- Folha de S. Paulo
Na política brasileira, quem tem padrinho não morre pagão. Se o padrinho for o senador Renan Calheiros, a regra vale por dois.
Em junho de 2003, primeiro ano do governo Lula, o peemedebista indicou o ex-senador cearense Sérgio Machado para o comando da Transpetro. Passaram-se quase 12 anos. O presidente da República mudou, os 39 ministros mudaram, mas o afilhado de Renan não largou a cadeira.
Desde outubro passado, Machado está na lista de suspeitos de participar dos desvios na Petrobras. O delator do esquema, Paulo Roberto Costa, contou à Justiça Federal que recebeu R$ 500 mil das mãos dele. A propina, paga em espécie, estaria ligada a contratos da subsidiária.
Quando o depoimento veio à tona, a presidente Dilma disse a aliados que demitiria o auxiliar. Renan e a caciquia do PMDB reagiram com fúria. Com a reeleição em risco, Dilma se deixou emparedar e voltou atrás.
A consultoria PricewaterhouseCoopers, que parece mais preocupada com sua reputação do que a presidente, foi mais rigorosa: avisou que não assinaria o balanço da estatal enquanto Machado estivesse lá.
O afilhado de Renan esbravejou, disse ser vítima de "imputações caluniosas", mas pediu licença do cargo. Desde então, já prorrogou o próprio afastamento por três vezes, tratando a estatal como propriedade privada. A última foi anunciada ontem à noite, depois de dois dias de impasse em que ninguém na empresa sabia o que ele iria fazer. Dilma esperou a decisão em silêncio, como se sua autoridade valesse menos que a do subordinado.
A imagem de intocável aproxima Machado do chefe Renan. Em 2007, uma apresentadora de TV revelou que a empreiteira Mendes Junior pagava a pensão de sua filha com o senador. Ele renunciou à presidência da Casa, mas preservou o mandato. Depois de cinco anos, voltou a ocupar a cadeira. Agora é favorito à reeleição, apesar de também ter entrado na mira da Operação Lava Jato.
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