O Estado de S. Paulo
Diversos componentes estão se combinando para
formar uma só crise
É até com certa fleuma que Lula parece
caminhar para um cenário dominado por componentes preocupantes. Ou então é a
calma dos que ignoram o que pode acontecer, pois até aqui nada é galopante.
A tendência da inflação – o pior inimigo da
popularidade de qualquer governo – é de subida. Os gráficos apontando para cima
já vêm desde a metade do ano passado. Não causaram pânico, mas seu efeito
corrosivo é palpável.
O mesmo ocorre com as taxas de crescimento de um PIB muito dependente do expansionismo fiscal e, portanto, do consumo das famílias. As previsões de que a economia vai esfriar são unânimes, o que parece se confirmar diante do sufoco causado por juros elevadíssimos.
Antecipa-se que seus efeitos serão igualmente
corrosivos, embora seja muito difícil afirmar em que prazo. Não se acredita em
danos de grande monta ainda no mercado de trabalho.
São constantes e repetitivas as derrotas do
Lula 3 nos embates em redes sociais. Elas acompanham as enormes dificuldades
políticas no confronto com o Legislativo que deixaram somente o Judiciário como
grande aliado do Planalto. O governo cambaleia, mas não é iminente um nocaute.
O problema é a combinação de inflação
subindo, popularidade descendo, economia esfriando, dificuldades políticas
aumentando e capacidade de tocar uma agenda política diminuindo. Evitar que
essa mescla se converta em “massa crítica” implica diagnóstico preciso da
situação.
O único que Lula 3 forneceu até aqui é o de
“problema de comunicação”. O Planalto não vê a sinuca de bico fiscal, considera
que o PIB sempre será melhor do que se previa, que a relação entre os Poderes
pode ser controlada pela concessão de ministérios e que desconfiança é mero
resultado de fake news criadas pela oposição.
Parte dos fatores negativos está fora do
controle, como o delicado cenário internacional. Mas o que está encolhendo são
as ferramentas para dar conta de deterioração política e econômica doméstica,
até aqui razoavelmente ao alcance do Planalto.
Do lado econômico, as escolhas por uma
política fiscal expansionista ajudaram a acelerar a inflação e reduziram espaço
de manobra se as coisas continuam como estão – ou seja, pisar no acelerador
significa impulsionar a crise de desconfiança.
Do lado político, o pecado original na
montagem da coligação governista e na incapacidade do PT de realmente dividir o
poder restringiu a margem de manobra e foi totalmente incapaz de impedir que o
Legislativo deixasse de avançar sobre as prerrogativas do Executivo. Em outras
palavras, Lula manda menos hoje do que há dois anos.
A ficha ainda não caiu.
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