sábado, 14 de junho de 2025

Submissão esconde estratégia – Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Ex-presidente está conformado com a prisão e, aconselhado por Temer, tenta punição mais branda

A certa altura do depoimento de Bolsonaro ao STFAlexandre de Moraes perguntou: "O senhor está dizendo que a cogitação, a conversa, o início dessa questão de estado de sítio e estado de defesa teria sido em virtude da impossibilidade de recurso eleitoral, é isso?".

"Sim, senhor", respondeu o capitão, prejudicando sua defesa e admitindo ter cometido o crime de que é acusado, tramar um golpe após a derrota para Lula, pois em contexto legal as medidas citadas não se justificam. Não houve fraude nas eleições. Como o próprio Bolsonaro de novo reconheceu, usando uma linguagem que seus apoiadores não terão dificuldade de entender: "Tivemos que entubar o resultado".

As duas frases, curtas e diretas, confirmam as investigações da PF e a denúncia da PGR. O objetivo da movimentação, em dezembro de 2022, dentro e fora do Palácio do Planalto, com participação dos principais auxiliares do ex-presidente, quase todos militares, era acutilar a democracia.

Aconselhado por Michel Temer, um Bolsonaro diferente se sentou no banco dos réus. Apesar das piadas sem graça, ele parecia sufocado e submisso, respondendo como se fosse um recruta repreendido pelo superior hierárquico e capaz de atos de sincericídio, como chamar seus seguidores de "malucos". Um personagem de novela que muda de rumo.

Diante da mais que provável condenação, era também um Bolsonaro realista, conformado com a cadeia e inaugurando a estratégia de minimizar os danos. Sem atalhos para a absolvição, vai preparando o terreno para uma decisão mais branda, pena menor e prisão domiciliar e, ao mesmo tempo, buscando um novo plano, com a reunião de documentos que comprovariam práticas abusivas do Supremo. Pintar o ministro Alexandre como se fosse um juiz no estilo Sergio Moro.

O ocaso de Bolsonaro –não do bolsonarismo– deve precipitar a aliança da direita em torno de um candidato de consenso às eleições presidenciais de 2026. Dois postulantes, Ronaldo Caiado e Romeu Zema, já afagam o golpe de 1964 e garantem indulto ao ex-presidente.

 

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