Folha de S. Paulo
Ex-presidente está conformado com a prisão e,
aconselhado por Temer, tenta punição mais branda
A certa altura do depoimento de Bolsonaro ao STF, Alexandre
de Moraes perguntou: "O senhor está dizendo que a cogitação, a
conversa, o início dessa questão de estado de sítio e estado de defesa teria
sido em virtude da impossibilidade de recurso eleitoral, é isso?".
"Sim, senhor", respondeu o capitão, prejudicando sua defesa e admitindo ter cometido o crime de que é acusado, tramar um golpe após a derrota para Lula, pois em contexto legal as medidas citadas não se justificam. Não houve fraude nas eleições. Como o próprio Bolsonaro de novo reconheceu, usando uma linguagem que seus apoiadores não terão dificuldade de entender: "Tivemos que entubar o resultado".
As duas frases, curtas e diretas, confirmam
as investigações da PF e a denúncia da PGR. O objetivo da movimentação, em
dezembro de 2022, dentro e fora do Palácio do Planalto, com participação dos
principais auxiliares do ex-presidente, quase todos militares, era acutilar a
democracia.
Aconselhado por Michel Temer, um Bolsonaro
diferente se sentou no banco dos réus. Apesar das piadas sem graça, ele parecia
sufocado e submisso, respondendo como se fosse um recruta repreendido pelo
superior hierárquico e capaz de atos de sincericídio, como chamar seus
seguidores de "malucos". Um personagem de novela que muda de rumo.
Diante da mais que provável condenação, era
também um Bolsonaro realista, conformado com a cadeia e inaugurando a
estratégia de minimizar os danos. Sem atalhos para a absolvição, vai preparando
o terreno para uma decisão mais branda, pena menor e prisão domiciliar e, ao
mesmo tempo, buscando um novo plano, com a reunião de documentos que
comprovariam práticas abusivas do Supremo. Pintar o ministro Alexandre como se
fosse um juiz no estilo Sergio Moro.
O ocaso de Bolsonaro –não do bolsonarismo–
deve precipitar a aliança da direita em torno de um candidato de consenso às
eleições presidenciais de 2026. Dois postulantes, Ronaldo Caiado e Romeu Zema,
já afagam o golpe de 1964 e garantem indulto ao ex-presidente.
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