Bem que a presidente Dilma tentou promover uma grande guinada na economia, até de forma audaciosa, quando resolveu baixar os juros a fórceps e estimular ainda mais a demanda por produtos e serviços de parte da população
Correio Braziliense
As coisas não vão muito bem para a presidente Dilma Rousseff, que luta para manter sua candidatura no PT e se reeleger ao cargo. O caminho para isso está sendo mais árduo e perigoso do que aquele que a levou ao Palácio do Planalto, em 2010, na onda de popularidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando era a todo-poderosa chefe da Casa Civil e o país crescia a 7,5%. Onde foi que Dilma errou? À primeira vista, seu maior problema era a condução política da relação com o Congresso e os aliados, porém, bem ou mal manteve a sua base de apoio e, até aqui, tem uma ampla coalizão política engajada na reeleição. Tudo indica que o seu maior erro foi de condução da política econômica.
Esse debate ganha força. Além do choque de interpretações entre os economistas neoliberais, social-liberais e desenvolvimentistas, que recrudesceu, instalou-se uma disputa política entre governo e oposição em torno do tema. Antes a discussão era pautada por forte viés ideológico, devido à maior intervenção do governo nos negócios, raiz do contencioso de Dilma com os grandes empresários do país. Agora, o debate é mais objetivo: a inflação continua alta e os juros estão na lua, atingem o bolso da população e repercutem nas pesquisas de opinião. A política econômica deixou de ser um tema do mundo acadêmico e dos meios empresariais e financeiros para ganhar centralidade política na disputa eleitoral.
Fracasso da mudança
Bem que a presidente Dilma tentou promover uma guinada na economia, até de forma audaciosa, quando resolveu baixar os juros a fórceps e estimular ainda mais a demanda por produtos e serviços. Por trás da decisão, estava a ideia de que era preciso não só ampliar o poder de consumo da população, mas consolidar em termos qualitativos a chamada nova classe média — ou seja, o contingente de eleitores com os quais, até as manifestações de junho do ano passado, o Palácio do Planalto contava para reeleger Dilma Rousseff de barbada.
São os 29 milhões de pessoas que entraram para a classe C entre 2003 e 2009, segundo estudos da Fundação Getulio Vargas (FGV), ampliando esse contingente da população para 94,9 milhões, ou seja, 50,5% da população brasileira, com renda média entre R$ 1.126 a R$ 4.854. Até que ponto o inexplicável adiamento do Pnad Contínua para 2015 e toda essa confusão no IBGE pode mascarar o que está acontecendo com essa parcela da população, diante do baixo crescimento e da alta da inflação? Como se sabe, a presidente da instituição, Wasmália Bivar, e mais cinco dos oito membros do conselho do IBGE consideraram que seria arriscado mobilizar o corpo técnico para as divulgações da Pnad Contínua até o fim do ano em vez de concentrar o foco na reformulação metodológica que permita gerar um resultado mais preciso sobre a renda domiciliar per capita nas unidades da Federação.
Mas voltemos ao tema original: Dilma obrigou o Banco Central (BC) a baixar os juros para 7,5%, mexeu no rendimento das cadernetas de poupança, congelou o preço dos combustíveis, reduziu as tarifas de energia, aumentou o controle sobre outras tarifas públicas, expandiu o crédito imobiliário, desonerou automóveis e eletrodomésticos e expandiu o gasto público, tudo para manter a economia crescendo. Algo deu errado, o cobertor ficou curto: o governo começou a mascarar as contas públicas e alguns indicadores; o mercado ficou inseguro e os investidores puxaram o freio de mão. A inflação saiu do controle e o Banco Central (BC), que havia apostado na estratégia, foi obrigado a elevar os juros novamente, que já estão em 11%, ou seja, acima do patamar que Dilma encontrou quando assumiu o cargo, que era de 10,75%. Pelo andar da carruagem, terá que pedir pelo amor de Deus para o BC aumentar os juros mais um pouquinho e segurar a inflação abaixo do teto da meta de 6,5%. Pura ironia!
E a Petrobras, hein?
Não dá pra não falar da Petrobras, que virou caso de polícia. Será que a presidente Dilma Rousseff sabia do que estava para acontecer quando escreveu aquela nota tirando o corpo fora da duvidosa decisão de comprar a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, origem de toda essa crise na empresa? Governo e oposição se digladiam no Supremo Tribunal Federal para decidir se a CPI que vai investigar a empresa terá foco apenas na estatal ou investigará também o cartel dos metrôs e a construção do Porto de Suape. Nos bastidores, diz-se que há 42 parlamentares federais envolvidos no escândalo, que já pôs no pelourinho o deputado petista André Vargas (PR). Esse inquérito estaria em segredo de Justiça.
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