domingo, 25 de maio de 2025

Viver não é aprender? - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Pix, INSS e IOF: governo tropeça em siglas, posts e versões, oposição faz a festa

Vivendo e aprendendo, mas o governo parece não aprender nunca. Depois da crise do Pix, tão recente, a do IOF também começa com ministros batendo cabeça, evolui com o desprezo aos setores atingidos, explode com um anúncio mal planejado e executado e acaba num recuo vexaminoso, com a oposição soltando fogos, rojões e disparos certeiros nas redes sociais. O Congresso, claro, entra na festa.

A prova cabal da patacoada é o post comunicando o recuo ao distinto público já perto da meia noite, horas depois do anúncio. Em poucas linhas, gastas com números de artigos e parágrafos, sem explicar nada, o governo conseguiu piorar o que começou ruim e já estava péssimo àquela altura. A peça de gênio era absolutamente incompreensível para quem é da área financeira, imaginem para pobres mortais? A primeira reação foi de espanto e dúvidas. Cancelaram tudo? Não vai ter mais aumento de IOF? Ninguém sabia responder e o ministro Fernando Haddad tentou apagar a fogueira com pingos d’água, explicando, daqui e dali, que não era “tudo”, a mudança atingia um único ponto do pacote. Haddad, aliás, estava voando, ou melhor, no avião para São Paulo, enquanto Rui Costa, seu maior adversário interno, presidia uma reunião de emergência. Por volta das 8h do dia seguinte, antes da abertura do mercado e de um previsível desastre na Bolsa, Haddad reunia a imprensa para explicar o que mudava, justificar que havia recebido “subsídios” do setor financeiro e minimizar o recuo: afinal, o total do pacote seria de R$ 54 bilhões, entre contingenciamento de gastos e aumento de IOF, e o impacto da alteração será só de R$ 2 bilhões.

Não foram “subsídios”, porém. Quem é do ramo corrige: “a reação foi forte, o mercado ficou estarrecido e perplexo com a maior taxação do capital, do investimento, do câmbio e do crédito”. E mais: classificou como “lambança” usar imposto regulatório para alavancar arrecadação.

Além disso, a mudança envolver dois, dez ou vinte bilhões é coisa para entendidos. O que conta é a guerra de narrativas na internet, na qual o governo sempre entra derrotado, e a consequente percepção da sociedade.

Quando Haddad falou, já tinha viralizado que o governo não dá uma dentro, vive de recuo em recuo, todos brigam com todos e a comunicação é uma lástima.

Pior: o link com as crises do Pix e do INSS. Nas redes, o mesmo governo que tentou morder a renda dos pobres com o PIX e abrigou o roubo de aposentados e pensionistas agora se volta contra a classe média, investidores e por aí vai. E Haddad sempre negou aumento de impostos, mas o que é o IOF? Imposto sobre Operações Financeiras. Nikolas Ferreira “rides again”.

 

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