- Folha de S. Paulo
Charles Darwin torna-se cada vez mais atual no conhecimento da aventura humana. Esqueça os postulados reducionistas e racistas que, já na virada do século 19 para o 20, tentaram adaptar achados do naturalista britânico.
É o mecanismo da aleatoriedade, da diversidade e da exposição múltipla aos riscos de um ambiente indômito, imprevisível e mutante que vai se encaixando nas melhores produções das ciências humanas nas últimas décadas. O Nobel ao economista Richard Thaler é um lembrete disso.
Escorre ironia na louvação, da parte da esquerda, aos poderosos disparos de Thaler contra pressupostos ultra-racionalistas de modelos prediletos da economia. A saraivada a que ele se soma atinge também, e no coração, as doutrinas de engenharia social, como o marxismo, que tantos cadáveres e destroços produziram.
Não há "vontade política" capaz de dobrar certas regularidades humanas que nos ajudaram a chegar até aqui. O acaso —não a luta de classes, a genialidade de uns poucos ou qualquer outra engrenagem escondida— é o que movimenta a história.
O sucesso e o fracasso dos agrupamentos humanos são efêmeros, a pensar-se no longo curso do tempo, e reversíveis. Se há algo próximo de uma receita para o progresso, ela está distante dos planos cerebrais que procuram domesticar a complexidade das interações individuais e ambientais a fim de conduzir ao futuro.
O capitalismo, que não foi planejado por ninguém, talvez seja o formato adaptativo mais bem sucedido porque, exercido com razoável grau de liberdade, favorece a diversidade das iniciativas e a exposição a grande espectro de "escolhas" do acaso.
Parte da humanidade, bem sucedida nessa franca abertura ao risco, foi capaz de erigir gigantescos mecanismos de seguro contra os efeitos colaterais da sua opção. Aventurar-se aqui, afinal, é aceitar uma alta cifra de fracassos para um pequeno mas valioso número de sucessos.
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