Em encontro com 29 empresários que representam metade do PIB brasileiro, a presidente Dilma Rousseff cobrou investimentos e mais empenho da iniciativa privada no Congresso para aprovar medidas de incentivo ao crescimento econômico. Em troca, ouviu pedidos do setor produtivo: o câmbio, o peso excessivo dos impostos e os elevados custos financeiros e de mão de obra foram as principais reclamações dos executivos. O governo disse que anunciará medidas de desoneração de tributos e concessão de incentivos, como redução dos encargos sobre a folha de pagamento e ajustes no IPI e no PIS/Cofins, além do barateamento dos empréstimos. Apesar de o governo prever um crescimento de 4,5% do PIB este ano, analistas apostam numa expansão abaixo de 3%. Para economistas, medidas isoladas não bastam para elevar investimentos
Votações paradas até a Páscoa
Com crise em alta, Câmara nada aprovará; Dilma insiste em não ceder a parlamentares
Gerson Camarotti
Além de se amparar na popularidade alta, a presidente Dilma Rousseff avalia que sua decisão de não ceder à pressão dos aliados é favorecida pela agenda de votação do Congresso em 2012 e pelo esvaziamento do Legislativo no ano eleitoral. Diante do reconhecimento de aliados de que as votações na Câmara só devem ser retomadas após a Semana Santa, cresceu ontem um movimento entre os articuladores políticos do governo para que a Dilma faça um gesto de distensão e negocie um cronograma, sem data fixa, para votar o Código Florestal na Câmara e, com isso, criar um entendimento para votar a Lei Geral da Copa. Mas ela resiste em recuar.
Com o clima de insatisfação no Congresso, com parte da base aliada rebelada, o governo sofreu derrotas anteontem - como a obstrução que impediu a votação da Lei Geral da Copa e a aprovação de um convite para que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, participe de uma audiência no Congresso.
Os operadores políticos do governo tentam quebrar resistências dos dois lados, por considerar que a corda já foi esticada demais. Ontem, Dilma almoçou com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvati, para avaliar o cenário político. Aliados sugeriram à presidente uma negociação também em torno do texto do Código Florestal, para ter o apoio dos ruralistas. Dilma ainda não analisou a proposta.
O endurecimento nas tratativas com os aliados partiu sempre da presidente, que faz uma conta pragmática: até o fim de junho, o interesse específico do governo está centrado na aprovação de duas matérias: a Lei Geral da Copa e o Fundo de Previdência Complementar do Servidor (Funpresp).
Outros projetos em pauta, como o Código Florestal, não estão entre as prioridades do Planalto. Dilma avalia que a crise logo vai esfriar, porque os parlamentares precisam voltar suas atenções para as campanhas eleitorais nos municípios. Por isso, ela considera que este é o melhor ano para fazer o chamado enfrentamento com a classe política.
Câmara ficará nas mãos de uma "independente"
Esse endurecimento foi explicitado mais uma vez anteontem, quando Dilma , que estava no Rio, determinou aos líderes aliados que votassem a Lei da Copa. Ela foi alertada por Ideli do risco de derrota, mas manteve sua posição. Resultado: deputados aliados se uniram à oposição e impediram a votação, que só deve ser retomada na semana de 11 de abril.
Líderes governistas reunidos em Brasília queriam negociar um calendário para votar o Código Florestal, mas Dilma não aceitou conversar com a "faca no pescoço". A presidente embarca domingo para a Índia. Ideli, o ministro Aldo Rebelo (Esportes) e os líderes do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), tentarão retomar o diálogo nesse período.
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que assumirá a Presidência da República entre domingo e quarta-feira - quando Dilma e seu vice, Michel Temer, estarão fora do país - pregou o entendimento entre governo e sua base:
- Vamos tentar na próxima semana equilibrar um pouco essa situação, que pode ocasionar inclusive uma postergação das discussões, em função da minha ausência da Câmara, e da ausência da presidenta do país. Mas não vejo problema nisso. É natural que aconteça. Vamos tratar essa questão com a mesma naturalidade que já tratamos em outras oportunidades - disse Maia.
No período em que Dilma e Temer estiverem fora do país, Maia assumirá interinamente a Presidência,; o comando da Câmara ficará nas mãos da deputada Rose de Freitas (ES), da ala independente do PMDB. Líderes aliados e da oposição não contam mais com votação semana que vem.
- O governo não aceita ser derrotado. Isso é arrogância. Há temas que transcendem a questão de governo. Votações agora, só depois da Páscoa. Acho difícil avançar até na votação de medidas provisórias - disse o líder do DEM, ACM Neto (BA).
À frente das negociações para aprovação da Lei Geral da Copa, Aldo, que já presidiu a Câmara, minimizou a crise:
- Olha, no Congresso, ninguém escapou de derrota até hoje, nem o governo militar. Então, o governo tem que negociar, votar e resolver a questão dessa forma.
Dilma tem reagido de forma dura, desde que o Senado rejeitou a recondução de Bernardo Figueiredo para o comando da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT): suspendeu o repasse de emendas para aliados, trocou os líderes do governo no Congresso e suspendeu os encontros que seriam feitos com as bancadas aliadas. Ontem, observadores políticos salientaram mais um gesto dela: indicou diretores interinos para a ANTT, mostrando ao Congresso que não está disposta à ficar refém de ameças dos aliados.
FONTE: O GLOBO
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