituí-lo da imensa carga de respeito que o povo brasileiro lhe tem - disse a presidente, ao ser questionada pela imprensa brasileira na entrevista que deu ao lado do presidente da França, François Hollande, no Palácio do Eliseu, residência oficial do presidente francês.
Ontem, o jornal "O Estado de S. Paulo" divulgou que o operador do mensalão, Marcos Valério, em depoimento prestado à Procuradoria Geral da República (PGR) em 24 de setembro deste ano, afirmou que recursos do mensalão foram usados para pagar contas pessoais do então presidente Lula. O operador do esquema disse que foram feitos dois repasses, um deles de R$ 100 mil, para a conta da empresa de Freud Godoy, ex-assessor da Presidência da República.
Dilma ressaltou o balanço de governo de Lula, e o inocentou no escândalo do caso do mensalão.
- Eu respeito o presidente Lula porque ele foi o presidente que desenvolveu o país, e é responsável pela distribuição de renda mais expressiva dos últimos anos, pelo que fez internacionalmente, pela sua extrema amizade pela África, pelo seu olhar para a América Latina, e pelo estabelecimento de relações iguais com os países desenvolvidos do mundo. Eu não poderia deixar de assinalar que eu considero lamentáveis essas tentativas de desgastar a imagem do presidente Lula. Acho lamentável - encerrou Dilma, que logo em seguida foi aplaudida por integrantes de sua comitiva presentes na sala.
Após a fala da colega, o presidente François Hollande também quis se manifestar sobre o ex-presidente, sem entrar em detalhes sobre a política interna brasileira:
- Lula tem na França uma imagem considerável. Ele constantemente defendeu os princípios de justiça e de solidariedade, ao mesmo tempo garantindo ao Brasil um desenvolvimento econômico excepcional. Aqui o presidente Lula é uma referência - disse.
Lula também estava em Paris, mas, visivelmente contrariado com a situação, recusou-se a falar com jornalistas ao deixar seu hotel, no início da tarde, para se dirigir ao Centro de Conferência Ministerial, onde assistiu à abertura do Fórum pelo Progresso Social, que teve discursos pronunciados por Dilma e Hollande. Ele também evitou a imprensa durante o evento, organizado em conjunto pelo Instituto Lula e pela Fundação Jean-Jaurès, ligada ao Partido Socialista (PS). Sua única declaração foi dada à TV Globo.
- Não posso acreditar em mentiras. Não posso responder mentiras - disse, recusando-se a responder quaisquer outras perguntas.
Valério diz que Lula deu aval a empréstimos ao PT
Além de afirmar no depoimento à PGR que Lula teve despesa pessoais pagas por recursos do esquema, Valério, segundo o "Estado de S. Paulo", mencionou que uma reunião foi realizada no segundo andar do Palácio do Planalto, no começo de 2003, em que estavam presentes o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, e o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
O encontro serviu para acertar que Valério contrataria empréstimos com bancos para financiar o mensalão, segundo o depoimento à PGR. Após a reunião, os três teriam subido por uma escada até o gabinete do presidente Lula. O encontro durou três minutos e serviu para Lula dar o "ok" à transação com os bancos, de acordo com o depoimento de Valério.
O operador do mensalão também denunciou um suposto acordo de Lula com a Portugal Telecom para financiamento em R$ 7 milhões do caixa do PT. O então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, teria participado da negociação. O dinheiro foi depositado na conta de publicitários que prestaram serviços para campanhas de candidatos do partido, conforme o depoimento à PGR.
Valério relatou ainda uma suposta ameaça de morte feita por Paulo Okamotto, amigo do ex-presidente e diretor do Instituto Lula. "Tem gente no PT que acha que a gente devia matar você. Ou você se comporta, ou você morre", teria dito Okamotto.
No mesmo depoimento, o operador do mensalão disse que o PT paga a conta dos R$ 4 milhões cobrados pelos advogados de Valério para defendê-lo no processo em curso no Supremo Tribunal Federal (STF). O pagamento, segundo o depoente, é uma contrapartida aos serviços prestados ao partido no esquema do mensalão.
O prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho, também foi citado por Valério como intermediário de uma medida provisória que favoreceu o Banco BMG no programa de crédito consignado a aposentados. Coube a Marinho negociar a edição da medida quando era era presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 2003, segundo o depoimento prestado à PGR.
Ainda de acordo com Valério, ele teria sido procurado pelo PT para que providenciasse R$ 6 milhões, dinheiro que serviria para o fim de supostas chantagens contra Lula no caso do assassinato do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel (PT). Valério citou também repasses à campanha do senador Humberto Costa (PT-PE) ao governo de Pernambuco, em 2002. O valor depositado, segundo Valério, foi de R$ 512.337.
Fonte: O Globo
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