- Valor Econômico
PIB cresce 4% em 2018, diz José Márcio Camargo a Temer
Os últimos dados da atividade econômica foram preocupantes, levando alguns economistas a suspeitarem da consistência do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este e para o próximo ano. A produção industrial caiu 0,8% em agosto frente a julho. As vendas do varejo tiveram queda de 0,5% em igual período, resultando no pior mês de agosto desde 2015.
O volume de serviços teve recuo de 1% (com ajuste sazonal), o maior para o mês desde 2012, quando se iniciou a série. Segundo os dados divulgados pelo IBGE, os serviços prestados às famílias caiu 4,8% no mesmo período.
O governo, porém, não se abalou com esses indicadores e continua confiante na trajetória da recuperação da atividade.
No último domingo o economista José Márcio Camargo, da Opus gestora de recursos e professor da PUC-Rio, esteve no Palácio do Jaburu, em uma reunião com o presidente Michel Temer e com o ministro Moreira Franco, da Secretaria Geral da Presidência. Para ele, o desempenho da atividade nos últimos seis meses surpreendeu positivamente e os indicadores de agosto, que interromperam esse desempenho, não representam uma tendência.
O economista, ao contrário, traçou um cenário bastante promissor para 2017 e 2018. Ele conta com crescimento de 1% este ano e de algo próximo de 4% para o ano que vem. São expectativas bem mais favoráveis do que as do último Focus do BC, que traz projeção de crescimento de 0,72% para este ano e de 2,5% para 2018 e mais otimista do que as do Banco Central. No último relatório trimestral de inflação o BC mencionou um crescimento de 0,7% este ano e de 2,2% no próximo.
Como premissa de trabalho, Camargo explicou que conta com a aprovação da reforma da Previdência antes do fim do ano e aposta que ela não será minimalista. A reforma instituiria a idade mínima, traria uma dura regra de transição e, segundo sugere, haveria um escalonamento das contribuições previdenciárias. Hoje a contribuição é de 30 anos para as mulheres e 35 anos para os homens. Na proposta de emenda constitucional (PEC), ela foi unificada para 25 anos, sem escalonamento.
No centro dos seus argumentos para a forte expansão da economia estão os efeitos da reforma trabalhista - que entra em vigor no dia 11 de novembro e vai impor uma substancial redução no custo do trabalho e menor desemprego para se obter uma mesma taxa de inflação; e a lei da terceirização - que tem potencial para dar um choque de ganhos de produtividade na carente economia doméstica. Para se ter uma ideia, hoje para conter a inflação de serviços em 4% é preciso uma taxa de desemprego de 12% a 13%, disse.
Com essas duas importantes reformas no mercado de trabalho associadas a uma taxa de inflação, no ano que vem, inferior a 4% (o Top 5 da pesquisa Focus indica um IPCA de 3,9%), e aos desdobramentos da criação da TLP (Taxa de Longo Prazo), o país estará em um ambiente econômico jamais visto na sua história.
"Estamos vivendo uma revolução no Brasil que vai começar a aparecer entre o fim deste ano e o início do próximo", acredita ele.
Os juros reais devem cair para a faixa de 2% a 2,5% já no próximo ano, quando a Selic deve baixar para inéditos 6,5% ao ano. A taxa de desemprego que começou o ano em 13,7% da força de trabalho, já caiu para 11,5% e no próximo ano ela estará em um dígito, em uma reversão mais rápida do que visto historicamente como resultado da reforma da legislação sobre o mercado de trabalho, garante o economista.
O crescimento, segundo essa abordagem, continuará sendo puxado pelo consumo mas o investimento começará a dar sinais de vida em meados do primeiro semestre do ano que vem. Na expectativa do Banco Central, por exemplo, a formação bruta de capital fixo continua em queda este ano, de 3,2%, e reage em 2018, podendo ter uma expansão de 3%, o que bastante modesto dada a contração já ocorrida, mas é uma mudança de sinal há muito esperada.
Se o cenário que o economista traçou para o presidente, no domingo, se concretizar, cria-se um ambiente de maior bem estar que pode influenciar uma candidatura mais alinhada com o governo atual nas eleições presidenciais de 2018, conforme avaliação feita por José Márcio.
A ameaça de procuradores e auditores fiscais do trabalho de ignorarem a reforma trabalhista, como noticiou o Valor, ontem, em pouco ou nada muda a visão dele, que tem acompanhado esses movimentos e participado de reuniões de magistrados do trabalho. Eles estão dispostos a desencadear uma "guerra de guerrilha" contra a lei 13.467, em uma luta por preservação de poder, disse. Porém, dificilmente serão bem sucedidos, primeiro porque não cabe a desobediência à lei e, segundo, porque a reforma é boa para trabalhadores e empresas, argumenta o economista.
Até agora, para reduzir a folha de salários em períodos de crise as empresas tem como única porta a demissão de trabalhadores com salários mais altos e sua substituição por contratações com salários mais baixos ou simplesmente demissões com o congelamento de vagas. Trata-se de uma flexibilidade "perversa", segundo o economista. A nova lei permite negociar com o trabalhador uma redução do salário nominal para manutenção do emprego. Caberá ao empregado decidir se é melhor ganhar menos ou não ganhar nada. Camargo considera que esses efeitos estão sendo pouco considerados pelos analistas.
As expectativas do professor da PUC-Rio não são, é claro, um consenso no mercado. Há economistas com receio de que o crescimento seja bem mais moderado no próximo ano, algo mais próximo a 2%, e boa parte dos analistas de mercado considera que a reforma da previdência só virá pelas mãos do próximo presidente da República, eleito em 2018.
O governo Temer, contudo, não desistiu de tentar pelo menos a aprovação da reforma na Câmara, deixando o Senado para o início do ano que vem. Isso vai depender de com que base de apoio Michel Temer sairá da votação da segunda denúncia contra o presidente, marcada para o dia 25, quarta feira.
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