• Partido do presidente da Câmara avalia que aliado ficou vulnerável depois de quinta passada; PT quer reunião
Júnia Gama e Fernanda Krakovics - O Globo
Integrantes da cúpula do PMDB ligados ao vice-presidente Michel Temer avaliam que o ousado movimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para inviabilizar a sessão do Conselho de Ética na quinta-feira, deixou o aliado em situação ainda mais vulnerável e já demonstram preocupação com a disputa que pode tirar o partido do comando da Casa. O agravamento da situação de Cunha e o esvaziamento de apoios em todos os partidos, inclusive no próprio PMDB, colocou os caciques peemedebistas em estado de alerta com a possibilidade de o partido perder a presidência da Casa. Os peemedebistas destacam que o comando da Câmara é crucial para o projeto político do PMDB de aumentar a hegemonia nas eleições municipais de 2016 e, principalmente, para uma candidatura presidencial em 2018.
Há um temor de que, com o enfraquecimento cada vez maior de Cunha diante de seus pares, a sucessão pela presidência da Câmara adquira uma dinâmica incontrolável que não termine com o que consideram um movimento natural, que seria a manutenção do cargo com o PMDB, por ser o maior partido na Casa. A avaliação entre essas lideranças é de que será pequena a influência que Cunha terá para fazer seu sucessor e que pode ser necessária uma intervenção por parte do comando do PMDB na disputa. Os dirigentes do partido querem evitar que o governo seja o responsável pela nomeação do próximo presidente da Casa.
— O fundamental para o PMDB é a presidência da Câmara ficar com o partido e isso deve ser resolvido pela direção do partido, junto com a bancada, pela importância que isso vai ter nas eleições municipais e em 2018. É uma situação delicada, porque sabemos que é muito difícil qualquer negociação com Eduardo Cunha por causa da postura convicta dele — afirma um peemedebista histórico.
As manobras de Eduardo Cunha para tentar impedir a abertura de processo contra ele no Conselho de Ética da Casa, causaram desconforto na cúpula do PMDB. A operação foi considerada "muito truculenta" pela direção partidária. Não é tradição do PMDB, no entanto, tomar a iniciativa de punir seus integrantes, ainda que haja um sentimento de que o partido começa a ser prejudicado pela exposição negativa.
— A situação dele piorou muito depois da coletiva em que foi tentar convencer a versão dele sobre as contas da Suíça. Daí em diante, houve uma piora crescente que culminou com essa manobra desastrosa de quinta. Mas, o partido não deve tomar iniciativa diante do quadro. As coisas estão caminhando na Câmara e o que é imputado a ele cabe a ele mesmo resolver. Mas seria ingênuo dizer que não prejudica o partido –— diz um dirigente do partido.
A direção do PT continua tentando ganhar tempo, temendo que um confronto com Cunha prejudique o governo. A preocupação é que o presidente da Câmara revide com a abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e que a crise política inviabilize a votação de medidas do ajuste fiscal.
Mas, no momento em que o deputado Fausto Pinato (PRBSP), relator do processo contra Cunha, conseguir ler seu parecer pela continuidade das investigações, o PT deve votar a favor. Deputados do PT reclamam que a decisão de não dar quórum para a sessão do Conselho de Ética não foi discutida com a bancada. Segundo petistas, a articulação ficou restrita à direção do partido; ao líder da bancada, deputado Sibá Machado (PT); e aos integrantes do colegiado.
A insatisfação na bancada petista deve-se ao fato de o desgaste pelo apoio à manobra protelatória de Cunha ser dividido entre todos. A revolta maior é dos deputados que integram a Mensagem, segunda maior corrente interna petista e oposição ao comando partidário. Metade da bancada do PT assinou a representação contra Cunha feita pelo PSOL no Conselho de Ética.
— A bancada está no limite — disse um deputado do PT.
Os insatisfeitos cobram do líder Sibá Machado uma reunião, na próxima terça-feira, para discutir o assunto, e tentam conseguir uma posição partidária, com o respaldo do presidente do PT, Rui Falcão. Depois de desembarcar da aliança que mantinha com Cunha, o PSDB tenta agora jogar o desgaste pela sustentação do peemedebista no colo do PT. É isso que uma parcela da bancada petista tenta evitar.
O apoio a Cunha está minguando mesmo entre seus principais aliados. Deputados do entorno de de Eduardo Cunha se reuniram na liderança do PTB e fizeram uma avaliação de que “erros” foram cometidos no episódio e que houve “exagero’ na operação, já que a expectativa era que não haveria votação do relatório na quinta-feira. Aliados do presidente da Câmara revelaram incômodo com a situação e analisaram que acabaram ficando em uma "saia-justa" ao respaldarem Cunha.
As manobras desta quinta-feira reforçaram o sentimento de um grupo restrito de pessoas próximas a Cunha que defendem que ele deve construir uma "saída honrosa" para salvar seu mandato com a renúncia à presidência da Câmara. Está prevista para esta semana uma abordagem nesse sentido ao peemedebista.
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