• DEM e SD criticam nova postura moderada das lideranças tucanas que deixaram o pedido de impeachment de Dilma em segundo plano
Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - A decisão do PSDB de deixar em segundo plano o movimento pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff e apoiar o governo na votação, na Câmara, da renovação da Desvinculação das Receitas da União (DRU) causou um racha no bloco oposicionista.
Criado em setembro, o Movimento Parlamentar Pró-Impeachment praticamente deixou de funcionar e deputados do SD e DEM acusam abertamente os tucanos de terem “jogado pela janela” a principal bandeira que unificava as oposições.
Depois de manter por quase um ano uma linha de oposição sistemática e radical contra o governo, o presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), deu uma guinada no discurso. Segundo tucanos, a sigla constatou, por meio de pesquisas, que a estratégia enfrentava uma fadiga de material.
“Foi um pouco a sinalização de pesquisas que mostraram a necessidade do PSDB apresentar soluções para a crise. Há uma cobrança forte da opinião pública, o que provoca insegurança nas lideranças da bancada. Isso causa os avanços e recuos do partido, mas a opinião pública também avança e recua”, diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
O setor mais engajado no discurso anti-Dilma, porém, tem outra tese para explicar a mudança de discurso do PSDB. “Eles abriram mão do impeachment para ficar bem com o mercado. Preferem seguir o mercado do que o povo brasileiro. O clima está ruim na oposição. Jogaram o impeachment pela janela”, diz o deputado Paulinho da Força (SP), presidente do Solidariedade. Ele afirma, ainda, que seu partido, ao contrário do PSDB, vai “obstruir ao máximo” a DRU. “Como pode um governo corrupto como esse gastar até 30% do orçamento livremente?”
A desvinculação de receitas da União (DRU) foi adotada em 1994, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, com o objetivo de aumentar a flexibilidade para que o governo use os recursos do orçamento nas despesas que considerar de maior prioridade.
“A questão da Desvinculação das Receitas da União é um instrumento que nós consideramos hoje necessário à execução orçamentária, à melhoria da qualidade da saúde, da qualidade da área de transporte. Isso é uma demonstração de que o PSDB não é oposição ao Brasil. Jamais seremos”, diz Aécio.
Sobre o impeachment, o tucano diz que essa a alternativa ainda está na pauta, mas não pode ser a “agenda exclusiva” das oposições. A avaliação de líderes de oposição, porém, é de que o PSDB cometeu “erro estratégico” ao anunciar o apoio a DRU e tirar o impeachment do topo das prioridades.
“Respeito a posição pró-governabilidade do PSDB, mas acho um erro se antecipar na oferta de garantias ao governo. Se o próprio governo não tem posição fechada, porque eu tenho obrigação de me antecipar indicando os caminhos da governabilidade?”, rebate o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).
Fator. Apesar do novo discurso moderado do PSDB, a bancada tucana da Câmara votou maciçamente na madrugada de quarta-feira a favor da derrubada do veto presidencial à medida que flexibilizava o fator previdenciário. O fator foi a regra de aposentadoria instituída no governo Fernando Henrique Cardoso, em 1999, para diminuir o déficit da Previdência Social.
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