Folha de S. Paulo
Lula insiste em não ver que o governo leva
surras autoinfligidas, das quais a oposição só se aproveita
Não ficou muito claro o que o
presidente Lula (PT) quis dizer
quando anunciou que a partir de junho vai
voltar a "fazer política", percorrendo o país para "combater a
canalhice".
Talvez tenha querido dar um aviso aos
navegantes de que aquele Lula, que na oposição arrasava quarteirões e na
Presidência não dava moleza aos adversários, estará de volta, mostrando com
quantos paus se faz um embate de mestre.
Se foi esse o significado de suas palavras, vai ter de começar dando um jeito de não levar um baile de Nikolas Ferreira (PL-MG) a cada trapalhada do governo.
O jovem deputado de primeiro mandato, que
antes havia sido vereador durante dois anos, virou referência de temor para o
experiente PT em sua quinta estadia no Palácio do Planalto. Um contraste e
tanto com Lula pela terceira vez presidente, tarimbadíssimo nas lides da
política, às quais já dedica mais da metade de seus 79 anos de idade.
Haveria até sentido em atribuir as
dificuldades comparativas a uma questão geracional se o deputado dos temidos
vídeos fosse o único combatente em campo. Ele é apenas o mais estridente
integrante de uma oposição composta majoritariamente por gente formada na
escola de professores que a antiga crônica política chamava de raposas
felpudas.
A esses seres matreiros o governo tem
fornecido matéria-prima de trabalho com decisões atabalhoadas, declarações
inapropriadas, arrogância desmedida e recuos improvisados. Tudo isso embalado
numa repetição sistemática de erros que deveriam ter sido aprendidos e
corrigidos.
Nenhuma lição parece ter sido tirada dos
episódios das blusinhas, do Pix, dos atropelos ao Congresso, da crise no INSS e
da confusão
do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). É uma sucessão de surras
autoinfligidas, das quais adversários e aliados de ocasião obviamente se
aproveitam sem que o governo esboce capacidade de reação.
E Lula acha que vai resolver tudo a partir de junho, quando, anuncia,
percorrerá o país para "fazer política e combater a canalhice".
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