No Congresso, partidos dizem que demissão não basta e cobram continuidade das investigações sobre ex-ministro
Cristiane Jungblut e Adriana Vasconcelos
BRASÍLIA. Os problemas de Alfredo Nascimento estão longe de acabar com sua demissão do cargo de ministro dos Transportes. Ele retomará o mandato de senador pelo Amazonas sob a mira da oposição. O PSOL vai formalizar hoje representação contra Nascimento junto ao Conselho de Ética do Senado para que ele se explique e seja investigado. Na Câmara, o PSDB, o DEM e o PPS também cobraram a continuidade das investigações pelo Ministério Público e sugeriram que a presidente Dilma Rousseff aplique o mesmo rigor em outras áreas suspeitas do governo e não apenas na pasta comandada pelo PR.
- Este caso não se resolve com a demissão do ministro. Considero que o senhor Alfredo Nascimento deve explicações também ao Senado. Afinal, ele é membro desta Casa e terá de se explicar perante o Conselho de Ética - adiantou o líder do PSOL no Senado, Randolfe Rodrigues (PA), da tribuna.
Líderes da oposição lembravam ontem que a presidente Dilma Rousseff já foi obrigada a mexer em quatro ministros em apenas 30 dias, sendo que nos casos de Alfredo Nascimento e de Antonio Palocci, que deixou a Casa Civil, por suspeitas de irregularidades - Ideli Salvatti e Luiz Sérgio foram trocados de pasta.
PSDB pede a MP que também investigue filho de ministro
O líder do PSDB na Câmara, deputado Duarte Nogueira (SP), pediu ao Ministério Público que também investigue as denúncias de enriquecimento suspeito do filho de Alfredo Nascimento, Gustavo de Moraes Pereira, e de Mauro Barbosa, seu ex-chefe de gabinete.
- A permanência do ministro Alfredo Nascimento, que já era insustentável, tornou-se insuportável. Mas o afastamento do ministro não esgota a necessidade de aprofundamento das investigações sobre desvio de dinheiro público, transferência de recursos para parlamentares e partidos - disse o líder tucano, estocando a presidente Dilma Rousseff: - Tanto o ministro Antonio Palocci como Nascimento eram ministros do governo Lula. Conviveram com Lula e com Dilma. São quatro ministros em 30 dias. Se o presidente Lula passava a mão na cabeça de todo mundo, espero que a presidente Dilma não tenha o mesmo comportamento.
Na mesma linha, o líder do DEM na Câmara, deputado ACM Neto (BA), disse que há outros casos de corrupção no governo, sem entrar em detalhes.
- O governo está podre. Em 30 dias, é a quarta alteração de ministro, sendo o segundo por problema de corrupção. O problema está no governo, não apenas no Ministério dos Transportes. Dilma era ministra da Casa Civil, a todo-poderosa no PAC. Não aceito a visão simplista de que se limita aos Transportes - disse ACM Neto.
Para o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), a revelação do esquema de corrupção no Ministério dos Transportes indica que o "mensalão" descoberto na gestão do ex-presidente Lula continua. Guerra fez cobranças sobre a participação do PT na gestão do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit).
- A presidente Dilma deveria conhecer esses fatos, que não começaram no seu governo. Mas ela estava no governo passado e era uma superministra - disse Guerra. - A iniciativa da presidente Dilma de afastar praticamente todo mundo deve ser elogiada, mas quem vai ser punido daqui para a frente? A presidente vai atuar em outras áreas que estão do mesmo jeito ou vai punir apenas o PR? A pessoa não pode ser firme e honesta apenas pela metade. E, se quiser fazer um governo austero, a presidente terá o nosso apoio.
O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), também quer que Nascimento seja investigado no Conselho de Ética do Senado, além de defender a continuidade das investigações no Ministério Público sobre cobrança de propina em contratos do Ministério dos Transportes. Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), Nascimento poderá enfrentar problemas com o Conselho de Ética.
- Não vai dar nem para argumentar que se trata de um assunto anterior ao seu mandato. Se ele tivesse entendido o recado da presidente Dilma no último fim de semana e pedido demissão antes, teria deixado seu filho fora disso - disse Simon.
Para o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Nascimento "caiu tarde":
- A presidente tomou as medidas pela metade quando afastou apenas parte da cúpula do Ministério dos Transportes no último fim de semana.
Da parte do governo, o discurso foi de que a presidente Dilma agiu de forma rápida.
- O importante é que a presidente foi rápida, as decisões foram tomadas de forma a combater qualquer tipo de crise - disse o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), resumindo como "lamentável" a situação no Ministério dos Transportes.
No Senado, a mobilização pela instalação de uma CPI sobre o Dnit perdeu força com a queda de Nascimento. A oposição já computava ontem o apoio de pelo menos 23 senadores em favor da instalação da CPI do Dnit, mas, com a saída do ex-ministro, parte dos governistas que ainda avaliavam a possibilidade de dar seu apoio às investigações recuou.
FONTE: O GLOBO
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