Sergio Lirio/ CartaCapital
Reeleger o presidente Lula tem de ser o
centro da ação do PT, diz Edinho Silva, mas é preciso também preparar o futuro
Candidato da principal corrente e apoiado por Lula, Edinho Silva, ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara, se eleito para comandar o PT, dedicará a maior parte da energia no primeiro ano de mandato, se não toda, a uma missão que considera central: reeleger o presidente em 2026. “É fundamental para a história brasileira”, afirma. O futuro da legenda não escapa, porém, ao seu radar. A agremiação, afirma, precisa reconectar-se com as bases e entender as mudanças econômicas e sociais em curso, se quiser se fortalecer e continuar relevante, principalmente depois de Lula, sua maior e mais simbólica liderança, deixar de disputar eleições. A batalha entre democracia e fascismo, acredita o dirigente petista, será não só difícil, mas, no mínimo, de “médio prazo”. Segundo ele, o PT precisa abraçar a defesa da democracia direta e de uma profunda reforma político-eleitoral que valorize os partidos e detenha o culto à personalidade típico da extrema-direita.
A íntegra da entrevista está
no canal do YouTube de CartaCapital.
Eleições no PT
Sou filiado ao PT desde 1985 e não me lembro
de nenhuma eleição sem disputa. O partido preza muito sua democracia interna,
tem uma vida orgânica muito forte, cotidianamente mobiliza as suas instâncias,
dirigentes e militância. Não vejo como um problema, mas um mérito da legenda
ter várias candidaturas.
O pós-Lula
O PT enfrentou um processo de ataques que
provavelmente nenhum outro partido vivenciou. E vencemos. A prisão e, depois, a
liberdade do presidente Lula descaracterizaram tudo aquilo que havia sido
construído como retórica para nos destruir. Conseguimos nos refazer, o
presidente Lula ganhou as eleições de 2022. Portanto, o PT é vitorioso. Mas,
claro, por mais que este seja um fato inegável, precisamos entender as suas
dificuldades, aquilo que precisa superar do ponto de vista orgânico,
organizativo e de suas posições. Vamos enfrentar um processo muito difícil no
próximo período. Acho que o campo democrático, de modo geral, vai enfrentar um
processo muito difícil. Vemos na Europa a ascensão do fascismo e esse discurso
também cresceu no Brasil, tem capilaridade eleitoral. O PT terá de ser um
partido forte, com as suas instâncias funcionando, para enfrentar essa disputa,
que será, no mínimo, de médio prazo. Além do mais, precisamos nos fortalecer
para o pós-Lula. A próxima será a última eleição do presidente. Teremos de
dialogar com a sociedade sem Lula disputando eleições. O presidente tem uma
frase muito emblemática. Ele diz que o substituto não será um nome, será o
partido. Precisamos reestruturar o PT, voltar a fazer trabalho de base. Temos
dificuldade para dialogar com a nova classe trabalhadora. O partido precisará
dar conta dessas demandas para continuar a ser relevante na disputa de rumos do
Brasil, que influencie a América Latina e mostre que aqui somos capazes de
derrotar o fascismo. Se um país do nosso tamanho consegue enfraquecer a
extrema-direita, torna-se um referencial para o continente e para a Europa.
A disputa com o pensamento fascista será
longa, afirma
Ordem ou mudança?
A democracia representativa vive uma crise no
mundo. Isso tem alimentado um sentimento antissistema que tem sido capturado
pela direita. O PT precisa entender o descrédito da política e ser efetivamente
o partido da mudança. Defendo que a gente levante a bandeira da democracia
direta. Temos nossa experiência com o orçamento participativo, sempre apoiamos
os conselhos populares, mas nos afastamos dessas ideias. Infelizmente, temos
prefeituras comandadas pelo PT que não implementam mais o orçamento participativo.
O embate do século XXI será democracia contra fascismo. Mas, para a classe
trabalhadora valorizar a democracia, ela tem de se identificar no seu
cotidiano, senão vira um valor abstrato. Os trabalhadores e trabalhadoras só
vão defender o que é real nas suas vidas. Também temos de levantar a bandeira
de uma reforma político-eleitoral e o voto em lista. O que caracteriza o
fascismo? O culto à personalidade, o expansionismo e a não aceitação do outro.
Se não defendermos o fortalecimento da democracia por meio do fortalecimento
dos partidos, teremos cada vez mais influencers ocupando os espaços.
Popularidade do governo
O presidente Lula assumiu em 2023 com o País
literalmente quebrado. Eram 375 bilhões de reais de rombo, boa parte utilizada
na maior operação de compra de votos do ponto de vista institucional já vista
no Brasil. O presidente foi obrigado, inclusive, a refazer as relações
institucionais, após o desarranjo absurdo durante o governo Bolsonaro. Em 2024,
o governo reestruturou as políticas públicas. Além de voltar com o Minha Casa,
Minha Vida e com o PAC, e fazer um debate sério sobre o Bolsa Família, que precisa
ter uma porta de entrada e uma porta de saída, o presidente lançou o
Pé-de-Meia, um programa fundamental para a manutenção na escola do estudante
vindo de famílias vulneráveis, pois não haverá um país de igualdade de
oportunidades se não for pela educação, e o crédito ao trabalhador, que tenta
melhorar o endividamento das famílias. O governo finaliza um plano para
melhorar as residências precárias e estuda um programa para os
motoentregadores, a maior categoria profissional do Brasil, hoje. Tem muita coisa
para entregar e não tenho dúvida de que as medidas vão levar a uma melhora na
avaliação. Mas só faremos um enfrentamento correto da polarização vigente se
voltarmos a conversar com uma parte do eleitorado que não votou em nós em 2022.
Por isso, precisamos discutir um novo modelo. Queremos uma sociedade que
reconheça a urgência climática, um sistema de produção de riqueza sem degradar
o meio ambiente. Uma sociedade com política de segurança pública amparada no
uso de tecnologia e não no conceito da política que mata. O PT precisa
ser um partido que não só dialogue com as novas temáticas do século XXI, mas
que também toque o coração do eleitorado.
Eleições 2026
A reeleição do presidente Lula tem de estar
no centro da ação do PT no próximo ano. Precisamos dar continuidade ao processo
de reconstrução do Brasil, não podemos voltar ao que vivemos durante o governo
Bolsonaro, derrotar as expressões do fascismo no País, atualmente alojadas em
diferentes partidos. Temos de criar um amplo campo democrático, para que a
gente consiga reeleger o presidente Lula. É fundamental para a história
brasileira. •
Publicado na edição n° 1366 de CartaCapital, em 18 de junho de 2025.
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